São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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entrevista

Múlti diz que incerteza sobre tarifa a afastou

DA REPORTAGEM LOCAL

Vista como a mais agressiva entre as interessadas na Cesp, a franco-belga Suez/ Tractebel afirma que, mesmo se as concessões da estatal forem renovadas em 2015, poderia acontecer sob condições de preço "desfavoráveis" aos novos donos da geradora. "São imposições, na verdade, desconhecidas", disse Maurício Bärh, presidente da Suez no Brasil. A Suez nega ter articulado a desistência das interessadas para forçar queda no preço mínimo da Cesp, mas admite articulação com elas. (TONI SCIARRETTA)

 

FOLHA - Por que a Suez desistiu do leilão da Cesp?
MAURÍCIO BÄRH
- A razão pela qual o negócio não ficou em pé, basicamente, é a incerteza da renovação das concessões a partir de 2015. 67% da energia assegurada da Cesp -ou seja, da sua capacidade de produzir receita- tinha o risco de desaparecer. Ou, se fosse renovada, seria de uma maneira que a gente não consegue estimar. Depois da nota do ministro [de Minas e Energia] Edison Lobão, ficou claro que o governo tem uma visão de que é possível [renovar as concessões], mas as condições podem vir com o viés de modicidade tarifária [menor preço possível] -o que já está explícito no documento- e que levaria a energia da Cesp a ser vendida a preços controlados.

FOLHA - As condições poderiam ser desfavoráveis?
BÄRH
- Elas são, na verdade, desconhecidas. É difícil planejar e fazer projeção do fluxo de caixa de uma companhia que tem um horizonte tão curto, de sete anos. Um investidor como a Suez tem visão de muito longo prazo, um horizonte de 30 anos.

FOLHA - Com um preço mais baixo, poderia tomar esse risco?
BÄRH
- Preço na verdade é uma conseqüência das condições do negócio. Obviamente que o preço adotado pelo governo incluía a certeza das renovações, que na verdade não existiam.

FOLHA - Um parcelamento poderia facilitar a venda da Cesp?
BÄRH
- Não acredito que parcelar faria diferença.

FOLHA - O governador José Serra disse que a crise nos mercados dificultou o financiamento. A Suez teve dificuldade para financiar a compra da Cesp?
BÄRH
- A questão do financiamento era uma necessidade de qualquer um dos interessados. Se você fosse banco, financiaria a aquisição por dez anos e daqui a sete anos vence a concessão? A falta de crédito está associada ao mercado internacional e à situação regulatória.

FOLHA - A Suez mantém interesse na Cesp se as ações forem pulverizadas na Bolsa?
BÄRH
- A gente tem interesse na Cesp. Faz todo o sentido para a expansão da nossa companhia, que tem uma visão de que energia hidrelétrica renovável é um diferencial do Brasil. É um ativo que o país tem e que precisa ser bem cuidado. A gente vai continuar olhando a possibilidade, mas obviamente com responsabilidade. Não vamos tomar nenhuma decisão sem disciplina financeira.

FOLHA - A decisão de não participar foi fechada com a CPFL e os demais pré-qualificados?
BÄRH
- Não, a decisão é exclusivamente nossa. Não tem a cabeça da CPFL.

FOLHA - Em algum momento vocês se organizaram para discutir o negócio como um todo?
BÄRH
- Não. Em algum momento você acaba tendo [um contato]. São as especulações, mas sem nada de concreto. No fundo, para confirmar determinadas visões. Mas isso não representa nenhum tipo de compromisso.

FOLHA - A privatização frustrada trouxe algum ganho para as questões do mercado? Serão mais discutidas agora?
BÄRH
- O setor elétrico passa por um período de evolução, está ganhando maturidade. Trazer essas questões para serem debatidas e resolvidas é muito importante. No setor elétrico, sete anos é curtíssimo prazo, não se constrói muita coisa nesse período.


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