São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Para Wall Street, BC está sem opções

DE WASHINGTON

Na última sexta-feira, era disseminada em Wall Street a sensação de que se esgotaram os instrumentos à disposição do Banco Central do Brasil para rolar a dívida do governo federal atrelada à variação do dólar.
Na opinião de analistas e estrategistas de investimento de corretoras e grandes bancos, o sinal desse esgotamento foi o leilão de títulos cambiais realizado para satisfazer o apetite dos investidores por títulos com prazo curtíssimo e com proteção ampla.
Analistas comentavam que, ao estabelecer o resgate desses papéis em 20 de novembro deste ano, o governo inaugurou um novo tipo de título, o papel "com proteção eleitoral" ou "papel de fim de governo", com vencimento ainda no mandato de FHC.
Esses papéis, segundo eles, seriam retratos fidedignos de um momento difícil para o BC. Um momento para o qual restaria apenas uma solução quanto à rolagem da dívida mobiliária: a emissão de títulos cada vez mais curtos, com prêmios altos e garantias amplas.
A não ser que haja uma mudança nos quadro econômico ou eleitoral no Brasil, os investidores dizem que não vão colocar em carteira papéis que devem ser pagos pelo próximo governo.
Além disso, lembram que já mostraram ao governo um apetite reduzido com relação às modalidades de rolagem ofertadas nos últimos quatro meses, como mostra uma simples cronologia.
Primeiro, o governo tentou rolar a dívida em dólar por meio da oferta de contratos de swaps (trocas) cambiais conjugados a títulos pós-fixados. Decepcionado, o governo descobriu que havia demanda pelo swap cambial, mas não pelos títulos pós-fixados. Diante desse desinteresse, o Banco Central anunciou e realizou em maio o primeiro leilão de contrato de swap cambial solteiro, desvinculado da venda de LFT.
Um desses swaps tinha prazo mais curto do que todos os utilizados para a rolagem da dívida cambial até então - maio de 2003. Mas eram longos comparados às notas ofertadas na sexta-feira, que vencem antes do final do governo FHC, rendem juros reais mais a variação do dólar.
Para alguns analistas, parte importante das dificuldades atuais se originou dos papéis cambiais emitidos pelo governo no ano passado para "irrigar" e dar liquidez ao mercado.
Esses papéis foram essenciais para conter a alta do dólar durante a crise argentina. Mas estão começando a vencer num momento de instabilidade política, em que o apetite dos investidores é pequeno. Haverá uma acúmulo de vencimentos de US$ 16 bilhões desses papéis entre julho e agosto.
(MARCIO AITH)

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