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MERCOSUL
Cavallo sugere papel central ao real
Fraga defende
moeda única
a longo prazo
DENISE CHRISPIM MARIN
enviada especial ao Rio
ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, afirmou ver "com
bons olhos, a longo prazo, a criação de uma moeda única no Mercosul" e a harmonização da política fiscal no bloco.
As declarações de Fraga foram
feitas depois que o economista Domingo Cavallo, candidato à sucessão presidencial e ex-ministro da
Economia na Argentina, defendeu
que o real venha a ser a unidade
monetária central no processo de
criação de uma moeda comum no
Mercosul.
No momento em que Cavallo
disse isso, Fraga levantou a pequena bandeira brasileira que estava à
sua frente.
Ambos participavam do seminário "A América Latina Pós-Crise
Brasileira", organizado pela Fundação Getúlio Vargas.
"Vejo o processo com otimismo.
No meio tempo, vamos aprender
com os nossos avós europeus e
com a lição deixada pelo padrão-ouro", declarou Fraga.
No curto prazo, disse Fraga, há
pelo menos dois entraves. O primeiro está na necessidade de "buscar uma integração mais ampla". A
outra dificuldade é a incompatibilidade entre os objetivos na área
monetária e cambial dos principais sócios do Mercosul.
"O Brasil não se interessa em
adotar o dólar, nem a Argentina
tem a intenção de adotar o real",
afirmou, referindo-se às declarações do presidente argentino, Carlos Menem, sobre a possibilidade
de dolarização da economia local.
Cavallo criticou a possibilidade
de dolarização na Argentina e
acrescentou a necessidade de a
moeda comum do Mercosul ser
"conversível".
"Esperamos que o Brasil seja como a Alemanha e que o real seja
como o marco alemão", afirmou
Cavallo, referindo-se à importância do Banco Central germânico e
de sua moeda no processo de adoção do euro, a unidade monetária
da União Européia.
Para o ex-ministro, a conversibilidade da moeda não significa que
a política cambial deva ser fixa, como é a combinação atual da Argentina. "Ser conversível quer dizer ter qualidade, ter capacidade
de gerar taxas de juros mais baixas", explicou.
Armínio Fraga ressaltou que o
Brasil vive o "grande desafio de recuperar a noção de âncora para o
real que existia com a âncora cambial", como havia antes da desvalorização, e de superar a crise com
respostas na área fiscal.
Segundo ele, o governo optou pelo regime flutuante do real e pelo
enfoque do BC na obtenção de taxas de inflação baixas e previsíveis.
Nesse sentido, completou, o BC vai
anunciar na próxima semana um
regime que "envolve riscos", o que
fixa metas inflacionárias para os
próximos anos.
"Sabemos que corremos riscos.
Mas queremos transformar esse
leque de riscos em um leque de
oportunidades", afirmou ele.
Dolarização
A dolarização da economia argentina tornou-se o principal alvo
de críticas do seminário. Cavallo
afirmou que se tratou de uma idéia
"extemporânea e inoportuna do
presidente Menem".
"Quando o presidente Menem
anunciou a dolarização não estava
por perto nem o ministro da Economia nem o presidente do Banco
Central", declarou Cavallo, provocando risos na platéia de 400 empresários e executivos.
O embaixador do Brasil na França, Marcos Azambuja, acrescentou
que esse processo teria caráter
"desmobilizador e desmoralizador" do Mercosul e inviabilizaria
uma integração mais ampla.
O vice-presidente do Goldman
Sachs, o economista Paulo Leme,
disse que a visão de longo prazo do
Mercosul deve ser a convergência
de suas políticas macroeconômicas, o que "não necessariamente
precisa ter união monetária".
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