São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Recorde, abertura de capital da VisaNet levanta R$ 8,4 bi

Processo, o maior do mundo no ano, supera o da OGX e ainda pode chegar a R$ 9,7 bi; estreia de ações na Bolsa será na segunda

Oferta foi marcada pela exclusão de 23 corretoras, o que limitou o acesso de até 50 mil pequenos investidores, segundo projeção do mercado


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à crise financeira, a VisaNet conclui ontem a maior operação de abertura de capital na Bolsa já feita no país. A empresa levantou ao menos R$ 8,397 bilhões com a venda de suas ações ao mercado. Até então, a maior operação havia sido da OGX Petróleo, do empresário Eike Batista, que obteve R$ 6,711 bilhões há um ano.
Maior IPO (oferta inicial de ações) em curso neste ano no mundo, a captação da VisaNet pode chegar a até R$ 9,673 bilhões se os controladores venderem também os lotes suplementares, o que é comum nessas operações. Segundo a consultoria Dealogic, é o 14º maior IPO no mundo desde 2006.
Diferentemente da maioria das aberturas de capital, quando a empresa usa os recursos para investir no negócio, todo o dinheiro levantado vai para os controladores, os bancos Bradesco (com 39,3% do capital), Banco do Brasil (31,63%) e Santander (14,87%), que ainda continuarão na empresa.
Com a forte procura de investidores nacionais e estrangeiros, as ações foram vendidas por R$ 15 cada uma, o teto previsto. A expectativa é que os estrangeiros tenham ficado com até 80% das ações.
Os investidores de varejo ficaram com pelo menos 10%. Não foi divulgado se houve rateio, como aconteceu nas operações da BM&F e da Bovespa.
Maior processadora de cartões do Brasil, a VisaNet detém a exclusividade da bandeira Visa, a mais aceita, para o credenciamento de estabelecimentos comerciais. A empresa tem 46,8% do mercado, que girou R$ 375,4 bilhões em 2008.
A Visa International, que também abriu seu capital no ano passado, tinha 10% da VisaNet, participação vendida no processo de IPO.
No ano passado, a VisaNet teve de abortar sua ideia de abrir o capital por conta da crise. Após 64 aberturas de capital em 2007, a Bolsa só teve quatro operações em 2008.
Com o sucesso da operação da VisaNet, o mercado espera uma retomada dos processos de IPO no país. No momento, nenhuma empresa tem pedido de registro de companhia aberta em análise na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
As ações da VisaNet devem estrear na Bolsa na próxima segunda-feira.

Varejo frustrado
O IPO da VisaNet foi marcado pela exclusão de 23 das 79 corretoras intermediadoras da operação, o que reduziu em pelo menos 50 mil o número de investidores pessoa física interessados em participar, segundo estimativas do mercado.
Os pedidos feitos nessas corretoras foram cancelados.
As corretoras foram excluídas pelo Bradesco BBI, coordenador da oferta, por suposta propaganda irregular. O banco temia que a CVM pudesse suspender todo o processo porque algumas corretoras enviaram e-mails a clientes e divulgaram a operação sem passar pelo crivo da autarquia. Diante da frustração de uma parcela do varejo, o BBI decidiu ampliar em mais um dia o prazo final para o investidor pessoa física procurar outra corretora ou aderir a um fundo de investimento.
O problema com as corretoras reacendeu o debate sobre a comunicação no mercado. Segundo Guilherme Benchimol, diretor-geral da XP Investimentos, sua corretora foi descredenciada por ter enviado um e-mail alertando sobre datas e procedimentos da reserva.
O e-mail, no entanto, foi interpretado como publicidade sem passar pela CVM, o que teria motivado o descredenciamento da XP. A corretora contra-argumentou dizendo que se tratava apenas de um alerta e citou várias outras concorrentes que teriam feito o mesmo.
Pensando em um potencial dano à operação, o Bradesco BBI decidiu então por descredenciar outras 19 corretoras no último dia de reserva, implicando o cancelamento dos pedidos da clientela. "A sensação é que demos um tapinha e levamos um tiro de escopeta", disse Benchimol. O Bradesco não quis comentar o assunto.


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