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Governo tem 1º maio com déficit em 10 anos
Gastos públicos aumentam, e Tesouro Nacional reconhece que contas no vermelho podem se repetir em outros meses
Mesmo assim, Ministério
da Fazenda avalia que meta de economizar 2,5% do PIB para pagar juros da dívida pública pode ser cumprida
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As contas do governo federal
fecharam ligeiramente no vermelho no mês passado, em
R$ 120 milhões. Foi a primeira
vez em dez anos que o governo
gastou mais do que arrecadou
em maio. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, admitiu
que o déficit pode voltar a se repetir em outros meses.
"Se estamos trabalhando
com uma meta menor, ao longo
do ano vai haver alguns meses
de déficit primário. Isso poderá
ocorrer sem nenhum problema
e não interfere no cumprimento de meta", afirmou Augustin.
Com base em dados ainda
não fechados, a Folha antecipou anteontem a possibilidade
desse déficit.
Por causa da crise, que reduziu a arrecadação, o governo
cortou a meta de superávit primário (economia para pagar os
juros da dívida) no início do
ano. O alvo passou de 3,8% para 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para todo o setor público. Para o governo federal, a
nova meta é de 1,4% do PIB.
Com o déficit de maio, o superávit primário dos cinco primeiros meses do ano somou
R$ 19,82 bilhões, o equivalente
a 1,63% do PIB estimado pelo
governo para o período.
Apesar da queda de arrecadação, o governo aumentou as
despesas neste ano. Enquanto
a receita líquida caiu apenas
0,18% de janeiro a maio, as despesas cresceram 18,6%, para
R$ 215 bilhões.
Em maio, a situação foi inversa. A arrecadação líquida foi
18,8% menor que em abril, mês
em que a receita foi inflada pelo pagamento da primeira cota
do Imposto de Renda de pessoa
física. A despesa aumentou
apenas 0,18%, o que não impediu que as contas fechassem
com resultado negativo.
Expectativa frustrada
O discurso do governo é que
tanto a queda na receita quanto
o aumento das despesas são
controlados e fazem parte de
uma estratégia para estimular a
economia. Em seguida, Augustin admitiu que a arrecadação
do mês passado foi menor do
que a esperada e culpou a crise
econômica.
Ele destacou o aumento de
24,8% dos investimentos neste
ano, para R$ 9,2 bilhões.
Os gastos com o PPI (Projeto
Piloto de Investimento) aumentaram 29%, para R$ 2,9 bilhões. Esses são os projetos
prioritários de infraestrutura
que podem ser abatidos do superávit primário.
O professor de finanças do
Ibmec-RJ Gilberto Braga concorda que a meta foi reduzida
exatamente para permitir que
as contas fechem no vermelho
em alguns meses sem comprometer o resultado no fim do
ano. O especialista alerta, porém, para o aumento dos gastos
do governo, principalmente
com o funcionalismo.
"A qualidade dos gastos é
preocupante. Não se discute a
despesa com políticas para recuperar a economia. Mas o aumento da folha de pessoal é
ruim. Parece uma estratégia,
em ano pré-eleitoral, de reforçar a base de apoio do governo
no funcionalismo", diz.
Os gastos com o pagamento
de servidores cresceram 22,6%
nos cinco primeiros meses deste ano e somaram R$ 60,78 bilhões. Essa é a segunda maior
despesa pública, atrás apenas
do pagamento de benefícios da
Previdência Social.
As despesas de custeio (para
manter a máquina pública em
funcionamento e com programas sociais) aumentaram
21,9%, para R$ 57,93 bilhões.
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