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TECNOLOGIA
Para especialistas, crescimento do mercado esbarra na falta de leis, o que onera o registro de novos agentes
Controle biológico de praga é pouco usado
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O controle biológico de pragas,
embora em expansão, ainda é
pouco usado por agricultores brasileiros como alternativa ao uso
intensivo de produtos químicos
nas lavouras.
Levantamento da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) publicado em julho listou 41 métodos alternativos
de controle fitossanitário com alguma adoção no país. Desses, 26
(ou 63,4%) são utilizados em menos de 10% da área da cultura infestada pela praga.
Para especialistas ouvidos pela
Agência Folha, o crescimento
desse mercado esbarra na falta de
leis específicas para o setor, o que
onera e atrasa o registro, pelas
empresas, de novos agentes de
controle biológico. Resistências
culturais e ausência de normas de
qualidade também dificultam a
aceitação das técnicas.
O registro de cada produto passa por três órgãos federais e fica
em torno de R$ 7.500. "Estamos
tendo problemas com a legislação
atual", diz o agrônomo e proprietário da Bug Agentes Biológicos,
Danilo Pedrazoli.
Com duas exceções, não há no
país aparato legal para inimigos
naturais, que são regidos pela Lei
de Agrotóxicos, de 1989. Para regularizar sua situação, Pedrazoli
precisaria registrar 18 produtos,
alguns com vendas anuais inferiores às taxas de cadastro.
Técnicas como o controle da
broca da cana-de-açúcar e dos
pulgões-do-trigo atingem mais de
50% da área infestada pelas pragas. O controle natural da lagarta-da-soja cresceu 60% nos últimos
anos e atinge 1,6 milhão de hectares. O bioinseticida desenvolvido
pela Embrapa Soja foi introduzido desde a década de 80 nas lavouras, com expressivos ganhos
de produtividade.
Ainda assim, poucas empresas
se interessam pela tecnologia,
pois os bioinseticidas são mais específicos do que os produtos químicos. A produção fica com pequenas empresas, ao contrário
dos agrotóxicos, cujo consumo
anual está hoje acima de US$ 2 bilhões no país, contra US$ 1,5 bilhão em 1995.
O reitor da UFV (Universidade
Federal de Viçosa), Evaldo Vilale,
diz que "há uma incompreensão
do governo, uma vez que ele depende de um agronegócio mais
limpo e não favorece uma legislação que leve em conta as especificidades [do controle biológico]".
O coordenador da fiscalização
de agrotóxicos do Ministério da
Agricultura, Júlio Sérgio de Britto,
diz que o controle biológico "está
no limbo da legislação", mas ressalta que o governo prepara instruções normativas conjuntas para facilitar o registro de produtos
menos agressivos ao ambiente.
"Cultura química"
Bem divulgados, de fácil utilização e eficazes no curto prazo, os
agrotóxicos são usados em larga
escala pelos agricultores. Já os
métodos alternativos podem não
apresentar resultados imediatos e
demandam monitoramento minucioso.
Segundo o pesquisador José Cabral de Sousa Dias, da Embrapa
Meio Ambiente, será necessário
um grande trabalho de educação
e assistência técnica para reverter
a predominância da "cultura química" entre os produtores.
O entomologista e pesquisador
Marcos Faria, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, diz
que "os agentes de controle biológico seriam mais úteis se a qualidade fosse melhor do que é hoje".
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