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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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TECNOLOGIA

Para especialistas, crescimento do mercado esbarra na falta de leis, o que onera o registro de novos agentes

Controle biológico de praga é pouco usado

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O controle biológico de pragas, embora em expansão, ainda é pouco usado por agricultores brasileiros como alternativa ao uso intensivo de produtos químicos nas lavouras.
Levantamento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) publicado em julho listou 41 métodos alternativos de controle fitossanitário com alguma adoção no país. Desses, 26 (ou 63,4%) são utilizados em menos de 10% da área da cultura infestada pela praga.
Para especialistas ouvidos pela Agência Folha, o crescimento desse mercado esbarra na falta de leis específicas para o setor, o que onera e atrasa o registro, pelas empresas, de novos agentes de controle biológico. Resistências culturais e ausência de normas de qualidade também dificultam a aceitação das técnicas.
O registro de cada produto passa por três órgãos federais e fica em torno de R$ 7.500. "Estamos tendo problemas com a legislação atual", diz o agrônomo e proprietário da Bug Agentes Biológicos, Danilo Pedrazoli.
Com duas exceções, não há no país aparato legal para inimigos naturais, que são regidos pela Lei de Agrotóxicos, de 1989. Para regularizar sua situação, Pedrazoli precisaria registrar 18 produtos, alguns com vendas anuais inferiores às taxas de cadastro.
Técnicas como o controle da broca da cana-de-açúcar e dos pulgões-do-trigo atingem mais de 50% da área infestada pelas pragas. O controle natural da lagarta-da-soja cresceu 60% nos últimos anos e atinge 1,6 milhão de hectares. O bioinseticida desenvolvido pela Embrapa Soja foi introduzido desde a década de 80 nas lavouras, com expressivos ganhos de produtividade.
Ainda assim, poucas empresas se interessam pela tecnologia, pois os bioinseticidas são mais específicos do que os produtos químicos. A produção fica com pequenas empresas, ao contrário dos agrotóxicos, cujo consumo anual está hoje acima de US$ 2 bilhões no país, contra US$ 1,5 bilhão em 1995.
O reitor da UFV (Universidade Federal de Viçosa), Evaldo Vilale, diz que "há uma incompreensão do governo, uma vez que ele depende de um agronegócio mais limpo e não favorece uma legislação que leve em conta as especificidades [do controle biológico]".
O coordenador da fiscalização de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Júlio Sérgio de Britto, diz que o controle biológico "está no limbo da legislação", mas ressalta que o governo prepara instruções normativas conjuntas para facilitar o registro de produtos menos agressivos ao ambiente.

"Cultura química"
Bem divulgados, de fácil utilização e eficazes no curto prazo, os agrotóxicos são usados em larga escala pelos agricultores. Já os métodos alternativos podem não apresentar resultados imediatos e demandam monitoramento minucioso.
Segundo o pesquisador José Cabral de Sousa Dias, da Embrapa Meio Ambiente, será necessário um grande trabalho de educação e assistência técnica para reverter a predominância da "cultura química" entre os produtores.
O entomologista e pesquisador Marcos Faria, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, diz que "os agentes de controle biológico seriam mais úteis se a qualidade fosse melhor do que é hoje".


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