|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PACOTE HABITACIONAL
Ambicioso, plano tem limitações
Iniciativa do governo Lula tenta atender o "subprime" da política nacional de moradia, mas enfrenta riscos
Implantação precisará evitar riscos como a burocracia
e o clientelismo e deverá ter impacto restrito na redução do déficit habitacional
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao menos no papel, o pacote
de Lula é a iniciativa habitacional mais ambiciosa já lançada
para a população de renda até
três salários mínimos, que
compõe uma espécie de "subprime" da política nacional de
moradia. O livre mercado nunca conseguiu proporcionar casas a pessoas sem renda suficiente para arcar com um financiamento bancário. Nos Estados Unidos, a mais alta tecnologia financeira foi posta a serviço desse objetivo, e o fracasso
das operações impulsionou a
presente crise global.
No "subprime" brasileiro, é o
Estado quem historicamente
arca com as tarefas, em proporções mais radicais agora. Essa
alternativa elimina o perigo de
hecatombe econômica, mas o
histórico de fracassos desde o
extinto BNH (Banco Nacional
da Habitação) evidencia os riscos de clientelismo político, burocracia, gestão deficiente,
obras paradas e casas vazias.
No último programa comparável, o governo Fernando Collor anunciou com estardalhaço,
em 1990, a promessa de construir em caráter emergencial
245 mil casas populares em 180
dias, para a população com renda até cinco salários mínimos,
por meio de -como no pacote
de 19 anos depois- financiamentos às empreiteiras com
recursos do FGTS.
Previsivelmente, as metas
não foram cumpridas: a construção de 210 mil casas levou 18
meses, sob críticas aos critérios
para a destinação dos recursos
e às dificuldades de comercialização. Com desemprego em alta, houve inadimplência; os recursos do fundo se esgotaram e
as operações não tiveram continuidade.
Nos anos seguintes, foi amadurecido o diagnóstico de que
essa camada da população
-majoritária, aliás- precisava
de subsídios mais explícitos do
governo, ou, em outras palavras, dinheiro a fundo perdido.
Um programa criado no governo FHC começou a repassar
dinheiro a Estados e municípios para atender as regiões
mais miseráveis, sem a exigência de contrapartida dos beneficiários. Mas, em meio a frequentes crises financeiras e sucessivos cortes de investimentos federais, o dinheiro para as
obras foi modesto.
Dos tucanos a Lula, o FGTS
se manteve como principal fonte de recursos para a habitação
popular. Não se trata, porém,
de dinheiro público a ser usado
livremente como subsídio: os
recursos são dos trabalhadores
com carteira assinada e precisam render TR (Taxa Referencial) mais 3% ao ano.
No pacote de Lula, fica o uso
do FGTS como fonte de recursos para a construção de casas,
mas se evita o risco de inadimplência dos mutuários tanto
para o fundo como para as
construtoras -porque o risco,
bem como a maior parte dos
custos, é todo do Tesouro.
Caberá também ao Estado
definir quantas casas serão
construídas, onde, quando e
por quais empresas; até os mutuários serão escolhidos em cadastros do poder público. Mesmo que tudo seja bem conduzido, é improvável que tenha sido
achada a solução para o "subprime" nacional: a esse custo,
dificilmente se poderá ir além
das 400 mil casas já prometidas, pouco diante do déficit habitacional e até para um efeito
eleitoral mais que retórico.
Texto Anterior: Com subsídio, casa de R$ 40 mil pode sair por R$ 6.000 Próximo Texto: Frase Índice
|