São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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LUÍS NASSIF

Como montar a diplomacia comercial

Atenção, Itamaraty: há vida comercial inteligente, ainda que escassa, na diplomacia brasileira. Mirem-se no exemplo que vem de Washington.
No curto espaço de tempo em que está à frente da principal embaixada brasileira, o atual embaixador Rubens Barbosa trouxe algo inédito para a diplomacia comercial: uma estratégia de abordagem comercial no principal mercado do mundo. No mês de abril, de país quase desconhecido da mídia americana, o Brasil conseguiu pelo menos dez reportagens substantivas. Hoje a cobertura que merece é maior do que a de todos os países europeus, com exceção do Reino Unido.
Trata-se de uma iniciativa isolada, que provavelmente não terá continuidade se não se incorporar às práticas do Itamaraty. Mas vale a pena conhecer seus detalhes.
Para levar a cabo sua tarefa de colocar o Brasil no mapa americano, Barbosa desenvolveu sua estratégia a partir de duas constatações. A primeira, a de que o Legislativo americano é mais influente até que o inglês e mais receptivo que o Executivo, desde que abordado da maneira correta. E a maneira correta é sensibilizá-lo para os interesses que os Estados têm no Brasil.
Em cima desse enfoque, a embaixada mapeou as exportações americanas para o Brasil, Estado por Estado. Definiu inicialmente dez Estados prioritários para iniciar sua ação diplomática. Um ano depois, o levantamento foi ampliado para 20 Estados.
De posse do mapa, Barbosa passou a visitar os Estados, a falar com governadores, câmaras de comércio, empresas, dando palestras sobre oportunidades de investimento no Brasil e estimulando a criação de câmaras do comércio. Ao cabo dessas rodadas, setores influentes nos Estados passaram a entender por que o Brasil era importante para seus negócios. De outro lado, foi montada uma série de seminários com os assessores parlamentares, figuras influentes no Congresso americano.
Depois, passou a atuar sobre outros setores formadores de opinião. Na área acadêmica, a embaixada levantou US$ 1,6 milhão para a criação de centros de estudos de problemas brasileiros. Hoje em dia há um centro de estudos em Georgetown, outro na Woodrow Wilson Center, outro em Columbia. Além disso, criou uma empresa privada, a Brazil Information Center Inc., para atender demanda de empresas brasileiras sobre temas de comércio. Tipo como fazer um "road show", preparar um panfleto, um contrato, conseguir um representante comercial. É um escritório pequeno, com duas funcionárias e uma secretária, trabalhando em total autonomia e com estreito contato com a embaixada.
Finalmente, com recursos do Itamaraty a embaixada preparou um "kit Brasil" para 50 mil professores, em um universo de 1,5 milhão de alunos. Para o próximo ano, a embaixada prepara o grande momento, com o produto mais conhecido do Brasil: a música. Em 2002 completam-se 40 anos do histórico concerto no Carnegie Hall que lançou a bossa nova nos EUA.
Oportunamente trarei mais da visão de Rubens Barbosa sobre um dos desafios essenciais do país: como montar sua diplomacia comercial.

Espírito Santo
No final da campanha eleitoral de 1998, o candidato eleito do Espírito Santo, José Ignácio, foi alvo da acusação de ter recebido uma doação eleitoral por meio do Banestes, o banco oficial, até então dirigido pelo PT.
Aqui da coluna o defendi por uma razão simples: se houvesse algo irregular na doação, que foi registrada no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), seria o cúmulo da ingenuidade fazer o depósito em um banco sob direção dos seus adversários de campanha e com bancários simpatizantes do PT. Na época, a coluna foi utilizada pelo governador para se defender das acusações.
Agora, o acúmulo de denúncias contra Ignácio, a demissão de sua própria mulher, a admissão de culpa por parte do seu próprio cunhado, a comprovação de que o cunhado era responsável pela quitação de compromissos do governador não dão muita margem a dúvidas: faria melhor para seu Estado se José Ignácio renunciasse e desculpas pelo que fez.


Internet: www.dinheirovivo.com.br

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