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PAC não elimina ameaça de falta de energia, alerta Ipea
Para instituto ligado ao governo, "garantia de abastecimento até 2013 corre sério risco'
Na opinião de especialista, estudo do Ipea superestima a necessidade de energia em relação ao crescimento previsto para o PIB do país
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Estudo divulgado pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao
governo, afirma que os investimentos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não são suficientes para eliminar o risco de insuficiência de energia, mesmo que
as obras não sofram atrasos.
"A garantia de abastecimento até 2013 está correndo sério
risco, tendo em vista o aumento crescente do déficit de geração, particularmente para os
anos de 2010 e 2011, reconhecidos pelo próprio governo enquanto críticos", afirma o estudo, assinado pelos pesquisadores Bolívar Pêgo e Carlos Álvares da Silva Campos Neto.
O PAC do setor elétrico prevê
investimentos em geração e
transmissão de R$ 78,4 bilhões
para o período de 2007 a 2010.
A conclusão do estudo é feita
com base em duas projeções de
cenários. Ambos têm como base uma capacidade instalada de
100.000 MW. A primeira projeção considera os dados do Ministério de Minas e Energia referentes ao balanço do crescimento de oferta e demanda de
energia elétrica até 2011.
Nesse quadro, o país chegaria
a 2010 com uma diferença negativa de 9.300 MW entre o
crescimento da oferta e o da demanda de energia. Em 2011 seria de 13.500 MW. As chuvas só
garantiriam o suprimento do
país até 2008.
"O próprio governo admite
que, se os projetos de gasodutos
e as duas plantas de conversão
de gás natural liquefeito (GNL)
importado não amadurecerem
a tempo, são grandes as incertezas para o biênio 2009 e 2010,
em caso de as chuvas virem
abaixo da média", diz o estudo.
No segundo cenário analisado, consideram-se apenas os
dados constantes do PAC, no
período de 2007 a 2010. A meta
de geração de energia no programa é de 12.386 MW. Isso, segundo o Ipea, não é suficiente
para atender a um crescimento
da demanda de cerca de 6,5%
ao ano no período e representaria uma diferença de menos
13.400 MW entre o crescimento da oferta e da demanda de
energia em 2010.
Na prática, o Ipea conclui
que, com um crescimento da
economia de 5% ao ano, seria
necessário um aumento da
oferta de energia de 6.500
MW/ano ou 26.000 MW em
quatro anos.
Superestimado
Para o professor Nivalde de
Castro, coordenador do Grupo
de Estudos do Setor Elétrico da
UFRJ, o estudo representa
uma contribuição importante,
mas tem um erro que pode distorcer o resultado. "O trabalho
considera que, se o PIB crescer
5%, a demanda de energia crescerá 30% a mais. Não foi o que
aconteceu no ano passado,
quando essa relação foi de 1 para 1. O estudo superestima a necessidade de energia", disse.
O Ipea cita ainda estudo do
Instituto Acende Brasil que indica um risco de racionamento
de 8% em 2010 e de 14% em
2011, quase o triplo do risco
máximo recomendado, de 5%.
O instituto ligado ao governo
recomenda medidas para amenizar o risco de racionamento,
como a contratação de dois a
três navios reconversores de
gás natural liquefeito, o aumento da capacidade das caldeiras de usinas térmicas a bagaço de cana e o cumprimento
do cronograma para entrada
em operação de térmicas a óleo
combustível. Segundo o estudo,
o país continua dependendo de
uma quantidade favorável de
chuva para evitar a falta de
energia a partir de 2009.
Procurado, o ONS (Operador
Nacional do Sistema) afirmou
que não se manifestaria. O Ministério de Minas e Energia
afirmou que não poderia comentar porque não teve acesso
ao estudo.
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