São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Financiamento custa mais meio carro

Taxa média de juros é a menor da série do BC, mas comprar veículo financiado em 18 meses faz valor do bem subir quase 50%

Volume de crédito no Brasil atinge 32,3% do PIB em junho; "spread" cobrado por bancos não segue queda da taxa básica (Selic)

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma pessoa que financia a compra de um carro paga, só de juros, o equivalente em média a quase metade do seu valor. É o que mostra pesquisa feita pelo Banco Central sobre as taxas cobradas pelos bancos em diversas modalidades de crédito.
Segundo o levantamento, a taxa média cobrada em junho nos financiamentos de veículos era de 29,4% ao ano, a mais baixa desde que o BC começou a medi-la, em 1994. Já o prazo médio desses empréstimos estava em 562 dias -pouco mais de um ano e meio.
Numa operação em que a taxa e o prazo sejam iguais aos valores médios apurados pelo BC, os juros totais pagos equivalem a 48,7% do valor inicial do empréstimo -ou do preço do carro, caso a compra tenha sido totalmente financiada.
As vendas de automóveis bateram recorde no Brasil no primeiro semestre deste ano, com mais de 1 milhão de vendas. E parte desse resultado se deve à expansão do crédito: o volume de financiamentos liberados por bancos para a compra de veículos subiu 11,8% desde o final de 2006, chegando a R$ 70,9 bilhões no mês passado.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o aumento dos prazos dos financiamentos ajuda a explicar por que as pessoas continuam a se endividar. Com prestações cada vez menores, os consumidores ficam mais dispostos a arcar com os altos encargos que ficam embutidos.
Lopes diz que o aumento da renda também ajuda no processo, pois eleva a propensão ao consumo. Além disso, ressalta que as taxas nos financiamentos têm caído. Há um ano, os juros dos financiamentos de veículos eram de 33% ao ano.
A situação de quem financia a compra de um automóvel ajuda a ilustrar a situação geral do mercado de crédito: apesar da queda recente, os juros continuam altos, e as pessoas continuam se endividando.
No mês passado, os juros médios nos créditos a pessoas físicas atingiram o nível mais baixo desde 1994, de 48,4% ao ano -eram 52,1% no final de 2006.
O recuo reflete a queda da taxa Selic, referência para as operações de curto prazo feitas entre bancos e que no mês passado estava em 12% ao ano, contra 13,25% no final de 2006.
Já o "spread" bancário se manteve praticamente inalterado. "Spread" é a parcela dos juros cobrados nos empréstimos usada para cobrir os custos dos bancos e ajudar a compor suas margens de lucro.
Considerando tanto os financiamentos a empresas quanto a pessoas físicas, o "spread" médio caiu de 27,2 pontos percentuais para 26,1 pontos.
"A queda [do "spread'] evidentemente não é no mesmo ritmo [da Selic], nem se espera que seja, pois não houve mudanças estruturais nesse quadro", diz Lopes. Para o funcionário do BC, seriam necessárias medidas como a redução na carga tributária que incide sobre operações financeiras para que o "spread" se reduzisse.
Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que os juros dos empréstimos estão em queda, "em sintonia com a política monetária vigente". O texto ressalta ainda a expansão do crédito mostrada pelos números do BC.
No mês passado, o volume de crédito disponível no Brasil era de R$ 799,2 bilhões, ou 32,3% do PIB (Produto Interno Bruto). Embora seja considerada baixa -chega a mais de 60% em outros países emergentes-, essa proporção é a mais elevada já registrada no Brasil desde 1995.


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