São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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BC dos EUA vê terrorismo como ameaça à economia

Preocupações geopolíticas podem limitar integração econômica, diz Bernanke

Para o presidente do BC americano, líderes devem assegurar que os benefícios que derivem da integração sejam compartilhados


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Ben Bernanke, mais uma vez interveio em discurso e mais uma vez criou cenário de incerteza e volatilidade nos mercados. Agora, ele diz ver o terrorismo como freio na economia e na integração mundial.
"Os futuros avanços na integração econômica global não estão garantidos. As preocupações geopolíticas, inclusive as tensões internacionais e os riscos do terrorismo, condicionam o ritmo da integração econômica mundial e podem limitá-lo no futuro", diz. Segundo Bernanke, uma reação natural a tais riscos é recorrer a medidas protecionistas.
Uma globalização assimétrica, afirma o presidente do Fed, é o "desafio para que os líderes assegurem que os benefícios da integração econômica sejam suficientes e amplamente compartilhados".
"Por exemplo, ajudando trabalhadores deslocados a conseguir o treinamento necessário para aproveitar novas oportunidades. Isso não é fácil, tanto em nível nacional como global. No entanto o esforço é válido, uma vez que os benefícios em potencial de uma maior integração econômica global são consideráveis."
O discurso de Bernanke acontece no momento em que as relações comerciais entre EUA e China se encontram em situação delicada. Além disso, há pressões do governo americano em relação à transferência de empregos para a Índia, sobretudo no setor de serviços. O déficit comercial americano com a China ficou em US$ 202 bilhões em 2005.
Impasse entre EUA, União Européia e G20 (grupo de países em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia) sobre acesso aos mercados agrícolas dos países ricos levou recentemente ao colapso da Rodada Doha (de liberalização do comércio), o que pode trazer mais pressões protecionistas.
"As mudanças econômicas e tecnológicas devem encolher as distâncias ainda mais nos próximos anos, criando potencial para melhorias contínuas na produtividade, nos padrões de vida e uma redução da pobreza mundial", acrescentou.
O discurso de Bernanke em reunião com banqueiros e líderes empresariais em Jackson Hole (Estado de Wyoming) era o principal evento do dia para analistas e investidores. Esperavam-se recados, que não vieram, sobre os rumos da economia americana e da taxa de juros. A ausência de sinais manteve o cenário do dia anterior, com o mercado em alerta sobre o quadro de fluxo de investimentos a emergentes.
Em baixo volume de negócios, as Bolsas de Wall Street fecharam com tendência indefinida em seus principais indicadores, devido à demanda por ações do setor tecnológico e à alta do petróleo.
O índice Dow Jones recuou 0,18%, para 11.284,05 pontos, e a Nasdaq (que reúne ações de empresas de tecnologia) teve alta de 0,15%, aos 2.140,52 pontos. O barril do petróleo teve alta de 0,18%, vendido a US$ 72,49. Ao longo do dia, chegou a US$ 73,75.
Há menos de um ano à frente do Fed, a intenção de Bernanke é instalar gradualmente um sistema de metas explícitas de inflação, indicando ao mercado os patamares considerados adequados e, portanto, sinalizando melhor a movimentação da taxa de juros -hoje em 5,25%, após escaladas de 0,25 ponto percentual desde junho de 2004. Com essa transparência, Bernanke quer ser o mais direto possível em intervenções públicas, expressando claramente suas avaliações da conjuntura. Sua retórica, no entanto, tem elevado a instabilidade dos mercados e provocado uma onda de volatilidade nas Bolsas a cada discurso.


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