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Pausa para o cafezinho
Crise diminui crescimento no setor e estimula, no mundo rico, hábito de beber em casa
No Brasil, o consumo de café tradicional segue em alta
e o dos especiais não caiu, afirma Starbucks, múlti que continuou a investir no país
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Abalado com crise econômica global, o setor de café vive
um instante de pausa. Não há
queda no consumo, mas uma
perda de ritmo de crescimento
e uma transferência de consumidores das cafeterias especiais para os próprios lares, onde o gasto é menor.
Essa regra não vale para todos. A maior transferência
ocorre nos países ricos, os mais
afetados pela crise e onde houve maior perda de renda. O Brasil caminha na direção inversa,
e parte dos consumidores continua trocando o coador pelas
máquinas e os cafés especiais.
"A situação está muito difícil.
Com a crise, o consumo em bares, restaurantes e hotéis caiu
15% na Itália", diz Giuseppe Lavazza, vice-presidente da italiana Lavazza, uma das líderes na
Europa. Andrea Illy, da também italiana Illycaffè, confirma
a queda, mas avalia que "é um
fenômeno passageiro".
O consumidor volta às compras de café nos supermercados e migra para o consumo caseiro nos países ricos porque o
custo é bem menor, diz Gabriel
Silva Luján, da Federação dos
Cafeicultores da Colômbia.
No mundo, uma xícara de café fora de casa custa US$ 2,10
em média -bem acima do US$
0,35 a US$ 0,50 gasto quando
preparado em casa, diz ele.
A transferência de consumo
de café para o lar aumenta também nos Estados Unidos, mas
esse fenômeno não depende
apenas da crise, diz Sydney
Marques de Paiva, diretor-presidente da Café Bom Dia , empresa que tem uma unidade de
produção em Seattle (EUA).
O mesmo ocorre na Itália,
onde o consumo no lar, mesmo
que tenha se acentuado na crise, é um fenômeno que já vem
ocorrendo devido às boas condições para se preparar um café
de qualidade em casa, diz Roberto Ricci, dono da Sant'Eustachio, tradicional cafeteria há
70 anos no centro de Roma.
O Japão não ficou imune à
crise. As cafeterias do Café do
Centro registraram leve queda
de movimento no país. A empresa concorda com Illy, de que
se trata de fenômeno passageiro, e, por isso, mantém os investimentos programados para a
Ásia, afirma Rodrigo Branco
Peres, diretor da Café.
Ricci, que além da cafeteria
tem uma torrefadora à lenha e
revende café para consumo em
casa, diz que, quanto melhor
for o café consumido no lar,
mais os consumidores vão procurar as cafeterias quando estiverem fora de casa. Na cafeteria, "o preparo é uma arte", diz.
Velocidade menor
Na verdade, o setor de café já
tinha se acostumado a uma
confortável velocidade de crescimento no consumo mundial
nos últimos anos. Veio a crise e
"os 2% ou 2,5% esperados podem ficar em 1%", diz Carlos
Brando, especialista no setor.
Mas 1% não é um número
desprezível, diz Guilherme
Braga, do Cecafé, órgão dos exportadores. "Será mais 1,3 milhão de sacas." O consumo
mundial anual gira próximo de
130 milhões de sacas.
As empresas brasileiras ainda buscam os efeitos da crise no
país, mas o consumo nacional
de café tradicional cresceu 6%
de janeiro a abril, "uma taxa
surpreendente, principalmente por ser verão", diz Nathan
Herszkowicz, da Abic (associação da indústria do setor).
E, quando se trata de cafés especiais, também "não há crise",
diz Marco Suplicy, da Suplicy
Cafés Especiais. "O frio ajuda, e
nosso Natal [em referência ao
melhor período do ano para o
café] avança muito bem."
O estágio "mais maduro" da
economia brasileira, a descoberta do café gourmet arábica
pelo grande público e os preços
acessíveis são os grandes sustentáculos do consumo de cafés
especiais no país, que não caiu.
A avaliação é de Ricardo Carvalheira, presidente da Starbucks
Coffee no Brasil, empresa que
não pisou no freio nos investimentos por aqui, ao contrário
da matriz, que faz ajustes.
Martín Pereyra Rozas, diretor-geral da Nespresso Brasil,
diz que "as nuvens negras do final de 2008" não amedrontaram e a empresa elevou os investimentos. Há dois anos no
Brasil, a Nespresso obteve o
maior crescimento da história
da companhia em um país.
Para Rozas, o mercado está
muito bom e os cafés especiais
não são uma novidade para o
consumidor brasileiro, mas
"uma evolução". Em um país
onde 94% das pessoas consomem café, está havendo a
transferência do café tradicional para os especiais, diz ele.
Ana Cláudia Bestetti, do Café
do Porto, de Porto Alegre, chegou a ficar preocupada em fevereiro, mas o consumo de maio
já superava em 12% o de 2008.
Se depender do interesse de
empresas e de novos profissionais que buscam a especialização em fazer um bom café, o
consumo está garantido. Edgard Bressani, da Ipanema Coffees e da Associação Brasileira
de Café e Barista, diz que o número de empresas associadas
saltou de 15 para 100 em um
ano, e as cafeterias especiais
agora avançam para o interior.
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