São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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ECONOMIA GLOBAL

Em 2006, dívida externa em circulação de países como Rússia, Brasil e China será menor que sua receita com exportações

Emergentes financiarão ricos, diz agência

PAIVI MUNTER
DO "FINANCIAL TIMES"

Os países de mercado emergente estão a ponto de se tornar credores, em termos líquidos, no sistema financeiro mundial pela primeira vez desde que essa categoria de ativos foi criada, segundo dados da agência de classificação de crédito Fitch Ratings.
A dívida externa em circulação desses países -muitos dos quais grandes exportadores de petróleo e commodities- será menor que suas receitas com exportação.
Esse marco histórico de crédito, que deve ser atingido no ano que vem, coincide com um déficit recorde em conta corrente nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo.
A Fitch diz que os bancos centrais de China, Índia, Rússia, Brasil, Coréia do Sul e Malásia, entre outros, aumentaram em US$ 100 bilhões suas reservas cambiais no primeiro trimestre do ano.
O termo "mercados emergentes" foi cunhado nos anos 80 para descrever os países em transição econômica, muitos dos quais tinham dívidas elevadas e dependiam pesadamente de captação no exterior.
Philip Poole, diretor de pesquisa de mercados emergentes do HSBC, disse que "a transferência de riqueza foi alimentada em parte pelos preços do petróleo, que nunca estiveram tão elevados".
Os países de mercado emergente tinham de pagar ágio em seus empréstimos, mas agora a melhora dos fundamentos em suas dívidas está alimentando uma convergência de crédito com relação às economias desenvolvidas, disse Poole.
"A distinção entre um mercado desenvolvido e um mercado emergente começa a desaparecer", afirmou.

Recompensa
O ágio dos papéis de mercados emergentes com relação aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos caiu abaixo dos quatro pontos percentuais neste ano. Ingrid Iversen, diretora da Insight Investment, grupo de administração de ativos, disse que a melhora dos fundamentos dos mercados emergentes e a queda na emissão de papéis de dívida soberana haviam beneficiado os detentores de títulos, que viram o preço de seus papéis subir, com a queda dos rendimentos.
A melhora do crédito dos mercados emergentes vem sendo recompensada por uma série de melhoras na classificação de créditos. Muitos dos países agora têm seus títulos classificados com "grau de investimento", e a Fitch tem perspectiva positiva sobre 13 deles, contra apenas três com perspectivas negativas.
No entanto, alguns países, como Brasil, Turquia e Hungria, continuam muito dependentes de captação de recursos no exterior.
David Riley, diretor-executivo da Fitch, disse que a inversão de papéis, na qual países mais pobres financiam déficits de algumas das maiores economias do mundo, pode ter conseqüências imprevisíveis quando os desequilíbrios começarem a se resolver.
Ele afirmou que "isso pode alimentar uma acentuada depreciação no dólar dos Estados Unidos, o que alimentaria a inflação e forçaria à alta nas taxas de juros. Caso isso aconteça, o apetite mundial por investimento de risco cairia e os países devedores com dívidas mais elevadas teriam alta acentuada no custo de captação".


Tradução de Paulo Migliacci

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