São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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Itaú Unibanco vê futuro incerto no crédito

Banco aumenta as provisões para financiamentos de maior risco por conta da previsão de inadimplência maior no ano

Setubal diz que "spreads" no país são mais altos porque perdas por inadimplência, compulsórios e impostos também são maiores


Henrique Manreza/Folha Imagem
Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, e Silvio de Carvalho (esq.), diretor financeiro do banco, durante entrevista ontem

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Maior conglomerado bancário do país, o Itaú Unibanco trabalha com um futuro "bastante incerto" para a economia brasileira, com crescimento de até 1% para o PIB em 2009, aumento sensível na inadimplência e dificuldade do sistema financeiro para reduzir os "spreads" bancários, a diferença entre o custo de captação do dinheiro para os bancos e a taxa de juros cobrada dos clientes.
Segundo o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, por essas razões ficou mais difícil para o banco manter a expectativa de crescimento de 15% em sua carteira de crédito em 2009, como havia definido em dezembro.
"Eu gostaria de reavaliar os número em razão da situação de hoje. É possível que ainda fique nos 15%: 2009 será um ano mais difícil, com um nível de inadimplência um pouco mais alto, que vai refletir a desaceleração econômica aqui no Brasil. Acredito que, rapidamente, a partir do ano que vem, a gente vai ter uma economia em crescimento novamente", disse.
O banco reconhece que adotou uma política mais seletiva na concessão de novos empréstimos. No ano passado, o crédito cresceu 33,9% no Itaú Unibanco -na economia como um todo a expansão foi de 31%.
"A gente adotou uma política um pouco mais seletiva no crédito, mas sem dúvida a queda na demanda é muito acentuada. Em termos de financiamento de automóvel, tivemos uma queda na demanda de 15% a 20% dependendo do mês. Ela já se recuperou um pouco neste começo de ano", disse Setubal.
Para ele, a inadimplência tem uma crescente elevação em todos os segmentos, sem uma concentração particular em determinados produtos. No Itaú Unibanco, a inadimplência total da carteira fechou o ano passado em 4,8% -0,2 ponto acima do verificado até setembro. Para pessoa física, chegou em 8,1% -0,3 ponto acima de setembro.
Por conta da expectativa de aumento da inadimplência, o Itaú Unibanco elevou as provisões adicionais para créditos duvidosos em R$ 4,7 bilhões no ano passado, totalizando R$ 19,97 bilhões até dezembro -no final de 2007, estavam em R$ 10,91 bilhões.
Para Setubal, os "spreads" até podem ser reduzidos neste ano, dependendo da evolução do cenário doméstico e externo, mas a situação da economia agrava o quadro. "A gente está com "spread" maior em razão desse maior prêmio de risco e das expectativas maiores de inadimplência. [Os "spreads" no Brasil] são muito maiores porque o nível de perda dos bancos por inadimplência também é muito maior do que em qualquer lugar do mundo. Os compulsórios no Brasil são maiores do que em qualquer lugar do mundo. Se olhar os impostos da intermediação financeira no Brasil, também são maiores do que em muitos lugares do mundo. Na hora em que se compõe tudo isso, não poderia esperar outra coisa", disse.
O Itaú Unibanco, no entanto, notou um pequena melhora do quadro nas últimas semanas, porém, em ritmo bastante inferior do que acontecia até setembro do ano passado.
"O crédito voltou. Aliás, no Itaú a gente nunca deixou de operar. Até porque o crescimento da carteira no último trimestre foi de mais de 6%, que é bastante alta. Evidentemente, em um ritmo menor se comparado com o último trimestre do ano anterior. O próprio crescimento da economia faz com que diminua a demanda de crédito, desde capital de giro até para veículos."


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