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Governo protege calçado e indústria têxtil
Tarifa de importação para os setores será elevada para 35%, a máxima permitida, contra os 20% cobrados atualmente
Medida ocorre após intenso lobby, que culpa real forte e concorrência "desleal" chinesa pela perda de mercado e demissões
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A forte concorrência com os
produtos chineses levou o governo a aumentar, pela primeira vez nos últimos seis anos, a
Tarifa Externa Comum (TEC)
de dois produtos para 35%, o
nível máximo de imposto de
importação que o Mercosul está autorizado a aplicar, segundo
as regras da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
O aumento afeta as importações de calçados e confecções,
cerca de 315 itens, cuja tarifa
média atualmente é de 20%.
Desde 2000, apenas os automóveis importados pagam a
TEC máxima para entrar no
Mercosul.
A medida visa dar alento aos
dois setores que mais têm reclamado da concorrência chinesa e de perdas com a alta cotação do real, que encarece seus
produtos no exterior, derrubando suas exportações. Calçadistas e a indústria têxtil afirmam que vêm demitindo milhares de pessoas por causa
desses fatores.
A elevação dessas tarifas pode afetar as negociação para a
liberalização mundial de comércio, a Rodada Doha da
OMC. O Brasil vem sofrendo
pressões para baixar tarifas de
importação de produtos industrializados em troca de maior
acesso ao mercado agrícola.
"Concorrência desleal"
O governo afirma que o objetivo da medida é proteger os setores, que julga competitivos,
da "concorrência desleal" de
produtos que entram no Brasil
com preços subfaturados. A decisão foi tomada ontem em reunião da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e ainda terá
que ser ratificada pelos demais
membros do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai). A Venezuela não opina nesse caso
porque ainda não aderiu à TEC.
Apesar da elevação da tarifa,
o ministro Guido Mantega (Fazenda) defendeu a redução do
nível de proteção do Brasil e a
liberdade comercial ao deixar a
reunião da Camex.
Para ele, a medida anunciada
ontem era necessária porque os
setores são intensivos em mão-de-obra. Disse ainda que haverá outras, que ele não especificou, além da fiscalização de
fraudes de preços.
"Em havendo a percepção de
que há uma concorrência desleal, temos de proteger a indústria nacional. Principalmente
no caso de têxteis e confecções,
há entrada volumosa de produtos estrangeiros, alguns com
preços subfaturados. Então temos de criar alguma barreira de
modo que o produtor brasileiro
possa sobrevier", afirmou o ministro.
Em 2004, entraram no Brasil
6.319 toneladas de sapatos e
10.929 toneladas de confecções. No ano passado, as importações de calçados chegaram a
45.644 toneladas e as de confecções, a 60.063 toneladas. O
Ministério do Desenvolvimento não especificou quanto desse
volume veio da China, mas afirma que se trata da grande
maioria.
A Camex elevou a tarifa apenas de confecções e de vestuário, não de tecidos, cuja tarifa
média continua em 20%, o que
significa que as indústrias de
confecção vão continuar a ter
acesso a matéria-prima mais
barata. No entanto, a medida
terá impacto para o consumidor final, já que a concorrência
vai diminuir, o que tende a aumentar os preços.
Para o secretário-geral da
Camex, Mário Mugnaini, a ferramenta mais adequada para lidar com subfaturamento de
preços é o antidumping. Ou seja, a adoção de tarifas extras
proporcionais ao dumping
-quando o exportador está
vendendo sua mercadoria no
mercado de destino a um preço
menor do que vende em seu
mercado.
No entanto, para comprovar
a prática de dumping, é preciso
abrir uma investigação que pode levar até um ano. Por isso, a
elevação da tarifa foi a maneira
mais rápida que o governo encontrou de ajudar a indústria,
segundo Mugnaini.
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