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Brasil ameaça elevar tarifas contra onda protecionista
Segundo Amorim, pacotes de socorro em países ricos afetam comércio global
Apesar de concordarem em reunião do G20 em evitar o protecionismo, países ricos usam planos de estímulo para proteger indústria local
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O Brasil advertiu ontem que
poderá elevar tarifas de importação em resposta ao protecionismo contido nos pacotes de
estímulo aplicados por vários
países desenvolvidos. Somados, a estimativa é que eles já
ultrapassem US$ 1 trilhão.
Em uma reunião sobre comércio em Paris, o ministro
Celso Amorim afirmou que os
planos de socorro a setores como o automotivo e o financeiro
poderão desencadear uma onda de protecionismo.
A OMC (Organização Mundial do Comércio) vai divulgar
em breve seu terceiro informe
sobre o protecionismo, que deve incluir novos indícios de que
as atitudes defensivas se alastram pelo mundo, apesar do
compromisso assumido pelos
países do G20 de evitá-las.
O Brasil tem mostrado preocupação com instrumentos
usados para salvar empregos e
empresas no mundo desenvolvido que, embora não incluam
aumentos de tarifas ou outras
medidas que violem as regras
da OMC, embutem elementos
claros de protecionismo.
O caso mais gritante é a cláusula "Buy American" do pacote
de US$ 787 bilhões apresentado pelos EUA. Ela exige das empresas socorridas o uso de matéria-prima americana, como
aço, ferro e manufaturados.
"Não houve muitos aumentos de tarifa. Os pacotes de resgate multibilionários, porém,
inevitavelmente têm impacto
no comércio e no investimento", disse Amorim em reunião
na OCDE, que reúne 30 das
maiores economias do mundo.
O ministro lembrou que países em desenvolvimento não
têm os mesmos recursos para
enfrentar essa "competição artificial", mas contam com ampla margem para elevar tarifas.
Amorim indicou que essa possibilidade está aberta, mas foi
cauteloso: "Esperamos não ter
que usar". Em várias intervenções na OMC neste ano, o Brasil bateu na tecla de que protecionismo no comércio não é só
a alta de tarifas mas também as
ações de governos para favorecerem empresas nacionais.
"O protecionismo é uma
doença perversamente contagiosa, que é transmitida dos ricos para os pobres", disse Amorim na OCDE. Em seguida, o
ministro participou de uma
reunião ministerial sobre a Rodada Doha de abertura comercial, a primeira desde o colapso
das negociações, há um ano.]
Embora o Brasil tenha se
mostrado aberto à proposta
americana de mudar a dinâmica do processo com a abertura
de diálogos bilaterais, um negociador disse que ainda falta clareza na posição do governo
Obama sobre Doha.
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