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ANÁLISE
Crédito às empresas ainda está travado
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os dados sobre a evolução do
crédito em maio confirmaram
a continuidade das tendências
presentes desde o início do ano:
a concessão de empréstimos às
pessoas físicas se manteve em
gradual recuperação, enquanto
as operações com as empresas
seguiram escassas.
A melhora do crédito às pessoas físicas tem várias causas,
ligadas tanto à demanda como
às condições de oferta. Pelo lado da demanda, é evidente que
as medidas de estímulo ao consumo, como as reduções de impostos sobre automóveis, eletrodomésticos da linha branca
e materiais de construção, estão ajudando a trazer os consumidores de volta às lojas -e,
portanto, ao crediário.
Além disso, a confiança dos
consumidores tem mostrado
progressiva recuperação, o que
tende a aumentar a sua disposição para assumir dívidas.
A FGV divulgou, também ontem, que o seu Índice de Confiança do Consumidor teve de
maio para junho sua quarta alta
mensal consecutiva. Essa evolução da confiança está associada ao fato de que, depois de aumentar subitamente no final de
2008, o desemprego tem dado
mostras de estabilização.
De abril para maio, a taxa de
desocupação nas maiores regiões metropolitanas novamente se manteve estável (tanto segundo o IBGE como no levantamento feito pela metodologia Seade/Dieese).
Estímulo da Selic
Já a oferta de crédito às pessoas físicas parece reagir a estímulos como a redução da taxa
Selic, que diminui o custo de
captação de recursos pelos
bancos, e à acomodação do nível de inadimplência, que modera o grau de risco incorrido
ao fechar esse tipo de operação.
No caso do crédito às empresas, a demanda já esteve mais
contida. A forte queima de estoques que a indústria promoveu na virada do ano visou justamente reduzir sua necessidade de tomar empréstimos, numa conjuntura em que o acesso
às linhas se tornava muito mais
difícil. A gradual elevação da
produção, a partir do nível baixo alcançado no final de 2008,
tende a se traduzir em maior
necessidade de financiamento,
mas a oferta ainda não está respondendo adequadamente.
Uma das dificuldades principais reside na evolução da inadimplência nos empréstimos
às empresas. Até maio, ela não
parou de subir. O risco de não
receber mantém alta a seletividade dos bancos e realimenta
sua relutância em reduzir os juros cobrados nos empréstimos
às empresas. A criação de fundos garantidores, que deem
mais segurança aos bancos de
que seus empréstimos serão
pagos, já tarda.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
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