São Paulo, quarta-feira, 26 de agosto de 2009

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Deficit das contas externas triplica em julho

Retomada do crescimento gera aumento mais forte que o esperado nas importações e nas remessas de lucros ao exterior, diz BC

Para sustentar o aumento do nível de atividade, país tem de recorrer a matérias-primas importadas e investimento estrangeiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os sinais de recuperação da economia já provocam uma piora na situação das contas externas do Brasil. Segundo o Banco Central, a retomada do crescimento da economia tem provocado aumento mais forte do que o esperado nas importações e nas remessas de lucros para o exterior, o que tem colaborado para a deterioração dos indicadores do país.
Em outras palavras, o país está tendo que recorrer a matérias-primas importadas e a investimentos estrangeiros para sustentar o reaquecimento da economia. E o preço pago por isso é o aumento no volume de dólares enviados ao exterior para financiar esse processo.
Esse movimento é visto no comportamento da conta de transações correntes, que contabiliza a compra e a venda de bens e serviços (inclusive os financeiros) com outros países.
No mês passado, esse saldo ficou negativo em US$ 1,66 bilhão, o dobro do que era previsto pelo BC e o triplo do valor registrado em junho deste ano.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, trata-se de uma reversão do movimento que se observou no primeiro semestre, quando a recessão causada pelo agravamento da crise global acabou provocando uma melhora nas contas externas do país.
Entre janeiro e julho, o deficit em transações correntes ficou acumulado em US$ 8,74 bilhões, com queda de 54% em relação ao saldo negativo observado no mesmo período de 2008. De agora em diante, porém, o Banco Central aposta num cenário diferente. "A tendência é de uma certa piora, em linha com o andamento do nível de atividade", diz Lopes.
Já entre junho e julho últimos, houve um aumento de 14% nas importações feitas pelo país. E as remessas de lucros ao exterior realizadas pelas empresas chegaram a US$ 1,75 bilhão no mês passado, valor que, embora menor do que o registrado em junho -mês em que normalmente há uma concentração de remessas devido ao fechamento do primeiro semestre-, foi quase o dobro do US$ 1 bilhão esperado pelo BC.

Alta inesperada
Essa alta inesperada se concentrou nas empresas do setor automotivo, que no mês passado enviaram US$ 526 milhões em dividendos para fora do país. Trata-se do setor que, ao lado do financeiro, mais manda dinheiro para as matrizes.
Para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a deterioração das contas externas não chega a ser preocupante no curto prazo, mas pode trazer problemas com o passar do tempo.
Segundo Lacerda, o país deveria ter como objetivo manter saldos positivos em transações correntes, o que tornaria a economia menos dependente de fluxos de capital externo.
Para isso, diz ele, medidas deveriam ser tomadas para evitar uma valorização muito forte do real, o que reduz a competitividade das exportações brasileiras. "Não é nada que vá impedir que o país cresça 4% no ano que vem, mas algo que pode ser danoso no longo prazo."
Já o economista Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), diz que a questão do câmbio é importante, mas não tem sido preponderante para a recente queda das exportações brasileiras, movimento que, segundo ele, tem sido muito influenciado pelo desaquecimento da economia mundial.
"O câmbio afeta negativamente muitos exportadores, mas as exportações respondem por somente 15% do PIB. Por outro lado, o dólar em queda favorece o setor de serviços, que tem peso de 60% no PIB", diz.


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