São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Importados e remessas elevam o déficit

Saldo das transações do país com exterior fica negativo em US$ 4,2 bi em janeiro, maior déficit desde outubro de 1998

BC vê compensação com entrada de investimentos de longo prazo; para economista, país em crescimento deve ter déficit

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento das importações e das remessas de lucros ao exterior fez as contas externas do Brasil registrarem, no mês passado, o pior resultado em quase dez anos. Em janeiro, o déficit na conta de transações correntes -que inclui compra e venda de bens e serviços com outros países- foi de US$ 4,232 bilhões, o mais alto desde outubro de 1998.
O resultado já supera o déficit projetado pelo Banco Central para todo o ano de 2008, de US$ 3,5 bilhões. A situação deve se agravar neste mês, quando o BC espera um saldo negativo de US$ 1,7 bilhão na conta de transações correntes.
Nos últimos 12 meses, essa conta acumula um déficit de US$ 1,169 bilhão. Por esse critério, é a primeira vez desde 2003 que o indicador fica negativo.
"O déficit [de janeiro] ficou acima das expectativas, basicamente por força de um resultado de comércio [exterior] menor e de um volume maior de remessas de lucros e dividendos", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
No mês passado, a balança comercial teve um superávit de US$ 944 milhões, menos da metade, por exemplo, dos US$ 2,516 bilhões de janeiro de 2007. Já as remessas de lucros ao exterior somaram US$ 3,025 bilhões, o terceiro valor mais alto já registrado na série do BC, que tem início em 1947.
Para Lopes, porém, os resultados negativos deste início de ano não preocupam porque são compensados por um grande ingresso de investimentos estrangeiros. "As fontes de financiamento desse déficit são capitais de longo prazo, o que dá mais segurança ao balanço de pagamentos", afirma.
Só em janeiro, o fluxo de investimentos ficou em US$ 4,814 bilhões -suficiente, portanto, para financiar todo o déficit em transações correntes.
A conta de transações correntes é composta por balança comercial (exportações menos importações), balança de serviços e rendas (pagamento de juros da dívida externa, remessas de lucros e gastos com viagens internacionais, entre outros itens) e transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior, e vice-versa).
Quanto maior o déficit nessa conta, maior é a necessidade de financiá-lo com empréstimos e investimentos estrangeiros. Logo, em tese, um saldo negativo em transações correntes deixa o país mais dependente de capitais internacionais.
Mas há também um lado positivo. A economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli, diz que a balança comercial tem apresentado saldos menores porque, entre outros motivos, o crescimento da economia aumenta a procura por bens importados. Além disso, o próprio aumento das remessas de lucros é um sinal de que as empresas instaladas no Brasil estão se beneficiando com a recuperação da atividade. "O déficit [em transações correntes] está aumentando, mas é por motivos bons", afirma.
O economista Fabio Kanczuk, professor da Universidade de São Paulo, diz que é normal um país emergente apresentar saldos negativos em conta corrente. "País em crescimento é para ter déficit. Faz parte do jogo, não tem nada de terrível nisso", afirma.
Para Kanczuk, o que o maior déficit externo pode provocar, no curto prazo, é uma alta do dólar. "No curto prazo, pode haver uma desvalorização do câmbio, o que levaria a mais inflação. Mas isso pode ser controlado com mudanças na taxa de juros", diz.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Benjamin Steinbruch: Não é hora de vacilar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.