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ALBERT FISHLOW
A solução positiva
Há 40 anos o homem pisou na Lua; dentro de 40 anos,
o mundo enfrentará uma severa ameaça climática
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HÁ 40 ANOS , os EUA conseguiram levar homens à Lua e
trazê-los de volta. A realização, que requereu quase uma década
de investimento público, demonstrou amplamente a capacidade de
uma sociedade livre e motivada.
Dentro de 40 anos, o mundo estará enfrentando uma severa ameaça
climática devido à elevação das temperaturas resultante de um século
ou mais de poluição global. Provas
científicas cada vez mais numerosas
confirmam a probabilidade de que o
intervalo para que essas consequências se façam sentir está se tornando
mais curto. Mas, quanto a esse campo, no qual a cooperação internacional seria fundamental para qualquer
solução duradoura, vem sendo muito mais difícil conseguir progresso.
O Protocolo de Kyoto, negociado
no final de 1997, só entrou em vigor
de fato no começo de 2005. A maioria dos países desenvolvidos será incapaz de cumprir as metas modestas de redução nas emissões dos gases causadores do efeito estufa que o
acordo dispõe. E os Estados Unidos,
além disso, jamais ratificaram o tratado e apenas no mês passado, e por
margem estreita, aprovaram pela
primeira vez as 1.500 páginas de um
projeto de lei -que ainda requer
aprovação no Senado- que institui
um sistema de limitação e negociação de direitos de emissão de poluentes causadores do efeito estufa.
A secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, visitou a China e a
Índia em busca da cooperação desses países à medida que se aproxima
a reunião de Copenhague, em dezembro, na qual um novo acordo internacional deve ser concluído. Os
dois países vêm ampliando suas
emissões, com a rápida expansão
econômica conquistada nas últimas
décadas. A China, que depende do
carvão para alimentar o crescimento de dois dígitos de sua produção de
energia, agora se tornou a principal
fonte mundial dos gases causadores
do efeito estufa, superando os EUA.
Os países em desenvolvimento
não têm obrigações a cumprir sob o
Protocolo de Kyoto. Sob o acordo internacional de limitação de emissões e comercialização de direitos de
emissão que o acordo instituiu, eles
até se beneficiaram ligeiramente de
investimentos para compensar os
excessos europeus. O Brasil se tornou o terceiro maior vendedor de
créditos de carbono.
Há base para
sua relutância em fazer concessões,
na nova rodada de negociações. Afinal, o efeito estufa é resultado direto
de emissões cumulativas, e não do
fluxo atual. Paralisar todo mundo
nos níveis atuais pune aqueles que
tenham começado mais tarde. Foi
isso que disseram a Hillary.
O Brasil será um participante importante nas discussões futuras. Isso se deve menos às suas emissões
-a energia hidrelétrica, afinal, não é
poluente- do que à importância da
Amazônia como imensa área de absorção de dióxido de carbono. A redução gradual na dimensão da floresta, que vem sendo causada pela
expansão no assentamento humano, é assunto importante na política
do país já há algum tempo. Agora, essa questão se transformou em assunto de importância internacional.
Resolver um problema cumulativo tomando por base o que se pode
fazer agora não é fácil, nem mesmo
em nível nacional. Internacionalmente, as dificuldades crescem de
maneira exponencial. No entanto,
será preciso encontrar uma forma
de produzir uma solução positiva.
Não se pode simplesmente desfazer
o passado, por mais que se o deseje.
Há 40 anos, um país levou o homem à Lua. Agora, existe uma estação espacial colaborativa na qual diversos países, entre eles o Brasil,
participam. Há momentos em que a
cooperação funciona.
Tradução de PAULO MIGLIACCI ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.
afishlow@uol.com.br
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