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entrevista
Múlti diz que incerteza sobre tarifa a afastou
DA REPORTAGEM LOCAL
Vista como a mais agressiva entre as interessadas na
Cesp, a franco-belga Suez/
Tractebel afirma que, mesmo se as concessões da estatal forem renovadas em
2015, poderia acontecer sob
condições de preço "desfavoráveis" aos novos donos da
geradora. "São imposições,
na verdade, desconhecidas",
disse Maurício Bärh, presidente da Suez no Brasil. A
Suez nega ter articulado a
desistência das interessadas
para forçar queda no preço
mínimo da Cesp, mas admite
articulação com elas.
(TONI SCIARRETTA)
FOLHA - Por que a Suez desistiu
do leilão da Cesp?
MAURÍCIO BÄRH - A razão pela
qual o negócio não ficou em
pé, basicamente, é a incerteza da renovação das concessões a partir de 2015. 67% da
energia assegurada da Cesp
-ou seja, da sua capacidade
de produzir receita- tinha o
risco de desaparecer. Ou, se
fosse renovada, seria de uma
maneira que a gente não consegue estimar.
Depois da nota do ministro [de Minas e Energia] Edison Lobão, ficou claro que o
governo tem uma visão de
que é possível [renovar as
concessões], mas as condições podem vir com o viés de
modicidade tarifária [menor
preço possível] -o que já está explícito no documento-
e que levaria a energia da
Cesp a ser vendida a preços
controlados.
FOLHA - As condições poderiam
ser desfavoráveis?
BÄRH - Elas são, na verdade,
desconhecidas. É difícil planejar e fazer projeção do fluxo de caixa de uma companhia que tem um horizonte
tão curto, de sete anos. Um
investidor como a Suez tem
visão de muito longo prazo,
um horizonte de 30 anos.
FOLHA - Com um preço mais
baixo, poderia tomar esse risco?
BÄRH - Preço na verdade é
uma conseqüência das condições do negócio. Obviamente que o preço adotado
pelo governo incluía a certeza das renovações, que na
verdade não existiam.
FOLHA - Um parcelamento poderia facilitar a venda da Cesp?
BÄRH - Não acredito que
parcelar faria diferença.
FOLHA - O governador José Serra disse que a crise nos mercados
dificultou o financiamento. A
Suez teve dificuldade para financiar a compra da Cesp?
BÄRH - A questão do financiamento era uma necessidade de qualquer um dos interessados. Se você fosse banco, financiaria a aquisição
por dez anos e daqui a sete
anos vence a concessão? A
falta de crédito está associada ao mercado internacional
e à situação regulatória.
FOLHA - A Suez mantém interesse na Cesp se as ações forem
pulverizadas na Bolsa?
BÄRH - A gente tem interesse na Cesp. Faz todo o sentido para a expansão da nossa
companhia, que tem uma visão de que energia hidrelétrica renovável é um diferencial
do Brasil. É um ativo que o
país tem e que precisa ser
bem cuidado. A gente vai
continuar olhando a possibilidade, mas obviamente com
responsabilidade. Não vamos tomar nenhuma decisão
sem disciplina financeira.
FOLHA - A decisão de não participar foi fechada com a CPFL e os
demais pré-qualificados?
BÄRH - Não, a decisão é exclusivamente nossa. Não
tem a cabeça da CPFL.
FOLHA - Em algum momento
vocês se organizaram para discutir o negócio como um todo?
BÄRH - Não. Em algum momento você acaba tendo [um
contato]. São as especulações, mas sem nada de concreto. No fundo, para confirmar determinadas visões.
Mas isso não representa nenhum tipo de compromisso.
FOLHA - A privatização frustrada trouxe algum ganho para as
questões do mercado? Serão
mais discutidas agora?
BÄRH - O setor elétrico passa
por um período de evolução,
está ganhando maturidade.
Trazer essas questões para
serem debatidas e resolvidas
é muito importante. No setor
elétrico, sete anos é curtíssimo prazo, não se constrói
muita coisa nesse período.
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