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Isenção de responsabilidade de FHC é criticada
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório divulgado ontem
pela ANA (Agência Nacional das
Águas) sobre as causas da crise de
energia não poderia ter isentado o
presidente da Fernando Henrique
Cardoso e o Ministério da Fazenda da culpa pela crise no setor.
Para Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coppe (Coordenadoria
de Pós-Graduação de Engenharia
da Universidade Federal do Rio
de Janeiro), o relatório está correto do ponto de vista técnico. "Mas
há uma certa elegância em poupar o presidente. Eu mesmo, em
outubro do ano passado, enviei
dois relatórios para a presidência
alertando para o problema", diz.
Segundo Pinguelli Rosa, o primeiro relatório afirmava que uma
crise no setor era inevitável e o segundo dava sugestões de medidas
de emergência. "Eu fui inclusive
chamado pelo secretário de Energia, na época, para discutir os
pontos dos relatórios", afirma o
vice-diretor da Coope.
"Quem deu as diretrizes de investimento, quem restringiu a capacidade das empresas estatais de
construir novas usinas foi o ministério da Fazenda. Não é possível isentar as agências do setor e o
ministério de Minas e Energia da
responsabilidade pela crise, mas a
Fazenda tem um papel central nas
restrições impostas ao setor", diz
o professor Ildo Sauer, da USP
(Universidade de São Paulo).
Para Sauer, é positivo o fato de o
relatório não "culpar a chuva" pela crise. "O governo agora não pode mais dizer que faltou chuva,
como insistia até agora".
Paulo Roberto Butori, presidente do Sindipeças, sindicato que
reúne os fabricantes de autopeças,
considera balela isentar o presidente Fernando Henrique Cardoso da culpa de o país ter de enfrentar o racionamento de energia.
"Desde o início dos anos 80 os
empresários do nosso setor têm
alertado o governo sobre a necessidade de investimentos no setor
elétrico. Já naquela época falávamos da possibilidade de ter escassez de energia em 2000. O FHC sabia sim desse problema, mas esqueceu, como esqueceu da reforma tributária e fiscal", diz Butori.
O Brasil, segundo ele, está enfrentando o racionamento de
energia porque deixou de investir
no setor. "O dinheiro disponível
para isso foi para pagar bancos e a
dívida interna do país. Como o
cobertor é curto, um pé ficou de
fora (o setor de energia)", afirma.
Segundo ele, o governo sabia
que a margem de segurança de
oferta de energia era estreita, mas
preferiu arriscar. "Não deu certo.
Isentar agora o presidente Fernando Henrique da culpa do racionamento é balela."
O diretor-presidente da Bandeirante Energia, Júlio de Barros, diz
que o racionamento é consequência de um conjunto de fatores,
principalmente falta de investimentos em geração e transmissão
de energia e de chuvas. "Se tivesse
chovido acima da média, não estaríamos nessa situação", afirma.
Ele concorda que pessoas do governo acabaram não dando muita
atenção ao setor ou até erraram
nas previsões de consumo de
energia no país.
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