São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Alimentos pressionam preços em junho

Produtos têm aumento de 2,3%; reajustes neste mês também atingiram itens de higiene pessoal e os serviços pessoais

Aumentos fazem BC elevar de 4,6% para 6% a projeção para a inflação anual pelo IPCA; meta é de 4,5%, com margem de dois pontos

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

Os preços dos alimentos dispararam 2,3% neste mês e fizeram o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), espécie de prévia do índice usado pelo governo federal como meta de inflação, chegar a 0,90% no mês -bem acima do 0,56% registrado em maio.
De janeiro a junho, os alimentos subiram 8,62% e levaram o IPCA-15 a 3,67%, contra 2,18% no primeiro semestre de 2007. Nos últimos 12 meses, a alta é de 5,89% -acompanhando a tendência inflacionária mundial provocada pela elevação dos preços dos alimentos e pela escalada do barril de petróleo.
Essa pressão fez ontem o Banco Central elevar de 4,6% para 6% a projeção para a inflação anual medida pelo IPCA. A meta é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Além dos alimentos, os especialistas observam que a pressão dos reajustes começa a atingir outros setores.
"O que me surpreendeu foram as altas de higiene pessoal e serviços pessoais [1,26% e 1,24%, respectivamente]. Isso mostra que estamos sob efeito duplo: aumento de custos no plano internacional e demanda interna aquecida", diz Jian Barbosa, economista da consultoria Tendências.
Os produtos não-alimentícios subiram 0,5% neste mês, contra 0,36% no mês anterior. As maiores altas foram registradas nos itens serviços bancários (3,47%), gás de botijão (1,49%) e artigos de higiene pessoal. No primeiro semestre, a alta desse grupo de preços -que inclui transportes, roupas e educação, entre outros- chegou a 2,31%.
"O índice veio assustador, ninguém imaginava que viesse tão forte. E ainda esperamos alguma pressão sobre os alimentos nos próximos meses. É o caso da carne e do trigo, que refletem aqui o aumento de preços que ocorre no exterior. Com isso, já não descartaria que a inflação superasse o teto da meta no fim do ano [que é de 6,5%, pelo IPCA]", disse Sérgio Valle, economista da consultoria MB Associados.

Arroz em alta
O aumento dos preços dos alimentos foi generalizado neste mês: o arroz subiu 17%; batata, 16,7%; tomate, 8,60%; macarrão, 4,89%; e pão francês, 3,43%.
A refeição consumida fora do domicílio teve reajustes médios de 1,55% no mês e de 7,41% no primeiro semestre. Foi a maior contribuição individual para a elevação do IPCA-15 nos primeiros seis meses do ano, representando 0,28 ponto percentual do índice de 3,67%.
Em seguida, veio o pãozinho francês: alta de 21% no primeiro semestre e contribuição de 0,23 ponto percentual na taxa. Com isso, o grupo alimentação e bebidas, com 1,87 ponto, foi o responsável por cerca de metade da inflação registrada pelo IPCA-15 no semestre.
O que preocupa os analistas é que, em maio, os alimentos já haviam pressionado bastante o IPCA-15, com alta de 1,26%. Mas, neste mês, o impacto foi ainda maior: só o aumento de 5,35% do item carnes representou 0,11 ponto do índice.
E essa pressão deve continuar, segundo Barbosa. "O ritmo de aumento do preço do boi começou a aumentar, aqui e lá fora, por causa do crescimento da demanda. E a oferta deve permanecer restrita."


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