São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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Isenção de responsabilidade de FHC é criticada

DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório divulgado ontem pela ANA (Agência Nacional das Águas) sobre as causas da crise de energia não poderia ter isentado o presidente da Fernando Henrique Cardoso e o Ministério da Fazenda da culpa pela crise no setor.
Para Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coppe (Coordenadoria de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o relatório está correto do ponto de vista técnico. "Mas há uma certa elegância em poupar o presidente. Eu mesmo, em outubro do ano passado, enviei dois relatórios para a presidência alertando para o problema", diz.
Segundo Pinguelli Rosa, o primeiro relatório afirmava que uma crise no setor era inevitável e o segundo dava sugestões de medidas de emergência. "Eu fui inclusive chamado pelo secretário de Energia, na época, para discutir os pontos dos relatórios", afirma o vice-diretor da Coope.
"Quem deu as diretrizes de investimento, quem restringiu a capacidade das empresas estatais de construir novas usinas foi o ministério da Fazenda. Não é possível isentar as agências do setor e o ministério de Minas e Energia da responsabilidade pela crise, mas a Fazenda tem um papel central nas restrições impostas ao setor", diz o professor Ildo Sauer, da USP (Universidade de São Paulo).
Para Sauer, é positivo o fato de o relatório não "culpar a chuva" pela crise. "O governo agora não pode mais dizer que faltou chuva, como insistia até agora".
Paulo Roberto Butori, presidente do Sindipeças, sindicato que reúne os fabricantes de autopeças, considera balela isentar o presidente Fernando Henrique Cardoso da culpa de o país ter de enfrentar o racionamento de energia.
"Desde o início dos anos 80 os empresários do nosso setor têm alertado o governo sobre a necessidade de investimentos no setor elétrico. Já naquela época falávamos da possibilidade de ter escassez de energia em 2000. O FHC sabia sim desse problema, mas esqueceu, como esqueceu da reforma tributária e fiscal", diz Butori.
O Brasil, segundo ele, está enfrentando o racionamento de energia porque deixou de investir no setor. "O dinheiro disponível para isso foi para pagar bancos e a dívida interna do país. Como o cobertor é curto, um pé ficou de fora (o setor de energia)", afirma.
Segundo ele, o governo sabia que a margem de segurança de oferta de energia era estreita, mas preferiu arriscar. "Não deu certo. Isentar agora o presidente Fernando Henrique da culpa do racionamento é balela."
O diretor-presidente da Bandeirante Energia, Júlio de Barros, diz que o racionamento é consequência de um conjunto de fatores, principalmente falta de investimentos em geração e transmissão de energia e de chuvas. "Se tivesse chovido acima da média, não estaríamos nessa situação", afirma. Ele concorda que pessoas do governo acabaram não dando muita atenção ao setor ou até erraram nas previsões de consumo de energia no país.



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