São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2007

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Câmbio faz Volks mirar mercado interno

Presidente diz que montadora pretende acelerar investimentos e ficar em segundo lugar em vendas no país neste ano

Para Schmall, a pressão do câmbio derruba ganho com custo baixo de produção e, se real ficar mais forte, Volks reduzirá vendas externas

Raimundo Pacco/Folha Imagem
Presidente da Volkswagen no Brasil, o alemão Thomas Schmall


KAREN CAMACHO
DA FOLHA ONLINE

O novo presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, no posto há menos de três meses, disse em sua primeira entrevista após assumir o cargo que a empresa pretende aumentar o faturamento em 7% neste ano e que deve ficar em segundo lugar em vendas, priorizando o mercado interno. A empresa apresenta hoje o Novo Golf, primeiro lançamento na gestão de Schmall.
Após oito anos no vermelho, a empresa fechou 2006 com lucro, em um ano marcado por cortes de pessoal e queda na produção e nas exportações. Agora, a montadora alemã quer acelerar os investimentos, traça estratégias para concorrer com a China e quer lucro substancial ao final de 2007.
Schmall disse que uma empresa como a Volkswagen deve ter o mercado nacional como base para suas vendas, e não a exportação. "Ninguém sabe o que vai acontecer por causa do câmbio. É preciso manter liderança no mercado nacional. Se o câmbio estiver a nosso favor, vamos atender o máximo possível [do mercado externo]." Em 2006 a empresa produziu 627 mil veículos, sendo 440 mil para o mercado interno.
Para ganhar a preferência do consumidor brasileiro, Schmall aposta em qualidade e investimentos em novos veículos. A empresa lança dois modelos em 2008. "É preciso adaptar o carro para o mercado nacional. Carro mundial não existe. Os clientes são diferentes, o ambiente é diferente."
O executivo afirmou que o objetivo da empresa é fechar 2007 em segundo lugar em "market share", subindo uma posição em relação a 2006, mas que retornar à liderança levará mais tempo. "Meu objetivo é deixar a empresa sustentável. Vamos liderar, mas não a curto prazo, para não quebrar a empresa. Como? Com produto, o que falta é produto", afirmou.
Schmall disse que tem três objetivos em sua administração, melhorar os produtos, tornar mais eficiente o processo de produção para garantir bom resultado e fortalecer a equipe.
O plano de investimento da empresa para o Brasil anunciado no ano passado, de R$ 2,5 bilhões até 2011, deve ser acelerado e ter ações antecipadas, mas não deve se encerrar antes de 2011. Schmall não fala em corte de custo ou de pessoal e acha que a administração de seu antecessor, Hans-Christian Maergner, foi importante porque preparou "o terreno para a construção da casa".

Exportação
Schmall disse que a pressão do câmbio, com a valorização do real ante o dólar, derruba a vantagem do custo baixo de produção, entre 20% e 30% em relação à Alemanha, mas que o carro brasileiro ainda é competitivo e dá lucro na exportação.
Se o câmbio ficar mais forte, porém, a empresa terá de reduzir mais as vendas externas, disse. Em 2006, a Volks exportou 33% da produção. Os principais mercados consumidores da montadora são Alemanha, China e Brasil, nessa ordem.
Sobre a concorrência da China, considerada um "tsunami" pela Anfavea (associação das montadoras), ele afirmou que o país será um dos primeiros em produção de veículos no mundo, mas aposta na criatividade e na inovação dos nacionais para enfrentar os concorrentes.

Sindicato
Schmall disse que vai manter diálogo com o sindicato, que no ano passado travou uma guerra com a empresa após o anúncio de cortes, mas que não há "problema em tomar decisões duras também", a exemplo de seu antecessor, que implementou uma reestruturação que provocou críticas e greves.
O plano incluiu redução de pessoal e de custos e a Volks ameaçou fechar a unidade Anchieta, que tem 12 mil funcionários -o sindicato respondeu com greves. O impasse teve a interferência do governo federal e, após negociação, empresa e sindicato acertaram um plano de demissão voluntária que resultou no corte de 1.113 funcionários na Anchieta.

Perfil
Schmall, 43, é alemão, formado em administração e economia e está na empresa desde 1991. Casado com uma brasileira, morou no país de 1999 a 2003, quando dirigiu a unidade da Volks no Paraná.
Com um perfil mais despojado do que o de seu antecessor, ele tem um cuco na sala e cobra "multa" de R$ 30 dos executivos que se atrasam para as reuniões agendadas, denunciado pelo toque do relógio. "Quem manda é o cuco", brinca.


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