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País que tributa mais está menos exposto à crise, afirma Cepal
Estudo coloca Brasil e Argentina, que têm alta carga tributária, entre os de melhor situação na AL; dependência de exploração de produtos naturais é fator de risco
DE BUENOS AIRES
Por serem líderes regionais
em carga tributária sobre seus
contribuintes, com baixa dependência de recursos naturais, Brasil e Argentina são os
países da América Latina menos expostos à crise mundial
pelo lado fiscal, aponta estudo
da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe, braço da Organização
das Nações Unidas) divulgado
nesta semana.
O trabalho cria um índice para medir o grau de exposição da
arrecadação dos países ante a
crise mundial, baseado em fatores como participação de recursos naturais como fonte de
financiamento, pressão tributária e impostos sobre importações.
Equador, Panamá, México e
Bolívia são os países mais expostos, por reunirem dependência da exploração de produtos naturais, carga tributária
reduzida e alíquotas elevadas
de impostos a importações
(com exceção do México). O
Equador é o mais vulnerável,
com índice de 91 sobre 100
-quanto mais alto o indicador,
maior a vulnerabilidade. A média da região ficou em 49.
Já os países em melhor situação são Brasil (índice 27), Argentina (29), Peru (32) e Nicarágua (33), pelos níveis elevados de tributação em relação ao
PIB (Produto Interno Bruto) e
por não se financiarem mediante exploração de recursos
naturais e taxação a importações. O índice médio dos países
da OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne
as 30 nações mais ricas, ficou
em 14.
Commodities
O fator de maior peso no índice é a dependência das commodities, em razão da queda na
demanda e nos preços internacionais. Lideram essa lista a Venezuela, com 50,6% dos recursos totais oriundos da venda de
petróleo, seguida pelo México
(35,4%, petróleo) e pela Bolívia
(34,5%, gás). O Brasil ficou entre os oito países, em 17 analisados, com menos de 1% da receita proveniente de matérias-primas.
Em relação ao peso dos impostos, a Cepal sustenta que os
países de carga tributária mais
elevada -Brasil (36,2% do
PIB), Argentina (29,1%) e Uruguai (24,1%)- demonstram
maior capacidade arrecadatória que países como México,
Guatemala e Paraguai. Com
carga inferior a 10% do Produto
Interno Bruto, esses países,
aponta o estudo, mostram "deficiências arrecadatórias que
são potencializadas em épocas
de crise".
A conclusão da Cepal é que
países com alto índice de receitas não tributárias ou oriundas
de recursos naturais, com baixa
carga tributária, grande abertura comercial e orientados ao
comércio com os Estados Unidos estão mais expostos à crise
mundial em termos tributários
do que aqueles com pressão tributária elevada e maior participação de impostos sobre a renda (quando a arrecadação do
tributo está baseada em empresas, e não em pessoas) e sobre o
consumo.
Contraponto
Para o tributarista argentino
César Litvin, uma carga tributária elevada não implica menor exposição a crises.
"A maior pressão fiscal é apenas metade da história. A outra
metade é o que se faz com o dinheiro", afirma o tributarista.
Litvin diz que, se o gasto público for improdutivo, como o
vê na Argentina dos últimos
seis anos, "não se pode enfrentar uma crise".
(TG)
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