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Fazenda quer unir licitação de estradas
Medida serviria para reduzir possibilidade de cartel nos sete trechos de concessão que tiveram leilões suspensos por Dilma
Governo quer lançar novo edital ainda neste semestre; Cade dá sugestões em conversa informal com agência de transportes
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após identificar brechas no
modelo de leilão de rodovias federais, o Ministério da Fazenda
vai sugerir que os sete trechos
de concessão sejam licitados
em apenas um edital para reduzir a chance de prática de cartel
por empresas do setor.
A Fazenda começou a participar mais ativamente da questão no final do ano passado.
Técnicos da pasta avaliaram
que o modelo de edital proposto pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres)
continha lacunas para a combinação de preços e divisão do
mercado.
Essas brechas serviram de
principal motivo para a suspensão do leilão das rodovias. O assunto foi tratado apenas nos
bastidores. A ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) surpreendeu até mesmo parte do governo quando anunciou a suspensão das licitações -e assustou o
mercado, que temia viés estatizante na decisão da ministra.
O assunto também não era
novo para Dilma, que enfrentou questões semelhantes em
licitações do setor elétrico durante sua gestão no Ministério
de Minas e Energia.
A partir da suspensão do leilão das rodovias, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva determinou a criação de um grupo
de trabalho interministerial
para discutir o caso. Integram o
grupo membros da Fazenda,
dos Transportes, do Planejamento e da Casa Civil.
As recomendações da Fazenda sobre mudanças no modelo
do edital serão encaminhadas
nesse grupo de trabalho, que se
reuniu pela última vez no dia 1º
de fevereiro. O estudo deve ser
finalizado logo.
Atualmente, o governo estima lançar o edital de concessão
ainda no primeiro semestre,
mas isso ainda dependerá do
aval de Dilma e de Lula.
Sugestão
Uma outra sugestão da equipe do ministro Guido Mantega
(Fazenda) será "confinar" as
empresas habilitadas em um
hotel ou auditório durante a
abertura das propostas. Ambas
as idéias virão acompanhadas
de estudos técnicos demonstrando sua eficácia em elevar a
concorrência entre empresas.
As duas sugestões são vistas
pela Fazenda como medidas
simples para minimizar a chance de cartel. Nesse caso, o governo joga todas as cartas na
atuação preventiva.
Um dos responsáveis pela investigação das infrações à ordem econômica, o Ministério
da Justiça alertou o Planalto
sobre a dificuldade de montar
um processo contra alguma
empreiteira envolvida em irregularidades nas licitações.
Isso se deve a algumas especificidades da construção civil.
As empreiteiras poderiam, por
exemplo, combinar um preço
acima do mercado de algum
dos materiais utilizados, como
cimento e asfalto. E todas essas
empresas apresentariam suas
propostas com esse mesmo valor nos custos.
Um acordo como esse, vedado pela lei antitruste, além de
causar prejuízos aos cofres públicos, dificilmente conseguiria
ser comprovado como sendo de
responsabilidade das concessionárias em uma investigação
de cartel, avaliam técnicos da
Justiça.
Cade
Preocupado com o tema, o
presidente da ANTT, José Guilherme Resende, teve uma conversa informal no ano passado
com Elizabeth Farina, presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Ouviu dela conselhos em hipótese -Farina não poderia se
pronunciar porque havendo investigação de cartel ela será
uma das julgadoras do suposto
caso.
A presidente do Cade sugeriu
que não era recomendável permitir que duas ou mais rodovias de grande procura ficassem nas mãos da mesma empresa, por exemplo. "Foi uma
conversa apenas, o Cade ainda
não tem uma posição oficial a
respeito", ressalvou Farina.
As suspeitas e preocupações
do governo são "excessivas", na
avaliação de Moacyr Duarte,
presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias). "Em 2003,
suspenderam o processo com
argumento semelhante. Essa
preocupação excessiva com
cartel não é razoável", afirmou.
Duarte citou a qualificação
de 80 empresas no ano passado
como sinal de que não há combinação de preços ou divisão de
mercado. "Hoje, há muito mais
liquidez internacional. Se não
houver problemas de regulação
e exigências tarifárias artificiais, haverá um número ainda
maior de empresas", disse.
Na avaliação de Duarte, o governo federal erra por supostamente tratar as rodovias como
obras do setor elétrico. "O número de "players" é bem menor
na área de energia", justificou.
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