São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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Blindagem do país contra crises aumenta

DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira conseguiu alguma "blindagem" contra choques nos últimos anos. Graças aos superávits fiscal e externo, avaliam economistas, a turbulência política das últimas semanas não terá impactos sobre o desempenho econômico.
A crise, claro, não ajuda. Mas, ressalvam os economistas, em outros períodos ela teria automaticamente levado a turbulências no mercado financeiro, que contaminariam o câmbio e poderiam levar a choques de juros para controlar o nervosismo.
"Hoje nós temos uma maior imunidade a crises internas e externas", afirma Fábio Silveira, da MS Consult.
Investidores e analistas, diz Silveira, "estão de olho" na crise, mas, enquanto a percepção for de que no campo econômico não haverá mudanças, "o mercado continuará apenas olhando".
"É mais fácil enfrentar uma crise com dinheiro em caixa, com um superávit [fiscal] de 4,5% do PIB [Produto Interno Bruto]", avalia Samuel Pessôa, economista do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia).
Mesmo o último choque de juros, dado o novo quadro macroeconômico, teve efeitos mais suaves do que os anteriores. Ele foi, na verdade, o primeiro aperto voluntário levado a cabo pelo governo brasileiro, já que todos os demais foram reações à crises externas e internas.
O penúltimo, que começou em outubro de 2002 e terminou apenas em fevereiro de 2003, elevou a taxa básica de juros de 18% para 26,5%, uma alta de 8,5 pontos percentuais.
Naquele caso, o estresse pré-eleitoral, criado pela incerteza gerada pela virtual vitória do então oposicionista Luis Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais, agitou os mercados, causou desvalorização cambial e contaminação dos preços.
O BC reagiu elevando a taxa de juros, política que continuou depois que a equipe econômica de Lula, comandada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), assumiu.
O resultado daquele aperto foi a relativa estagnação econômica no primeiro ano do governo Lula, quando a economia cresceu só 0,5%, tendo encolhido nos três primeiros meses de governo e ficado praticamente patinando no segundo trimestre.

Aperto menor
Desta vez, o aperto foi menor. Os juros subiram de 16% em agosto do ano passado para 19,75% em maio. Alta foi de 3,75 pontos, um aperto forte, mas não tão grande quanto o anterior. A economia patinou, mas deve ainda crescer modestos 3% neste ano, caso se concretizem as previsões da maioria dos analistas.
Pessôa, do Ibre, projeta crescimento de 2,5% neste ano e mais 3,5% em 2006. Caso ele esteja correto, o Brasil terá crescido, sob Lula, 2,8% ao ano em média. Taxa modesta, diz ele, ainda que um pouco superior aos 2,2% em média do período em que governou o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).


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