São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000


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"FINANCIAL TIMES"

Investidor asiático luta por seus direitos

JOE LEAHY
DO "FINANCIAL TIMES"

Quando a seguradora Assurance Lippo Life, principal companhia do Lippo Group, da Indonésia, anunciou em janeiro um ambicioso plano para se transformar em veículo de investimento na Internet, os executivos da empresa estavam eufóricos.
Infelizmente para a Lippo, a festa foi um vexame. Longe de correr para o champanhe, os investidores minoritários se enfureceram, acusando a companhia de abandonar suas lucrativas operações centrais -os seguros- sem consultá-los previamente.
A Lippo rejeita as alegações, mas não está levando em conta a disposição dos investidores asiáticos de lutar por seus direitos.
Esse caso é um exemplo das recentes disputas na região. Investidores pessoais, no passado uma minoria silenciosa, começam a fazer cada vez mais barulho.
Na semana passada, um plano para criar o que seria a maior corretora da região, por meio da fusão das casas Vicker Ballas e GK Goh, de Cingapura, foi torpedeado pelas objeções de um acionista minoritário, o empresário Ong Bong Seng. A Vickers, uma empresa estatal, seria prejudicada na transação, segundo Ong.
As lições da crise financeira asiática, somadas a um aumento na base de acionistas, estão estimulando os investidores minoritários a adotar posições mais francas sobre transações e estruturas acionárias que eles vêem como prejudiciais aos acionistas.O desejo de melhor controle é também parte de uma tendência mundial, de acordo com uma pesquisa da consultoria McKinsey & Co. "Mais de 80% dos investidores dizem que pagariam mais pelas ações de uma empresa bem administrada do que pelas de uma companhia mal supervisionada que oferecesse resultados financeiros semelhantes", diz.
Os padrões asiáticos de controle corporativo variam enormemente. Em alguns países, melhor prestação de contas pelos conselhos é simplesmente um caso de sintonia fina. Em outros, é uma questão de vida ou morte.
Em Cingapura, o conservadorismo dos conselhos e o parco entendimento de suas responsabilidades são os obstáculos a uma melhora nos padrões, diz Hugh Young, da Aberdeen Asset Management.
O desafio é fazer com que os diretores compreendam que a participação em um conselho não é um emprego vitalício. Além disso, é preciso fazê-los entender que devem lealdade a todos os acionistas e não apenas às famílias controladoras.
Mas o sucesso da campanha de Ong contra a fusão entre a Vickers e a GK Goh é um sinal de que as coisas podem estar mudando. Alguns bancos de Cingapura, como o Oversea Chinese Banking Corporation, estão começando a indicar diretores mais jovens e independentes.
Lin Che Wei, diretor de pesquisas da SG Securities Indonesia e um dos principais adversários dos planos da Lippo Life, alega que a reputação medíocre da Indonésia em termos de controle corporativo pode um dia ameaçar a sobrevivência dos mercados financeiros do país.
"Estou tentando encorajar a criação de um ambiente auto-regulável fazendo com que os participantes do mercado sejam mais abertos", disse Lin sobre sua campanha contra a Lippo. "Não quero ver meu setor destruído."
Mas essa é uma batalha ainda muito difícil. Os interesses ocultos são imensos, com muitos dos conglomerados da região ainda sob o domínio das famílias que os fundaram.
O problema não se restringe à Ásia. Muitos grupos estrangeiros na região também estão causando dores de cabeça aos investidores minoritários, segundo Young. Ele menciona o exemplo da American Standard Sanitaryware Thailand. Em 1998, a matriz da empresa em Nova York tentou comprar as participações de seus parceiros tailandeses na joint venture. Os pedidos de avaliação independente não foram atendidos.
Brent Woods, administrador de fundos de investimento que trabalha em San Diego para a Brandes Investment Partners, diz que a luta continuará. "As pessoas estão começando a perceber uma ligação entre o desempenho financeiro e a falta de controle no conselho", afirma.


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