São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2006

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Juro ao consumidor volta a cair, mas crédito pára de crescer

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros praticados nos empréstimos bancários caíram pelo quarto mês seguido em junho, mas a queda não foi suficiente para sustentar o ritmo de expansão do crédito que vinha se observando desde o início do ano. Segundo dados do Banco Central, a taxa média cobrada pelos bancos chegou a 43,2% ao ano no mês passado, nível mais baixo em mais de cinco anos.
A diminuição dos juros tem sido favorecida pela redução da Selic, que, desde setembro de 2005, caiu de 19,75% ao ano para 14,75%. Além disso, em junho observou-se também um menor nível de inadimplência. Apontado pelos bancos como um dos motivos do alto custo dos empréstimos, o atraso nos pagamentos atingiu 4,6% dos financiamentos no mês passado, contra 4,9% de maio.
Já o volume de crédito disponível no país somava, também no mês passado, R$ 658,9 bilhões, valor equivalente a 32,4% do PIB -em maio, essa relação estava em 32,5%. Foi a primeira vez desde janeiro que a razão entre crédito e PIB não apresenta crescimento entre um mês e outro. Em junho de 2005, o saldo de empréstimos concedidos pelos bancos representava 28,8% do PIB.
Num cenário como o atual, em que a desaceleração da economia mundial e a valorização do real inibem o aumento nas exportações, o consumo interno passa a ser um dos principais responsáveis pelo crescimento. E um dos motores desse consumo interno seria, justamente, a expansão do crédito, impulsionada pela queda no juro praticado no país.
Logo, uma freada na liberação de novos financiamentos poderia frustrar as expectativas de crescimento da economia. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a estagnação observada no mês passado é passageira. "Com a melhoria que estamos tendo na renda e no emprego, não tem por que não aumentar o crédito."
Segundo Lopes, a queda registrada em junho foi causada por fatores isolados. Um deles é o recuo de 5,8% registrado pelo dólar no mês passado, o que reduz o valor, em reais, dos financiamentos corrigidos pelo câmbio. Além disso, ele diz que, também em junho, um banco privado repassou R$ 1 bilhão da sua carteira de crédito para uma empresa de cobranças -com isso, o valor deixou de fazer parte das estatísticas do BC.

Ritmo menor
Para o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), o crédito deve continuar crescendo nos próximos meses, embora num ritmo um pouco menor. "O que os dados revelam é que não há sinais de profunda desaceleração do crédito ao consumidor", diz relatório preparado pelo instituto a partir dos números do BC. "É de esperar que o crédito neste segundo semestre de 2006 mantenha significativa expansão."
Já a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) diz que o total de crédito oferecido pelos bancos brasileiros ainda é baixo se comparado com outros países -no Chile, a proporção entre crédito e PIB está próxima de 70%. Mas afirma que essa diferença se deve ao peso que os financiamentos imobiliários têm na maioria dos países, o que não acontece no Brasil.
De acordo com documento divulgado pela Febraban, o crédito habitacional corresponde a 21% do PIB chileno, enquanto no Brasil, a proporção é de 7%.



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