São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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Volume de crédito deve chegar a 40% do PIB

Puxado pelo consignado e pelo financiamento de veículos, saldo de empréstimos encerrará ano em nível recorde, segundo o BC

Altamir Lopes, do BC, diz não ver problema na oferta de empréstimos; Mantega havia acenado com restrições e depois voltou atrás

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oferta de crédito no país deve atingir o maior nível da história neste ano, segundo projeção feita pelo Banco Central. Nas contas do BC, o saldo de empréstimos oferecidos pelos bancos deve encerrar 2008 num valor equivalente a 40% do PIB (Produto Interno Bruto), o que representaria um aumento de 5,3 pontos percentuais em relação ao número de dezembro do ano passado.
A estimativa foi divulgada dias depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter dito estar preocupado com o ritmo de expansão do crédito, que poderia ameaçar o controle da inflação. Coluna publicada no jornal "O Globo" na última sexta-feira afirmou que o ministério adotaria medidas para conter a oferta de empréstimos bancários. Anteontem, Mantega negou essa possibilidade.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou comentar as declarações do ministro da Fazenda, mas disse não ver grandes problemas na maior oferta de empréstimos bancários. "As taxas [de expansão] que estamos observando hoje são bastante confortáveis. O ritmo de crescimento é forte, mas é mais acomodado do que foi em 2007."
No mês passado, segundo dados do BC, o volume de crédito disponível na economia somava R$ 957,6 bilhões, o que correspondia a 34,9% do PIB. No primeiro bimestre deste ano, o aumento na oferta de financiamentos foi de 5,1%.
Esse crescimento tem sido puxado, principalmente, por dois instrumentos: o chamado crédito consignado e o financiamento de veículos. Nos últimos seis anos, o volume de recursos destinado à aquisição de automóveis cresceu 223%, chegando a R$ 83 bilhões no mês passado. O crédito pessoal, impulsionado pelo consignado, registrou aumento de 355% no mesmo período.
Neste começo de ano, porém, a situação se mostra um pouco diferente. O volume de crédito destinado à aquisição de automóveis -apontado por Mantega como uma das modalidades cujo crescimento mais preocupa- teve um aumento de apenas 1,9% nos últimos dois meses, abaixo, portanto, da média geral de 5,1%.
Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário do Ministério da Fazenda, o aumento dos juros bancários neste começo de ano já pode estar tendo o efeito de reduzir a procura por empréstimos.
"É um primeiro sinal de que aquele "boom" de crédito que tivemos até 2007 vai refluir um pouco. Mostra também que talvez não seja necessária [por parte do governo] uma restrição ao crédito", disse Almeida.
Na opinião de Istvan Kasznar, conselheiro econômico da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e professor da FGV-RJ, em vez de tentar limitar o crédito, o governo deveria adotar medidas que estimulem o investimento do setor privado, para que as empresas sejam capazes de atender todo o aumento do consumo sem riscos de pressões inflacionárias.
"Bastam dois anos de crescimento mediano para que a capacidade ociosa [das empresas] caia tanto que já surgem ameaças de reajustes de preços." Para Kasznar, o governo deveria trabalhar a fim de reduzir a carga tributária e baratear o crédito destinado a empresas para evitar uma alta da inflação.


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