São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

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Teles e TVs lançam nova onda de serviços

Disputa pelo mercado aumenta oferta de pacotes múltiplos usados por operadoras para fidelizar clientes e compensar perdas

Legislação obsoleta e confusa no Brasil complica quadro que opõe grandes empresas de telefonia a radiodifusores

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa pelo mercado brasileiro de telecomunicações, tido como um dos mais promissores do mundo, criou uma nova onda de serviços. Consumidores vêm sendo bombardeados com as chamadas "ofertas múltiplas" - pacotes que juntam telefonia fixa, móvel, internet banda larga e TV a cabo.
Complicando o quadro está a legislação obsoleta e confusa do Brasil para a área. Para cada um dos setores, que agora se fundem, há uma legislação específica que muita vezes se choca com as demais.
"O "Lego" está aí. O assinante monta como achar mais conveniente", resumiu o presidente da Sky, Luiz Eduardo Batista, ao anunciar novos canais para os assinantes da marca.
Em 2006, o setor de telecomunicações e tecnologia movimentou US$ 3,13 trilhões, segundo a União Internacional de Telecomunicações (ITU), o braço da ONU para o setor.
No Brasil, as operadoras de serviços de telefonia fixa, celular e de TV por assinatura investiram R$ 18 bilhões no ano passado, visando as novas tecnologias. Ao casar serviços de transmissão de voz, dados e vídeo, as empresas têm dois objetivos. O primeiro é fazer a compensação financeira entre operações menos e mais rentáveis.
Por exemplo: com o uso cada vez mais difundido de e-mails, comunicadores instantâneos (como o MSN) e de SMS (mensagens de texto via celular), as pessoas têm diminuído as ligações telefônicas.
Antes disso, os celulares já tinham abocanhado uma fatia considerável da telefonia, o que achatou a receita obtida com a rede fixa. Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em janeiro o Brasil tinha 100,7 milhões de usuários de celular.
Outra meta das teles é acabar com o fantasma da troca de operadora ("churn"), tornando o consumidor cativo. O mesmo acontece entre as operadoras de TV a cabo, cuja base de clientes aumentou 11% em 2006.
A Net, parceria da Globopar e da mexicana Telmex, liderou esse incremento com seu pacote de cabo, telefone e acesso a internet.
Na disputa pelo mercado dos serviços múltiplos, os "triple players" e "quadriplayers", só há espaço para gigantes. Teles, TVs a cabo, TVs abertas, radiodifusoras - todas se engalfinham em busca de clientes. Vale tudo, inclusive parcerias estratégicas com operadoras e empresas de comunicação.
Mas qual é o motivo de tamanho interesse? "Pode ser resumido em uma única palavra: convergência", explicou o sócio-diretor para Telecomunicações da Accenture, Petronio Nogueira. "É como um tsunami. Antes de a onda se tornar visível, é possível senti-la."
Para Nogueira, o cliente sai beneficiado com os pacotes, por conta do aumento da competitividade entre os fornecedores. Basta ficar atento as implicações legais e a seus direitos como consumidor. "É uma salada em que o molho é a tecnologia, que avança mais rápido que os reguladores", comparou.

Política
O assunto, delicado, opõe teles e radiodifusoras. As primeiras não têm restrição de capital estrangeiro, dependem apenas do consumidor e fazem constantes aperfeiçoamentos tecnológicos para atender - e criar - demandas.
As radiodifusoras (TVs abertas e rádios), por sua vez, só podem ter 30% de seu capital na mão de sócios internacionais. Sua receita vem de anunciantes, em boa parte do governo ou empresas a ele ligadas.
Para piorar ainda mais o quadro, a queda-de-braço chega ao cenário político. Nas teles há capital de fundos de pensão ligados a estatais, instituições tradicionalmente comandadas por aliados políticos do Executivo, além do próprio Banco do Brasil e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Políticos de vários partidos, por sua vez, garantem a manutenção da influência sobre o eleitorado tornando-se donos de estações de rádio e televisão.
A prática é ilegal, mas bastante comum no país. Levantamento feito pelo professor Venício Lima, da Universidade de Brasília, mostra que pelo menos um em cada dez deputados possui radiodifusores. Levando-se em conta o uso de "laranjas", acredita o professor, o número engorda de maneira considerável.
"Vivemos um redesenho do modelo difícil de entender, mas os grandes grupos de rádio e TV vencem a batalha até agora", disse Lima. Para ele, a exemplo do que ocorreu na era FHC, as concessões são usadas pelo governo como moeda de troca.


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