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LUÍS NASSIF
Xadrez contra a planilha
É um clássico sobre o raciocínio complexo a entrevista do campeão mundial de
xadrez Garry Kasparov a Mônica Weinberg, nas páginas
amarelas da "Veja" desta semana. Bem questionado, o
maior campeão da história do
xadrez dá uma aula sobre como tratar com realidades
complexas, como desenvolver
raciocínios para analisar situações que se desdobrem em
muitas variáveis.
Não poderia ser mais oportuna neste país do pensamento monofásico dos cabeças de
planilha, que reduzem realidades complexas, como a economia, a fórmulas fechadas,
com uma ou duas variáveis
estáticas contempladas no
"manual". Esse tipo de pensamento linear é o grande obstáculo à modernização do país,
com sua incapacidade de escapar da lógica da prioridade
única, de relacionar aspectos
financeiro-contábeis a variáveis políticas, sociais etc.
Alguns trechos da entrevista:
"(...) Para o resto (os que
praticam o xadrez sem a obsessão dos campeões), o jogo
ajuda a abrir a cabeça. Está
comprovado que o xadrez
ajuda a melhorar a atenção, a
disciplina, o pensamento lógico e a imaginação. Não é por
acaso que, nas 13 mil escolas
americanas em que se ensina
xadrez, as crianças têm melhor desempenho em disciplinas como matemática e redação. Elas também demonstram ter um senso de responsabilidade mais aguçado".
"(...) Está na moda dizer que
tudo o que acontece de ruim é
responsabilidade de todo
mundo. O jogo coloca as coisas no seu devido lugar: é você
quem responde pelo movimento de suas peças, e mais
ninguém. Como na vida, você
é o único responsável pelos
próprios atos."
"(...) Consulto sempre "O Alquimista", que fica na minha
mesinha-de-cabeceira. Ele
mostra como a intuição é importante no processo de tomada de decisão. Uso isso no xadrez, que, diferentemente do
que muita gente acredita, não
é um jogo matemático finito,
previsível. O xadrez é matematicamente infinito. (...) Por
isso, a intuição é importante:
você tem de recorrer a ela na
hora de optar por um movimento no tabuleiro."
"(...) O computador nasce
programado para olhar o jogo
de um determinado jeito, com
uma estratégia preestabelecida, amarrada. E não muda.
Eu, não. Tenho a habilidade
de refazer a estratégia, trocar
minhas prioridades. A máquina é movida pela lógica do
cálculo perfeito. O homem
tem o poder de fazer julgamentos. Tenho certeza de que
o melhor homem, no seu melhor dia, ainda bate a eficiência da máquina -e vai ser assim durante muito tempo."
"(...) Pessoas que tenham
um mínimo de interesse pelo
jogo assimilam pelo menos o
básico. Quem consegue superar esse nível rudimentar demonstra uma rara capacidade para fazer julgamentos e
tomar decisões."
"(...) Falo para os executivos
nas palestras que dou pelo
mundo que eles perdem tempo demais com detalhes. Digo
que é importante ter distanciamento para olhar o jogo inteiro, uma visão panorâmica
que permita traçar estratégias. Poucos conseguem virar
essa chave."
Para governantes, o conselho é ainda mais útil.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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