São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCOSUL
Cavallo sugere papel central ao real
Fraga defende moeda única a longo prazo

DENISE CHRISPIM MARIN
enviada especial ao Rio

ISABEL CLEMENTE da Sucursal do Rio O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou ver "com bons olhos, a longo prazo, a criação de uma moeda única no Mercosul" e a harmonização da política fiscal no bloco.
As declarações de Fraga foram feitas depois que o economista Domingo Cavallo, candidato à sucessão presidencial e ex-ministro da Economia na Argentina, defendeu que o real venha a ser a unidade monetária central no processo de criação de uma moeda comum no Mercosul.
No momento em que Cavallo disse isso, Fraga levantou a pequena bandeira brasileira que estava à sua frente.
Ambos participavam do seminário "A América Latina Pós-Crise Brasileira", organizado pela Fundação Getúlio Vargas.
"Vejo o processo com otimismo. No meio tempo, vamos aprender com os nossos avós europeus e com a lição deixada pelo padrão-ouro", declarou Fraga.
No curto prazo, disse Fraga, há pelo menos dois entraves. O primeiro está na necessidade de "buscar uma integração mais ampla". A outra dificuldade é a incompatibilidade entre os objetivos na área monetária e cambial dos principais sócios do Mercosul.
"O Brasil não se interessa em adotar o dólar, nem a Argentina tem a intenção de adotar o real", afirmou, referindo-se às declarações do presidente argentino, Carlos Menem, sobre a possibilidade de dolarização da economia local.
Cavallo criticou a possibilidade de dolarização na Argentina e acrescentou a necessidade de a moeda comum do Mercosul ser "conversível".
"Esperamos que o Brasil seja como a Alemanha e que o real seja como o marco alemão", afirmou Cavallo, referindo-se à importância do Banco Central germânico e de sua moeda no processo de adoção do euro, a unidade monetária da União Européia.
Para o ex-ministro, a conversibilidade da moeda não significa que a política cambial deva ser fixa, como é a combinação atual da Argentina. "Ser conversível quer dizer ter qualidade, ter capacidade de gerar taxas de juros mais baixas", explicou.
Armínio Fraga ressaltou que o Brasil vive o "grande desafio de recuperar a noção de âncora para o real que existia com a âncora cambial", como havia antes da desvalorização, e de superar a crise com respostas na área fiscal.
Segundo ele, o governo optou pelo regime flutuante do real e pelo enfoque do BC na obtenção de taxas de inflação baixas e previsíveis. Nesse sentido, completou, o BC vai anunciar na próxima semana um regime que "envolve riscos", o que fixa metas inflacionárias para os próximos anos.
"Sabemos que corremos riscos. Mas queremos transformar esse leque de riscos em um leque de oportunidades", afirmou ele.

Dolarização
A dolarização da economia argentina tornou-se o principal alvo de críticas do seminário. Cavallo afirmou que se tratou de uma idéia "extemporânea e inoportuna do presidente Menem".
"Quando o presidente Menem anunciou a dolarização não estava por perto nem o ministro da Economia nem o presidente do Banco Central", declarou Cavallo, provocando risos na platéia de 400 empresários e executivos.
O embaixador do Brasil na França, Marcos Azambuja, acrescentou que esse processo teria caráter "desmobilizador e desmoralizador" do Mercosul e inviabilizaria uma integração mais ampla.
O vice-presidente do Goldman Sachs, o economista Paulo Leme, disse que a visão de longo prazo do Mercosul deve ser a convergência de suas políticas macroeconômicas, o que "não necessariamente precisa ter união monetária".


Texto Anterior: Câmbio: Venda de título cambial acalma mercado
Próximo Texto: Opinião Econômica - Aloysio Biondi: Para entender a alta da gasolina e do dólar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.