São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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ALBERT FISHLOW

A solução positiva


Há 40 anos o homem pisou na Lua; dentro de 40 anos, o mundo enfrentará uma severa ameaça climática

HÁ 40 ANOS , os EUA conseguiram levar homens à Lua e trazê-los de volta. A realização, que requereu quase uma década de investimento público, demonstrou amplamente a capacidade de uma sociedade livre e motivada.
Dentro de 40 anos, o mundo estará enfrentando uma severa ameaça climática devido à elevação das temperaturas resultante de um século ou mais de poluição global. Provas científicas cada vez mais numerosas confirmam a probabilidade de que o intervalo para que essas consequências se façam sentir está se tornando mais curto. Mas, quanto a esse campo, no qual a cooperação internacional seria fundamental para qualquer solução duradoura, vem sendo muito mais difícil conseguir progresso.
O Protocolo de Kyoto, negociado no final de 1997, só entrou em vigor de fato no começo de 2005. A maioria dos países desenvolvidos será incapaz de cumprir as metas modestas de redução nas emissões dos gases causadores do efeito estufa que o acordo dispõe. E os Estados Unidos, além disso, jamais ratificaram o tratado e apenas no mês passado, e por margem estreita, aprovaram pela primeira vez as 1.500 páginas de um projeto de lei -que ainda requer aprovação no Senado- que institui um sistema de limitação e negociação de direitos de emissão de poluentes causadores do efeito estufa.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, visitou a China e a Índia em busca da cooperação desses países à medida que se aproxima a reunião de Copenhague, em dezembro, na qual um novo acordo internacional deve ser concluído. Os dois países vêm ampliando suas emissões, com a rápida expansão econômica conquistada nas últimas décadas. A China, que depende do carvão para alimentar o crescimento de dois dígitos de sua produção de energia, agora se tornou a principal fonte mundial dos gases causadores do efeito estufa, superando os EUA.
Os países em desenvolvimento não têm obrigações a cumprir sob o Protocolo de Kyoto. Sob o acordo internacional de limitação de emissões e comercialização de direitos de emissão que o acordo instituiu, eles até se beneficiaram ligeiramente de investimentos para compensar os excessos europeus. O Brasil se tornou o terceiro maior vendedor de créditos de carbono.
Há base para sua relutância em fazer concessões, na nova rodada de negociações. Afinal, o efeito estufa é resultado direto de emissões cumulativas, e não do fluxo atual. Paralisar todo mundo nos níveis atuais pune aqueles que tenham começado mais tarde. Foi isso que disseram a Hillary.
O Brasil será um participante importante nas discussões futuras. Isso se deve menos às suas emissões -a energia hidrelétrica, afinal, não é poluente- do que à importância da Amazônia como imensa área de absorção de dióxido de carbono. A redução gradual na dimensão da floresta, que vem sendo causada pela expansão no assentamento humano, é assunto importante na política do país já há algum tempo. Agora, essa questão se transformou em assunto de importância internacional.
Resolver um problema cumulativo tomando por base o que se pode fazer agora não é fácil, nem mesmo em nível nacional. Internacionalmente, as dificuldades crescem de maneira exponencial. No entanto, será preciso encontrar uma forma de produzir uma solução positiva.
Não se pode simplesmente desfazer o passado, por mais que se o deseje. Há 40 anos, um país levou o homem à Lua. Agora, existe uma estação espacial colaborativa na qual diversos países, entre eles o Brasil, participam. Há momentos em que a cooperação funciona.

Tradução de PAULO MIGLIACCI ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

afishlow@uol.com.br


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