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EUA pedem investigação de fundos
País pressiona FMI e Banco Mundial por criação de código de conduta para fundos controlados por governos
Receio da Casa Branca é que, além de causar a alta dos preços de títulos, ações e imóveis, estrangeiro exerça interferência política no país
STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM
WASHINGTON
A administração Bush está
pressionando o FMI e o Banco
Mundial para examinarem o
comportamento dos chamados
fundos soberanos (controlados
por governos) e desenvolverem
possíveis códigos de conduta
para eles. Entre as regras propostas, está a obrigatoriedade
de revelar seus métodos de investimento e de evitar intervir
na política do país anfitrião.
Oficialmente os EUA saúdam todos os investimentos,
menos os que possam comprometer a segurança nacional. "O
dinheiro vai naturalmente se
dirigir a ativos baseados em dólar, devido à força de nossa economia", disse o secretário do
Tesouro, Henry Paulson. "Não
há nada que eu gostaria mais do
que conseguir mais desse dinheiro, mas compreendo que
existe um receio de que eles
acabem por comprar os EUA."
Uma das preocupações é de
natureza filosófica. Os EUA
pregam há anos o evangelho da
privatização, conclamando outros países a venderem suas indústrias pertencentes ao Estado. Agora, muitos especialistas estão indagando se investimentos de um país em outro podem
estar evoluindo para se tornarem nacionalizações de um
país para outro, criando a perspectiva de ingerência governamental nos mercados livres.
Embora pareça que os fundos soberanos não tenham
exercido um papel na turbulência recente dos mercados globais, especialistas dizem que
eles poderão fazê-lo no futuro,
de maneiras favoráveis e também desfavoráveis -ou vendendo ativos repentinamente
e, com isso, precipitando uma
crise, ou socorrendo fundos ou
empresas que estejam passando por problemas.
"Quando se tem governos estrangeiros em posse de ações e
títulos, e não apenas valores do
Tesouro, é obrigatório questionar se eles serão uma força estabilizadora ou desestabilizadora," disse Edwin M. Truman, membro do Instituto Peterson
de Economia Internacional.
Truman disse que seria fácil
imaginar que, numa crise global futura, Paulson teria que
pedir a ajuda não apenas de
banqueiros centrais mas também dos diretores de fundos
soberanos. "É possível que já
esteja ligando para eles agora."
O furor político em torno
desses fundos ainda tem sido limitado. Os esforços feitos neste
ano pela China e por Cingapura
para comprar participações no
Barclays Bank, no Reino Unido,
e do Qatar para comprar a rede
de supermercados Sainsbury's,
também no Reino Unido, provocaram poucas reações nos
britânicos. Tampouco a tentativa de compra da rede americana Barney's por Dubai.
Mas na Alemanha, onde provoca inquietação a compra de
oleodutos e infra-estrutura
energética pela Rússia, que está
pressionando a Europa para
obter ganhos políticos, a chanceler Angela Merkel já avisou
que as aquisições por governos
estrangeiros ou empresas controladas por eles representam
um risco. "Como lidamos de fato com os fundos controlados
por Estados?" questionou Merkel à imprensa. "É um fenômeno que ainda não tinha sido visto em escala tão grande."
Provavelmente a turbulência
mais política gerada por um
fundo soberano ocorreu quando a Temasek Holdings, o ramo
de investimentos de Cingapura, de propriedade do Estado,
comprou uma participação numa empresa do primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin
Shinawatra. A transação gerou
manifestações contra o governo que acabaram com a derrubada de Shinawatra num golpe
de Estado em 2006.
O receio é que, além da possibilidade de os fundos estrangeiros provocarem a alta dos
preços de títulos, ações e imóveis, eles possam exercer controle inapropriado, político ou
na esfera privada.
Recentemente o presidente
Bush assinou uma lei para enxugar o processo de análise e
rejeição de aquisições de empresas americanas por estrangeiros. Mas, segundo o Tesouro, esses casos abrangem só 10% desse tipo de aquisição.
Uma reação de repúdio ocorreu quando uma empresa controlada por Dubai tentou assumir a administração de vários portos nos EUA e quando uma
petrolífera do governo chinês
tentou comprar a Unocal.
O fato sugere que os americanos talvez não aceitem a quantidade crescente de aquisições
por estrangeiros. "O governo
Bush tem razão em estudar esse fenômeno, não com alarme,
mas com atenção", disse Stephen Jen, do Morgan Stanley.
"O que deve ser mais transparente são a estratégia e a governança desses fundos, para que
não surjam suspeitas de alguma tática geopolítica sombria
em seus investimentos."
Tradução de CLARA ALLAIN
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