São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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SOCORRO

Secretário do Tesouro americano diz que é inevitável o colapso do sistema cambial argentino, mas defende Brasil

Câmbio fixo é indefensável, afirmam EUA

France Presse
Funcionários públicos em greve jogam papéis durante protesto no Congresso Nacional da Argentina


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

RICARDO GRINBAUM
ENVIADO A WASHINGTON

O governo dos Estados Unidos apoiou ontem um novo empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao governo brasileiro e deu sinais claros de que vê como inevitável o colapso do sistema cambial na Argentina.
Durante entrevistas em Londres e em Moscou, o secretário do Tesouro norte-americano, Paul O'Neill, disse que câmbios atrelados ao dólar, como o da Argentina, são "indefensáveis" e um "problema".
Respondendo diretamente a uma pergunta sobre as crises econômicas na Argentina e na Turquia, O'Neill afirmou que "não houve nenhum caso de países com desajustes econômicos capazes de defender câmbios fixos". Para ele, "num mundo ideal não há câmbios fixos".
Desde o ano passado o governo da Argentina luta para rolar seus compromissos externos e fazer sua economia crescer dentro de um sistema de paridade entre sua moeda, o peso, e o dólar.

Qualificado
O'Neill afirmou ainda que, diferentemente da Argentina, o Brasil está bem qualificado para receber uma nova ajuda financeira do FMI por ter sido conduzido com responsabilidade o atual programa com o Fundo, principalmente por ter devolvido a maior parte dos empréstimos que pegou de instituições multilaterais e de governos do G-7 dentro do pacote de ajuda fechado em 1998.
Apesar do apoio ao Brasil, o secretário deixou claro que, sob a atual administração republicana, a Casa Branca [sede do governo dos EUA" deixará de atuar como um "bombeiro econômico" do mundo e rejeitou ainda a idéia de que as crises na Argentina e na Turquia irão, necessariamente, contagiar outros mercados emergentes, qualificando como "moda" a idéia de que os mercados têm o mesmo destino por estarem interconectados. "Numa globalização bem administrada, investidores não fugiriam dos mercados emergentes por causa de crises isoladas."
As declarações de O'Neill são sinais de que os EUA não darão mais empréstimos bilaterais para países emergentes em dificuldades e que, nos casos especiais -como parece ser o caso brasileiro-, vai limitar-se a apoiar os empréstimos do Fundo.

Irritação em Buenos Aires
As declarações de O'Neill irritaram o governo argentino, que luta para manter seus compromissos externos. Em Washington, Daniel Marx, secretário de Finanças da Argentina, pediu ao subsecretário norte-americano para Assuntos Internacionais, John Taylor, que autoridades dos EUA parem de dar declarações como as de O'Neill.
Sensibilizado com o apelo de Marx, Taylor divulgou nota pedindo ao FMI que "conclua rapidamente" o trabalho da missão do Fundo na Argentina, o que permitiria a antecipação do desembolso da próxima parcela do empréstimo ao país, previsto oficialmente para setembro.
A nota de Taylor, porém, não teve efeito prático. Segundo o porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, o FMI vai manter o prazo do desembolso da próxima parcela para a Argentina.
"Não há nada planejado para o momento. Não houve nenhuma mudança [em relação ao cronograma anterior"", disse Dawson.
O porta-voz evitou comentar diretamente as declarações de O'Neill sobre o câmbio argentino. Disse que, em tese, qualquer sistema cambial pode ser mantido (mesmo o argentino), desde que o país que o adotar esteja preparado para buscar o equilíbrio fiscal que o modelo exige.



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