São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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O expresso legítimo ainda é raro por aqui

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA

"Café expresso -está escrito na porta./Entro (...)/Meio tonto,/por haver acordado tão cedo.../E pronto! Parece um brinquedo.../Cai o café na xícara (...)/maquinalmente./E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo/nesta pequena noite líquida e cheirosa/que é a minha xícara de café."
Assim começa "Café Expresso", escrito nos anos 50 por Cassiano Ricardo (1895-1974), que não hesitou: escreveu "expresso". Em português, é mesmo com "x" -não temos a palavra "espresso", com "s".
O café rápido, feito na hora, em máquinas italianas, é mesmo "expresso", que, entre outros, tem o sentido de "enviado rapidamente, sem delongas".
Foi com meu pai que aprendi a tomar café. Aos domingos, no início dos anos 60, íamos ao encontro de seus amigos italianos. "Gli amici" se reuniam na Barão de Itapetininga. Depois de boas conversas, a tradicional ida ao Café Haiti, uma das primeiras casas a servir expresso em São Paulo.
Mas expresso legítimo, por enquanto, só na Itália -e em alguns pouquíssimos lugares no Brasil. Na Itália, nunca precisei descabelar-me para receber um café encorpado, pleno de sabor e de aroma. Lá, pode-se pedir que seja mais curto do que o normal ("ristretto") ou "lungo" ("longo"), ainda assim denso o bastante para que se sinta gosto intenso de café. Delicio-me com o teste do açúcar, que só afunda depois de empurrado com a colher.
Por aqui... Explico, digo mil vezes como quero o café e quase sempre recebo água preta, rala, sem gosto.
Já passou da hora de termos o sagrado direito de saborear um legítimo expresso em qualquer lugar em que haja uma máquina italiana. Poderemos então escolher entre a nossa grafia ("expresso") ou a italiana ("espresso"), que -por que não?- poderia ser adotada como palavra universal, tão universal quanto "pizza". Mas, antes de adquirirmos o direito de grafar "espresso", precisamos aprender a fazê-lo e, sobretudo, a tomá-lo -a maioria dos brasileiros gosta mesmo é de chafé.
Nos nossos supermercados, já se encontram belos cafés adequados para bons expressos, mas ainda faltam profissionais e casas em quantidade suficiente para que o prazer de um legítimo expresso esteja sempre à mão. É isso.


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