São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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agrofolha

Fusão Perdigão-Sadia preocupa avicultores

Com a criação da Brasil Foods, produtores temem perder poder de barganha, reduzindo ainda mais sua rentabilidade

Menor produção de aves, por causa da crise, e maior tempo com barracões vazios trarão perda de renda e dificuldades aos produtores


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TOLEDO (PR)

As aves estão na rotina diária da família Rekowsky, do distrito de Novo Sobradinho, em Toledo, no oeste do Paraná, a 552 km de Curitiba.
A atividade de Edemar, 48, da mulher, Maria Marlene, 49, e dos filhos Jeferson, 26, e Gustavo,19, é cuidar de pintainhos de um dia até eles completarem 45 dias e se tornarem os frangos que o brasileiro está acostumado comprar, já embalados, nos supermercados.
E os cuidados não são poucos. Cabe aos Rekowsky manterem a temperatura dos barracões de sua granja, onde são alojadas as aves no chamado conforto térmico (em torno de 21C), observar possíveis incidências de doenças, acompanhar a conversão alimentar (relação entre ração gasta e engorda das aves).
Essas são as principais atividades de um produtor integrado, o elo mais frágil da cadeia produtiva de aves no país. Integrados à Sadia, os Rekowsky possuem quatro barracões com capacidade para alojar 60 mil aves no total. Há um ano, no auge das exportações de frango, a atividade era rentável.
Neste ano, atingidos pela crise mundial, a família se mantém na atividade devido aos investimentos feitos. Possui R$ 600 mil em barracões e equipamentos na granja. Mas teme diminuir seu poder de barganha com a Brasil Foods, da incorporação da Sadia pela Perdigão, o que pode piorar ainda mais a rentabilidade da família.
""Hoje, para ficar ruim, tem de melhorar muito. As empresas, na crise, enxugam para sobreviver, mas o produtor paga a conta", diz Edemar.
O produtor afirma que, com a crise, a Sadia diminuiu o número de aves entregues em cada lote (de 15 mil para 13,5 mil nos seus barracões) e ainda alargou o espaço do vazio sanitário, que é um período de tempo em que os barracões ficam vazios -após um lote ser entregue à indústria- e são preparados para receber nova leva de aves.
O espaço sanitário na granja dos Rekowsky era de 12 dias há um ano. Hoje, chega a 28 dias. No final do ano, em vez de entregar seis lotes à Sadia, serão entregues apenas quatro. Isso reflete na perda de renda e dificuldades para o produtor.

Vazio sanitário
Outro pequeno integrado, Eloi Stertz, 48, também de Toledo, engordava 15 mil frangos para a Sadia em 2008. Neste ano, está alojando 13,5 mil.
A maior reclamação de Stertz não é com a diminuição do número de aves, mas com o vazio sanitário que durou 32 dias em vez dos tradicionais 12 dias. ""Se com a Sadia já está difícil, imagina com essa nova empresa, que é muito maior. Será muito mais difícil negociar com ela."
Ainda no distrito de Novo Sobradinho, um outro produtor colocou, há duas semanas, sua propriedade à venda. Ele investiu em barracões e perdeu um lote com salmonela (doença grave em aves), atrasou os financiamentos e se inviabilizou na atividade.
Para combater situações como essa, em 2007, produtores de aves criaram a Aaviopar (Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná). O presidente da entidade, Luiz Ari Bernartt, 60, se diz preocupado com o futuro dos integrados.
Segundo ele, o preço médio pago pela indústria por ave pronta para o abate é de R$ 0,38, para um custo médio de produção de R$ 0,36 para o integrado. ""É uma situação de risco muito grande. Qualquer problema no ciclo da ave se transforma em prejuízo para o produtor", afirma.


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