São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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ANÁLISE

Crédito às empresas ainda está travado

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados sobre a evolução do crédito em maio confirmaram a continuidade das tendências presentes desde o início do ano: a concessão de empréstimos às pessoas físicas se manteve em gradual recuperação, enquanto as operações com as empresas seguiram escassas.
A melhora do crédito às pessoas físicas tem várias causas, ligadas tanto à demanda como às condições de oferta. Pelo lado da demanda, é evidente que as medidas de estímulo ao consumo, como as reduções de impostos sobre automóveis, eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção, estão ajudando a trazer os consumidores de volta às lojas -e, portanto, ao crediário. Além disso, a confiança dos consumidores tem mostrado progressiva recuperação, o que tende a aumentar a sua disposição para assumir dívidas.
A FGV divulgou, também ontem, que o seu Índice de Confiança do Consumidor teve de maio para junho sua quarta alta mensal consecutiva. Essa evolução da confiança está associada ao fato de que, depois de aumentar subitamente no final de 2008, o desemprego tem dado mostras de estabilização. De abril para maio, a taxa de desocupação nas maiores regiões metropolitanas novamente se manteve estável (tanto segundo o IBGE como no levantamento feito pela metodologia Seade/Dieese).

Estímulo da Selic
Já a oferta de crédito às pessoas físicas parece reagir a estímulos como a redução da taxa Selic, que diminui o custo de captação de recursos pelos bancos, e à acomodação do nível de inadimplência, que modera o grau de risco incorrido ao fechar esse tipo de operação. No caso do crédito às empresas, a demanda já esteve mais contida. A forte queima de estoques que a indústria promoveu na virada do ano visou justamente reduzir sua necessidade de tomar empréstimos, numa conjuntura em que o acesso às linhas se tornava muito mais difícil. A gradual elevação da produção, a partir do nível baixo alcançado no final de 2008, tende a se traduzir em maior necessidade de financiamento, mas a oferta ainda não está respondendo adequadamente.
Uma das dificuldades principais reside na evolução da inadimplência nos empréstimos às empresas. Até maio, ela não parou de subir. O risco de não receber mantém alta a seletividade dos bancos e realimenta sua relutância em reduzir os juros cobrados nos empréstimos às empresas. A criação de fundos garantidores, que deem mais segurança aos bancos de que seus empréstimos serão pagos, já tarda.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.



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