São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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EUA pedem investigação de fundos

País pressiona FMI e Banco Mundial por criação de código de conduta para fundos controlados por governos

Receio da Casa Branca é que, além de causar a alta dos preços de títulos, ações e imóveis, estrangeiro exerça interferência política no país

STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A administração Bush está pressionando o FMI e o Banco Mundial para examinarem o comportamento dos chamados fundos soberanos (controlados por governos) e desenvolverem possíveis códigos de conduta para eles. Entre as regras propostas, está a obrigatoriedade de revelar seus métodos de investimento e de evitar intervir na política do país anfitrião.
Oficialmente os EUA saúdam todos os investimentos, menos os que possam comprometer a segurança nacional. "O dinheiro vai naturalmente se dirigir a ativos baseados em dólar, devido à força de nossa economia", disse o secretário do Tesouro, Henry Paulson. "Não há nada que eu gostaria mais do que conseguir mais desse dinheiro, mas compreendo que existe um receio de que eles acabem por comprar os EUA."
Uma das preocupações é de natureza filosófica. Os EUA pregam há anos o evangelho da privatização, conclamando outros países a venderem suas indústrias pertencentes ao Estado. Agora, muitos especialistas estão indagando se investimentos de um país em outro podem estar evoluindo para se tornarem nacionalizações de um país para outro, criando a perspectiva de ingerência governamental nos mercados livres.
Embora pareça que os fundos soberanos não tenham exercido um papel na turbulência recente dos mercados globais, especialistas dizem que eles poderão fazê-lo no futuro, de maneiras favoráveis e também desfavoráveis -ou vendendo ativos repentinamente e, com isso, precipitando uma crise, ou socorrendo fundos ou empresas que estejam passando por problemas.
"Quando se tem governos estrangeiros em posse de ações e títulos, e não apenas valores do Tesouro, é obrigatório questionar se eles serão uma força estabilizadora ou desestabilizadora," disse Edwin M. Truman, membro do Instituto Peterson de Economia Internacional.
Truman disse que seria fácil imaginar que, numa crise global futura, Paulson teria que pedir a ajuda não apenas de banqueiros centrais mas também dos diretores de fundos soberanos. "É possível que já esteja ligando para eles agora."
O furor político em torno desses fundos ainda tem sido limitado. Os esforços feitos neste ano pela China e por Cingapura para comprar participações no Barclays Bank, no Reino Unido, e do Qatar para comprar a rede de supermercados Sainsbury's, também no Reino Unido, provocaram poucas reações nos britânicos. Tampouco a tentativa de compra da rede americana Barney's por Dubai.
Mas na Alemanha, onde provoca inquietação a compra de oleodutos e infra-estrutura energética pela Rússia, que está pressionando a Europa para obter ganhos políticos, a chanceler Angela Merkel já avisou que as aquisições por governos estrangeiros ou empresas controladas por eles representam um risco. "Como lidamos de fato com os fundos controlados por Estados?" questionou Merkel à imprensa. "É um fenômeno que ainda não tinha sido visto em escala tão grande."
Provavelmente a turbulência mais política gerada por um fundo soberano ocorreu quando a Temasek Holdings, o ramo de investimentos de Cingapura, de propriedade do Estado, comprou uma participação numa empresa do primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra. A transação gerou manifestações contra o governo que acabaram com a derrubada de Shinawatra num golpe de Estado em 2006.
O receio é que, além da possibilidade de os fundos estrangeiros provocarem a alta dos preços de títulos, ações e imóveis, eles possam exercer controle inapropriado, político ou na esfera privada.
Recentemente o presidente Bush assinou uma lei para enxugar o processo de análise e rejeição de aquisições de empresas americanas por estrangeiros. Mas, segundo o Tesouro, esses casos abrangem só 10% desse tipo de aquisição.
Uma reação de repúdio ocorreu quando uma empresa controlada por Dubai tentou assumir a administração de vários portos nos EUA e quando uma petrolífera do governo chinês tentou comprar a Unocal.
O fato sugere que os americanos talvez não aceitem a quantidade crescente de aquisições por estrangeiros. "O governo Bush tem razão em estudar esse fenômeno, não com alarme, mas com atenção", disse Stephen Jen, do Morgan Stanley.
"O que deve ser mais transparente são a estratégia e a governança desses fundos, para que não surjam suspeitas de alguma tática geopolítica sombria em seus investimentos."


Tradução de CLARA ALLAIN


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