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Importados e remessas elevam o déficit
Saldo das transações do país com exterior fica negativo em US$ 4,2 bi em janeiro, maior déficit desde outubro de 1998
BC vê compensação com entrada de investimentos de longo prazo; para economista, país em crescimento deve ter déficit
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aumento das importações
e das remessas de lucros ao exterior fez as contas externas do
Brasil registrarem, no mês passado, o pior resultado em quase
dez anos. Em janeiro, o déficit
na conta de transações correntes -que inclui compra e venda
de bens e serviços com outros
países- foi de US$ 4,232 bilhões, o mais alto desde outubro de 1998.
O resultado já supera o déficit projetado pelo Banco Central para todo o ano de 2008, de
US$ 3,5 bilhões. A situação deve se agravar neste mês, quando o BC espera um saldo negativo de US$ 1,7 bilhão na conta
de transações correntes.
Nos últimos 12 meses, essa
conta acumula um déficit de
US$ 1,169 bilhão. Por esse critério, é a primeira vez desde 2003
que o indicador fica negativo.
"O déficit [de janeiro] ficou
acima das expectativas, basicamente por força de um resultado de comércio [exterior] menor e de um volume maior de
remessas de lucros e dividendos", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
No mês passado, a balança
comercial teve um superávit de
US$ 944 milhões, menos da
metade, por exemplo, dos US$
2,516 bilhões de janeiro de
2007. Já as remessas de lucros
ao exterior somaram US$ 3,025
bilhões, o terceiro valor mais
alto já registrado na série do
BC, que tem início em 1947.
Para Lopes, porém, os resultados negativos deste início de
ano não preocupam porque são
compensados por um grande
ingresso de investimentos estrangeiros. "As fontes de financiamento desse déficit são capitais de longo prazo, o que dá
mais segurança ao balanço de
pagamentos", afirma.
Só em janeiro, o fluxo de investimentos ficou em US$
4,814 bilhões -suficiente, portanto, para financiar todo o déficit em transações correntes.
A conta de transações correntes é composta por balança
comercial (exportações menos
importações), balança de serviços e rendas (pagamento de juros da dívida externa, remessas
de lucros e gastos com viagens
internacionais, entre outros
itens) e transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil
por residentes no exterior, e vice-versa).
Quanto maior o déficit nessa
conta, maior é a necessidade de
financiá-lo com empréstimos e
investimentos estrangeiros.
Logo, em tese, um saldo negativo em transações correntes
deixa o país mais dependente
de capitais internacionais.
Mas há também um lado positivo. A economista-chefe do
Banco Fibra, Maristela Ansanelli, diz que a balança comercial tem apresentado saldos
menores porque, entre outros
motivos, o crescimento da economia aumenta a procura por
bens importados. Além disso, o
próprio aumento das remessas
de lucros é um sinal de que as
empresas instaladas no Brasil
estão se beneficiando com a recuperação da atividade. "O déficit [em transações correntes]
está aumentando, mas é por
motivos bons", afirma.
O economista Fabio Kanczuk, professor da Universidade
de São Paulo, diz que é normal
um país emergente apresentar
saldos negativos em conta corrente. "País em crescimento é
para ter déficit. Faz parte do jogo, não tem nada de terrível
nisso", afirma.
Para Kanczuk, o que o maior
déficit externo pode provocar,
no curto prazo, é uma alta do
dólar. "No curto prazo, pode
haver uma desvalorização do
câmbio, o que levaria a mais inflação. Mas isso pode ser controlado com mudanças na taxa
de juros", diz.
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