São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000


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Cultura da reclamação cresce entre os chineses

JAMES KYNGE
DO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM

Um tribunal chinês julgará três casos abertos por consumidores chineses contra a Toshiba, um acontecimento que reflete os perigos enfrentados pelas companhias estrangeiras em relação a uma população cada vez mais disposta a recorrer ao Judiciário.
Os processos contra a Toshiba surgem algumas semanas depois que a Justiça condenou grupos estrangeiros a indenizar cidadãos chineses em casos que receberam destaque na mídia.
Um deles envolve um homem que encontrou um inseto em suas batatas fritas. Um segundo, uma mulher que teve de abrir o zíper de sua calça por exigência de seguranças. O terceiro, um homem que bateu na parede de vidro de uma loja de departamentos.
No caso da Toshiba, os queixosos acusam-na de violar seus direitos legais porque a empresa sabia que havia defeitos nos controles de disquetes de alguns de seus computadores, mas não avisou os consumidores.
"Eles querem indenização e querem que a Toshiba do Japão peça desculpas por tratar deslealmente os consumidores chineses", afirma Xu Jiali, do escritório de advocacia L&A, de Pequim, que representa os queixosos.
A empresa concordou este ano em pagar US$ 1,05 bilhão a consumidores dos EUA, em um acordo extrajudicial que pôs fim a um processo sobre o potencial defeito nos drives de disquetes.
Nos jornais da China, tiras humorísticas mostravam executivos da Toshiba bajulando os consumidores norte-americanos e ignorando os chineses. Outros veículos relembraram as humilhações sofridas pelos chineses nas guerras contra o Japão, e lojas de todo o país removeram os produtos da Toshiba das vitrines.
"Foi um marco", disse Jiali. "Agora que a Corte aceitou esse caso, sinalizou de maneira clara às empresas estrangeiras que os tribunais chineses estão dispostos e têm poderes para decidir disputas desse gênero."
O Judiciário chinês, experimentando seus poderes e inundado de processos abertos por consumidores insatisfeitos, tem decretado indenizações consideráveis.
A mulher forçada a abrir o zíper da calça na Watsons, uma farmácia de Xangai, recebeu indenização equivalente a 20 anos de salário de um trabalhador médio. Mais tarde, a indenização foi reduzida pela instância superior.
Marcas importantes, como McDonald's e KFC, são alvos óbvios para os oportunistas. Em Jinan, norte do país, um homem pediu 10 mil yuans de indenização ao McDonald's por ter encontrado penas em uma asa de frango frita.
Uma cultura de litígio por parte dos consumidores é vista como necessária pelo governo, em parte para ajudar a impor melhores padrões aos industriais chineses.
Isso também ajudou a engordar os quadros da advocacia chinesa. O número de advogados na China chega hoje aos 100 mil, contra apenas 212 em 1979.


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