São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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OMC convoca reunião para "salvar" Rodada Doha ainda neste ano

Ministerial será em Genebra, no dia 21; Brasil e Uruguai concordam com fórmula proposta, mas a Argentina não

Com a fórmula, o Mercosul pode proteger até 14% das linhas tarifárias dos cortes de tarifas de importação aplicados a outros produtos

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, convocou ontem uma esperada reunião ministerial para o dia 21 de julho, em Genebra, no que pode ser a última chance de destravar as negociações da Rodada Doha ainda neste ano.
O Mercosul irá à reunião dividido. A Argentina não concorda com a fórmula proposta pela OMC -e aceita pelo Brasil- para calcular flexibilidades para as indústrias de uniões aduaneiras. A fórmula, que usa como base o valor do comércio exterior do Brasil, permitiria ao Mercosul proteger até 14% de suas linhas tarifárias dos cortes de tarifas de importação aplicados a outros produtos.
A Folha apurou que, na reunião com embaixadores ontem na sede da OMC, Lamy testemunhou a discordância entre Brasil e Argentina em relação ao encontro de ministros do dia 21. Depois que o negociador indiano manifestou insatisfação com vários pontos da proposta industrial, o subsecretário de Assuntos Comerciais argentino, Nestor Stancanelli, aproveitou para dizer que também considerava a discussão sobre o Mercosul aberta.
O embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney retrucou que o Itamaraty aceitava a proposta e que o problema era da Argentina, não do Mercosul. Foi apoiado pelo Uruguai.
A idéia de realizar um encontro de ministros enquanto ainda persistem divergências significativas entre os negociadores, sobretudo na área industrial, é considerada arriscada por muitos. Mas Lamy concluiu que adiar uma reunião de alto nível representaria um risco ainda maior, deixando pouco tempo para que uma decisão fosse tomada pela atual administração americana, que deixa a Casa Branca em janeiro.

Chance acima de 50%
Segundo um negociador presente às discussões de ontem, Lamy calculou que as chances de sucesso do encontro de julho são "maiores do que 50%". Trinta ministros dos principais países negociadores se reunirão durante três dias, em busca de um acordo sobre a abertura de mercados nos setores agrícola, industrial e de serviços.
Lançadas em Doha em 2001, as negociações na OMC para a redução das barreiras ao comércio mundial tinham como meta a obtenção de um acordo até 2004. Mas o impasse entre países ricos e emergentes nas questões relacionadas aos subsídios agrícolas e às tarifas industriais jamais foi superado. Agora, sofre a ameaça do calendário político.
Com a sucessão americana, os negociadores temem ter que esperar até o fim do primeiro semestre de 2009 para que a equipe de comércio do novo presidente retome o processo. A incerteza política aumenta devido às eleições nacionais na Índia, em maio, e para o Parlamento Europeu, em junho. Além disso, a rejeição da Irlanda ao Tratado de Lisboa tornou tenso o ambiente na UE.
Na semana passada, durante a cúpula do Conselho Europeu em Bruxelas, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, atribuiu o "não" irlandês às concessões agrícolas feitas pela União Européia na OMC. Disse ainda que considerava impossível um acordo na Rodada Doha sem o Tratado de Lisboa.
De passagem ontem por Genebra, o chefe de Relações Exteriores da UE, Javier Solana, minimizou a controvérsia e ressaltou a importância de um acordo na OMC. "Doha é a medida mais importante para a redução da pobreza. Se conseguirmos uma acordo, será uma notícia fantástica para o mundo em desenvolvimento."


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