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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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QUALIDADE DE VIDA

Região abrigava 220 milhões de pessoas na linha de pobreza e 95 milhões de indigentes em 2002, diz Cepal

Mais de 40% são pobres na América Latina

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A América Latina tinha, no ano passado, 220 milhões de pobres e outros 95 milhões de indigentes. Esses números representam, respectivamente, 43,4% e 18,8% da população total da região, segundo dados divulgados ontem pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe). Em 2003, a expectativa é que os pobres sejam 225 milhões, e os indigentes, 100 milhões.
O total de pobres em relação aos habitantes diminuiu se a comparação for feita com os índices de 1990. Nesse ano, a população classificada como pobre na América Latina era de 48,3%, enquanto os indigentes somavam 22,5%.
Cepal utiliza como metodologia para medir pobreza a capacidade de uma família em adquirir bens de necessidade básica. Uma família pobre é aquela que possui renda suficiente apenas para comprar a cesta básica de alimentos. Isso significa que o rendimento não cobre outras necessidades, como habitação e vestuário. O indigente é aquele cuja renda não supre nem a compra dos alimentos considerados básicos.
"Realmente houve uma redução de pobreza no início da década de 90, mas esse ritmo de melhora se estagnou nos últimos cinco anos, e a partir de 2000 voltamos a registrar aumento nos níveis de pobreza", afirmou Rolando Franco, diretor da Cepal.
Franco lembra que, em 2000, quando houve um crescimento mais expressivo das economias, a taxa de pobreza recuou dos 43,8% registrados em 1999 para 42,1% da população total. Em 2000, os indigentes eram 17,9%, ante os 18,5% do ano anterior. Esses números significam que cerca de 4 milhões de pessoas conseguiram sair da pobreza nesse período.
Segundo Franco, a estagnação econômica e a queda no fluxo de investimentos para a região verificadas nos últimos anos são as responsáveis pela piora desses indicadores. "As economias não cresceram num ritmo suficiente para acompanhar as taxas de natalidade", afirmou.
Estudo divulgado pela própria Cepal no início do mês mostrou que os últimos seis anos foram perdidos para a América Latina, já que a expansão das economias não atingiu percentuais suficientes para acompanhar o crescimento populacional. Entre 1997 e 2002, o PIB (Produto Interno Bruto) dos países cresceu em média 1% ao ano, enquanto a população aumentou em 1,5%.
"No quadro geral dos países, a variação no número de pobres foi menor. Nessa lista encontram-se Brasil, Chile e México. Os casos mais graves foram vividos pela Argentina e pelo Uruguai, que tiveram as piores crises econômicas, com retração do PIB, o que não houve em outras nações."
O caso mais preocupante, segundo ele, foi o da Argentina. No país, o número de pobres e indigentes duplicou entre 1999 e 2002. No país vizinho, o percentual de pobres em relação à população saltou de 23,7% em 1999 para 45,4% em 2002. O número de indigentes subiu de 6,7% em 1999 para 20,9% no ano passado.
"O caso da Argentina foi especial, e para ele dedicamos até uma pesquisa de campo específica sobre 2002, enquanto com os outros países usamos como base informações de 2001 atualizadas por projeções", disse Franco.

Fome
De acordo com a Cepal, 11% da população latino-americana é subnutrida. As crianças continuam sendo as mais atingidas. A pesquisa da organização mostra que 9% das crianças com menos de cinco anos de idade têm desnutrição aguda, ou seja, estão abaixo do peso. Outros 19,4% sofrem de desnutrição crônica. Isso significa que, além do peso baixo, a fome deixou sequelas que podem comprometer a capacidade de aprendizado e desenvolvimento físico.


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