São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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Juros bancários cairão mais, diz Setubal

Para presidente-executivo do Itaú Unibanco, tendência de redução da inadimplência permitirá que taxas caiam mais rapidamente

Proporcionalmente, reduções nos juros decididas pelo BC foram maiores que as das taxas cobradas pelas instituições financeiras


MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o início do atual ciclo de corte de juros, em janeiro, o Banco Central já reduziu a taxa básica da economia, a Selic, em cinco pontos percentuais.
Mas os bancos privados não repassaram todo esse alívio a empresas e consumidores de forma proporcional, sob a alegação de que a inadimplência subiu muito, anulando em parte os esforços do BC.
Roberto Setubal, 54, presidente-executivo do Itaú Unibanco, diz que a inadimplência tende agora a cair, o que permitirá aos bancos reduzir mais rapidamente as taxas aos clientes -mesmo se o BC não fizer cortes adicionais à Selic. "Estamos provavelmente passando pelo pico da inadimplência", disse Setubal em entrevista à Folha. "As taxas de empréstimos podem cair muito mais à medida que a inadimplência se reduza."
Segundo Setubal, o maior componente do "spread" bancário é exatamente o nível de perdas dos bancos, que atingiram seu recorde histórico. "Este tem sido um ano muito ruim para o crédito em todos os aspectos. Os volumes não estão crescendo como anteriormente, o que não é bom para o mercado financeiro, para os bancos e para o crescimento", disse Setubal. "A inadimplência está muito alta. Estamos batendo os picos históricos de inadimplência. Já há algum sinal de melhoria, mas as perdas são grandes."
"Spread" é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para quem aplica seu dinheiro neles e a taxa cobrada pelas instituições para repassar esse mesmo dinheiro a quem precisa de empréstimo.
Nessa diferença, estão embutidos os custos administrativos dos bancos e a taxa de inadimplência -além, é claro, do lucro. Quanto maior for a inadimplência, portanto, maior tende a ser o "spread".
Até a primeira quinzena de maio, a taxa Selic havia recuado 3,5 pontos percentuais, de 13,75% anuais para 10,25% (desde então ela já caiu para 8,75% ao ano). No período, a taxa média para pessoas físicas recuou dez pontos percentuais, de 57,9% ao ano para 47,9%.
Proporcionalmente, a taxa Selic recuou mais do que os juros bancários: a queda de 3,75 pontos corresponde a uma redução de 25%, enquanto a diminuição no custo dos empréstimos foi de 17%. Setubal também fez um alerta à estratégia agressiva adotada pelos bancos oficiais para forçar a queda dos juros.
"O governo procurou usar os bancos públicos como mais um elemento para estimular a economia. Entendo isso como uma medida contracíclica válida por um período", disse Setubal. "Mas é impossível imaginar que eles possam operar de forma sustentável em condições muito abaixo daquelas em que o mercado opera."

 

FOLHA - Como o senhor vê a reação da economia brasileira à crise?
ROBERTO SETUBAL
- Sempre acreditei que o Brasil se recuperaria melhor do que o resto do mundo por suas virtudes macroeconômicas, pela solidez do sistema financeiro e pela inexistência, aqui dentro, das causas que levaram à deflagração da crise lá fora. Isso de fato está ocorrendo. A surpresa é a velocidade de recuperação. Estamos hoje num ritmo de crescimento de 4% ao ano, o que é extraordinário. O número de 2009 provavelmente será zero porque partimos de uma base mais baixa, mas, na margem, o crescimento é espantoso.


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