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Ofensiva do governo pode mudar o setor
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Existe um bode na sala onde
se desenrola a maior abertura
de capital da Bolsa de Valores
de São Paulo.
Enquanto a VisaNet prepara
sua oferta pública de ações
(IPO, na sigla em inglês), estimada em até R$ 9,6 bilhões, o
governo estuda uma profunda
reformulação da indústria de
cartões de pagamento, da qual a
companhia é líder.
Ao final da reformulação pretendida pelo governo, o modelo
de negócios da VisaNet poderá
mudar radicalmente. Na hipótese mais suave, seus ganhos
cairiam porque a empresa teria
de compartilhar com competidores os terminais de lojas, cujos aluguéis correspondem a
16% de sua receita total.
Também é muito provável
que a companhia seja obrigada
a abrir mão da exclusividade
que mantém com a bandeira
Visa, benefício que nenhuma
empresa detém em outros mercados relevantes no mundo.
Na hipótese mais radical, o
governo poderia até obrigar a
VisaNet a fazer uma cisão. A
empresa teria de vender os negócios de captura e liquidação,
ficando apenas com o credenciamento de lojistas.
Além do prospecto
O objetivo do governo é impedir a concentração do mercado nas mãos de apenas duas
empresas -a VisaNet e a Redecard, que, juntas, são responsáveis por 90% dos cartões ativos
no país (de crédito e de débito).
Segundo estudo conjunto divulgado em abril pelo Banco
Central, pela Secretaria de Direito Econômico (do Ministério da Justiça) e pela Secretaria
de Acompanhamento Econômico (da Fazenda), as duas empresas impedem a entrada de
novos participantes e não repassam seus ganhos de escala
para os consumidores.
O estudo está em consulta
pública até a próxima terça-feira. "Após essa data vamos decidir como proceder", disse ontem, em seminário realizado
em São Paulo, Ana Paula Martinez, diretora da SDE.
Na prática, com a consulta
pública de três meses definida
pelo governo, VisaNet e Redecard ganharam tempo para
promover, espontaneamente,
um clima de competitividade
no setor de cartões.
Em audiência no Senado na
última terça-feira, o diretor da
Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e
Serviço (Abecs), Marcelo de
Araújo Noronha, pediu que
eventuais alterações sejam graduais. "A implantação das mudanças que vierem a ser aprovadas deve ser gradual para evitar pecados cometidos em propostas anteriores", disse ele.
No entanto, o prazo para a
consulta pública aberto pela
SDE, pelo BC e pela Seae também permite que o setor de cartões se arme juridicamente
contra uma provável investigação por formação de cartel e
abuso do poder econômico.
Nesse período, testemunhas
valiosas podem ser convencidas a não falar, e provas importantes podem se dissipar. Normalmente, quando existem indícios, um processo investigatório é simplesmente aberto
pela SDE, que se beneficia do
fator surpresa.
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