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CPI reforça papel da Petrobras no pré-sal
Governo se opõe a discurso da oposição e deve conceder liberdade vigiada em campos, por meio da nova empresa do setor
Apesar do receio de que
Petrobras vire um "Estado
dentro do Estado", governo
afirma que precisa da
tecnologia da empresa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Razões estratégicas e políticas levaram o governo federal a
optar por uma proposta que era
defendida desde o início pela
Petrobras, mas que inicialmente não era vista com bons olhos
pela comissão interministerial
que estudava as novas regras do
setor de petróleo: transformar
a estatal petrolífera na operadora de todos os campos do
pré-sal no país.
Desde o final do ano passado,
o governo vinha mudando seu
discurso em relação à Petrobras. Se anteriormente a ideia
era não fortalecer a estatal para
evitar a formação de um "Estado dentro do Estado", depois o
governo se deu conta de que,
para manter o controle estratégico sobre a riqueza que será
gerada pelo pré-sal, precisaria
de todo o conhecimento e da
tecnologia da empresa.
Daí a decisão, amadurecida
no início deste ano, de transformá-la em parceira preferencial
da futura estatal a ser criada para gerir a riqueza do pré-sal.
Agora, com a instalação da
CPI da Petrobras, o governo decidiu se contrapor ao discurso
feito pela oposição e fortalecer
ainda mais a estatal petrolífera
- o Planalto deve dar a ela o caráter de operadora única dos
campos do pré-sal.
A decisão, no entanto, ainda
depende do aval do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Liberdade controlada
Isso não significa, de acordo
com assessores presidenciais,
que o governo dará liberdade
total à Petrobras na exploração
dos recursos do pré-sal. A estatal terá uma liberdade vigiada
por intermédio da nova empresa pública do setor, que deverá
controlar, aprovar e fiscalizar
todo o processo de investimento e de produção nos campos
do pré-sal.
A futura estatal, por exemplo, terá poder de veto sobre as
decisões de investimento e sobre a exploração -esse mecanismo de controle poderá ser
exercido caso ela considere que
a Petrobras esteja praticando
um custo muito alto para desenvolver suas atividades em
determinado campo.
De acordo com relato de um
dos integrantes da comissão
que estuda o novo marco regulatório para a exploração do petróleo, o governo mudou de posição, mas mantém seu receio
de evitar que a Petrobras fique
"maior do que o próprio Estado
brasileiro", argumento utilizado no começo dos estudos, no
início de 2008.
Tanto que, a contragosto da
Petrobras, bancou a criação de
uma estatal para gerir a riqueza
do pré-sal e não aceitou repassar a ela toda a nova área. Além
disso, o governo voltou a considerar a possibilidade de aumentar sua participação no capital da empresa.
Antes descartada, a medida
pode ser adotada para evitar
que boa parte dos lucros seja dividida com o setor privado. Afinal, apesar de ter o controle administrativo da estatal, a União
detém hoje aproximadamente
40% das ações. Esse, por sinal,
foi o principal motivo para o
presidente Lula não ter concordado com a proposta da Petrobras de repassar a ela todas as
reservas do pré-sal.
CPI
A opção de não só considerar
a Petrobras parceira preferencial da futura estatal mas também a única operadora do pré-sal foi tomada há cerca de um
mês. Segundo a Folha apurou,
estimulada pelo debate político
gerado com a criação, em maio
último, da CPI da Petrobras.
O presidente Lula deu, recentemente, ordem a seus ministros para fortalecer a estatal
e acuar a oposição.
Ele quer usar o debate sobre
a área do pré-sal na campanha
presidencial, quando pretende
eleger a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), responsável
pelos estudos do marco regulatório, sua sucessora.
Antes da determinação de
Lula, a ideia era criar uma regra
permitindo que a Petrobras
fosse escolhida sem licitação
para ser sócia da nova empresa
pública do setor em campos do
pré-sal que forem considerados estratégicos.
Participação nos campos
Agora, além de ser legalmente a operadora única do pré-sal,
a Petrobras poderá ter uma
participação mínima em todos
os campos.
Com isso, nos blocos que forem leiloados, as empresas que
ganharem a licitação terão de
aceitar a Petrobras como sócia
minoritária e sua operadora
dos campos.
A decisão de dar uma participação mínima atende a uma
reivindicação da estatal, já que
ela não se interessa em ser apenas operadora. Nesse sistema,
ela seria somente uma prestadora de serviços e não teria direito a parte dos lucros com a
exploração do óleo.
A operação é considerada estratégica pelo governo não só
por conta do controle sobre o
conhecimento geológico e potencial dos campos mas também porque a operadora é
quem "contrata, explora e desenvolve tecnologia".
Assim, sendo uma companhia brasileira a responsável,
ela tem condições de dar preferência total a trabalhadores e
empresas brasileiras nos investimentos de desenvolvimento e
exploração.
(VALDO CRUZ)
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