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Teles e TVs lançam nova onda de serviços
Disputa pelo mercado aumenta oferta de pacotes múltiplos usados por operadoras para fidelizar clientes e compensar perdas
Legislação obsoleta e confusa no Brasil complica quadro que opõe grandes empresas de telefonia a radiodifusores
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A disputa pelo mercado brasileiro de telecomunicações, tido como um dos mais promissores do mundo, criou uma nova onda de serviços. Consumidores vêm sendo bombardeados com as chamadas "ofertas
múltiplas" - pacotes que juntam telefonia fixa, móvel, internet banda larga e TV a cabo.
Complicando o quadro está a
legislação obsoleta e confusa do
Brasil para a área. Para cada um
dos setores, que agora se fundem, há uma legislação específica que muita vezes se choca
com as demais.
"O "Lego" está aí. O assinante
monta como achar mais conveniente", resumiu o presidente
da Sky, Luiz Eduardo Batista,
ao anunciar novos canais para
os assinantes da marca.
Em 2006, o setor de telecomunicações e tecnologia movimentou US$ 3,13 trilhões, segundo a União Internacional
de Telecomunicações (ITU), o
braço da ONU para o setor.
No Brasil, as operadoras de
serviços de telefonia fixa, celular e de TV por assinatura investiram R$ 18 bilhões no ano
passado, visando as novas tecnologias. Ao casar serviços de
transmissão de voz, dados e vídeo, as empresas têm dois objetivos. O primeiro é fazer a compensação financeira entre operações menos e mais rentáveis.
Por exemplo: com o uso cada
vez mais difundido de e-mails,
comunicadores instantâneos
(como o MSN) e de SMS (mensagens de texto via celular), as
pessoas têm diminuído as ligações telefônicas.
Antes disso, os celulares já tinham abocanhado uma fatia
considerável da telefonia, o que
achatou a receita obtida com a
rede fixa. Segundo a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), em janeiro o Brasil tinha 100,7 milhões de usuários de celular.
Outra meta das teles é acabar
com o fantasma da troca de
operadora ("churn"), tornando
o consumidor cativo. O mesmo
acontece entre as operadoras
de TV a cabo, cuja base de clientes aumentou 11% em 2006.
A Net, parceria da Globopar e
da mexicana Telmex, liderou
esse incremento com seu pacote de cabo, telefone e acesso a
internet.
Na disputa pelo mercado dos
serviços múltiplos, os "triple
players" e "quadriplayers", só
há espaço para gigantes. Teles,
TVs a cabo, TVs abertas, radiodifusoras - todas se engalfinham em busca de clientes. Vale tudo, inclusive parcerias estratégicas com operadoras e
empresas de comunicação.
Mas qual é o motivo de tamanho interesse? "Pode ser resumido em uma única palavra:
convergência", explicou o sócio-diretor para Telecomunicações da Accenture, Petronio
Nogueira. "É como um tsunami. Antes de a onda se tornar
visível, é possível senti-la."
Para Nogueira, o cliente sai
beneficiado com os pacotes,
por conta do aumento da competitividade entre os fornecedores. Basta ficar atento as implicações legais e a seus direitos
como consumidor. "É uma salada em que o molho é a tecnologia, que avança mais rápido
que os reguladores", comparou.
Política
O assunto, delicado, opõe teles e radiodifusoras. As primeiras não têm restrição de capital
estrangeiro, dependem apenas
do consumidor e fazem constantes aperfeiçoamentos tecnológicos para atender - e
criar - demandas.
As radiodifusoras (TVs abertas e rádios), por sua vez, só podem ter 30% de seu capital na
mão de sócios internacionais.
Sua receita vem de anunciantes, em boa parte do governo ou
empresas a ele ligadas.
Para piorar ainda mais o quadro, a queda-de-braço chega ao
cenário político. Nas teles há
capital de fundos de pensão ligados a estatais, instituições
tradicionalmente comandadas
por aliados políticos do Executivo, além do próprio Banco do
Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social).
Políticos de vários partidos,
por sua vez, garantem a manutenção da influência sobre o
eleitorado tornando-se donos
de estações de rádio e televisão.
A prática é ilegal, mas bastante comum no país. Levantamento feito pelo professor Venício Lima, da Universidade de
Brasília, mostra que pelo menos um em cada dez deputados
possui radiodifusores. Levando-se em conta o uso de "laranjas", acredita o professor, o número engorda de maneira considerável.
"Vivemos um redesenho do
modelo difícil de entender, mas
os grandes grupos de rádio e TV
vencem a batalha até agora",
disse Lima. Para ele, a exemplo
do que ocorreu na era FHC, as
concessões são usadas pelo governo como moeda de troca.
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