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Volume de crédito deve chegar a 40% do PIB
Puxado pelo consignado e pelo financiamento de veículos, saldo de empréstimos encerrará ano em nível recorde, segundo o BC
Altamir Lopes, do BC, diz não ver problema na oferta de empréstimos; Mantega havia acenado com restrições e depois voltou atrás
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A oferta de crédito no país
deve atingir o maior nível da
história neste ano, segundo
projeção feita pelo Banco Central. Nas contas do BC, o saldo
de empréstimos oferecidos pelos bancos deve encerrar 2008
num valor equivalente a 40%
do PIB (Produto Interno Bruto), o que representaria um aumento de 5,3 pontos percentuais em relação ao número de
dezembro do ano passado.
A estimativa foi divulgada
dias depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter dito
estar preocupado com o ritmo
de expansão do crédito, que poderia ameaçar o controle da inflação. Coluna publicada no
jornal "O Globo" na última sexta-feira afirmou que o ministério adotaria medidas para conter a oferta de empréstimos
bancários. Anteontem, Mantega negou essa possibilidade.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou comentar as declarações do ministro da Fazenda,
mas disse não ver grandes problemas na maior oferta de empréstimos bancários. "As taxas
[de expansão] que estamos observando hoje são bastante
confortáveis. O ritmo de crescimento é forte, mas é mais acomodado do que foi em 2007."
No mês passado, segundo dados do BC, o volume de crédito
disponível na economia somava R$ 957,6 bilhões, o que correspondia a 34,9% do PIB. No
primeiro bimestre deste ano, o
aumento na oferta de financiamentos foi de 5,1%.
Esse crescimento tem sido
puxado, principalmente, por
dois instrumentos: o chamado
crédito consignado e o financiamento de veículos. Nos últimos seis anos, o volume de recursos destinado à aquisição de
automóveis cresceu 223%, chegando a R$ 83 bilhões no mês
passado. O crédito pessoal, impulsionado pelo consignado,
registrou aumento de 355% no
mesmo período.
Neste começo de ano, porém,
a situação se mostra um pouco
diferente. O volume de crédito
destinado à aquisição de automóveis -apontado por Mantega como uma das modalidades
cujo crescimento mais preocupa- teve um aumento de apenas 1,9% nos últimos dois meses, abaixo, portanto, da média
geral de 5,1%.
Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário do Ministério da Fazenda, o
aumento dos juros bancários
neste começo de ano já pode estar tendo o efeito de reduzir a
procura por empréstimos.
"É um primeiro sinal de que
aquele "boom" de crédito que tivemos até 2007 vai refluir um
pouco. Mostra também que talvez não seja necessária [por
parte do governo] uma restrição ao crédito", disse Almeida.
Na opinião de Istvan Kasznar, conselheiro econômico da
Acrefi (Associação Nacional
das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e
professor da FGV-RJ, em vez
de tentar limitar o crédito, o governo deveria adotar medidas
que estimulem o investimento
do setor privado, para que as
empresas sejam capazes de
atender todo o aumento do
consumo sem riscos de pressões inflacionárias.
"Bastam dois anos de crescimento mediano para que a capacidade ociosa [das empresas]
caia tanto que já surgem ameaças de reajustes de preços." Para Kasznar, o governo deveria
trabalhar a fim de reduzir a carga tributária e baratear o crédito destinado a empresas para
evitar uma alta da inflação.
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