São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Inadimplência atinge recorde, aponta BC

No caso das empresas, índice de atraso no pagamento de dívidas dobrou em relação a setembro, quando se agravou a crise

Para pessoas físicas, nível em maio chegou a 8,6% dos financiamentos, o mais alto desde o início da série estatística, iniciada em 1994


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar das várias medidas tomadas pelo governo nos últimos meses, o funcionamento do mercado de crédito no Brasil ainda não conseguiu retomar a normalidade do período que antecedeu o agravamento da crise financeira. A situação é um pouco melhor nas operações com pessoas físicas, mas no caso das empresas ainda predomina uma tendência de alta da inadimplência e juros mais elevados.
Em maio, segundo dados do Banco Central, o atraso superior a 90 dias nos pagamentos de financiamentos para pessoas jurídicas subiu pelo sexto mês seguido e chegou a 3,2% do volume de crédito destinado a esse segmento. Trata-se do nível mais alto observado pelo BC desde maio de 2001. Em setembro do ano passado, início da fase mais aguda da crise, essa proporção era de 1,6%.
Entre pessoas físicas também houve alta, mas, como antes da crise a inadimplência nesses empréstimos já era mais elevada, o aumento recente foi menos pronunciado. Depois de dois meses estável em 8,4%, o nível de atrasos chegou a 8,6% dos financiamentos no mês passado, nível mais alto desde o início da série estatística do BC, em julho de 1994.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que esse movimento reflete a queda na oferta de crédito provocada pela crise. Segundo ele, tanto empresas como pessoas físicas passaram a encontrar dificuldades para refinanciar suas dívidas nos últimos meses, e, sem conseguir rolar seus compromissos e sem dinheiro para quitá-los, acabaram inadimplentes. "Com a restauração das linhas de crédito, a expectativa é que a inadimplência volte a cair", diz.
Para José Luiz Rossi, professor do Insper (antigo Ibmec-SP), a queda no nível de atividade -com seus impactos negativos no nível na renda da população e no faturamento das empresas- é determinante para o aumento na inadimplência. Ele ressalta, porém, que a situação não chega a ser muito preocupante. "Ainda é um nível baixo [de inadimplência] se compararmos com a experiência internacional. Em alguns países isso passa de 10%."

Crédito
Os números do BC mostram que, especialmente para empresas, a oferta de crédito ainda é limitada. Em maio, o volume de empréstimos direcionados a pessoas jurídicas caiu pelo segundo mês seguido e chegou a R$ 383,2 bilhões -valor que não considera os chamados financiamentos direcionados, em que os juros cobrados são controlados pelo governo, como nas linhas do BNDES.
A redução é explicada, em parte, pela recente queda do dólar, já que algumas modalidades -como o financiamento à exportação- são corrigidas pela moeda dos EUA. Mesmo se considerados apenas os empréstimos em reais concedidos a empresas, o saldo de maio representava um aumento de apenas 1,8% no ano. No mesmo período, os financiamentos a pessoas físicas cresceram 6,4%.
Para Rossi, a queda no volume de crédito reflete não só o maior conservadorismo dos bancos na liberação de novos empréstimos mas também a cautela das próprias companhias na hora de aumentar seu endividamento. "Num cenário de maior incerteza, muitas empresas decidiram adiar planos e evitar novas dívidas", diz Rossi.


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