|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Deficit das contas externas triplica em julho
Retomada do crescimento gera aumento mais forte que o esperado nas importações e nas remessas de lucros ao exterior, diz BC
Para sustentar o aumento do nível de atividade, país tem de recorrer a matérias-primas importadas e investimento estrangeiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os sinais de recuperação da
economia já provocam uma
piora na situação das contas externas do Brasil. Segundo o
Banco Central, a retomada do
crescimento da economia tem
provocado aumento mais forte
do que o esperado nas importações e nas remessas de lucros
para o exterior, o que tem colaborado para a deterioração dos
indicadores do país.
Em outras palavras, o país está tendo que recorrer a matérias-primas importadas e a investimentos estrangeiros para
sustentar o reaquecimento da
economia. E o preço pago por
isso é o aumento no volume de
dólares enviados ao exterior
para financiar esse processo.
Esse movimento é visto no
comportamento da conta de
transações correntes, que contabiliza a compra e a venda de
bens e serviços (inclusive os financeiros) com outros países.
No mês passado, esse saldo
ficou negativo em US$ 1,66 bilhão, o dobro do que era previsto pelo BC e o triplo do valor registrado em junho deste ano.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco
Central, Altamir Lopes, trata-se de uma reversão do movimento que se observou no primeiro semestre, quando a recessão causada pelo agravamento da crise global acabou
provocando uma melhora nas
contas externas do país.
Entre janeiro e julho, o deficit em transações correntes ficou acumulado em US$ 8,74 bilhões, com queda de 54% em
relação ao saldo negativo observado no mesmo período de
2008. De agora em diante, porém, o Banco Central aposta
num cenário diferente. "A tendência é de uma certa piora, em
linha com o andamento do nível de atividade", diz Lopes.
Já entre junho e julho últimos, houve um aumento de
14% nas importações feitas pelo país. E as remessas de lucros
ao exterior realizadas pelas empresas chegaram a US$ 1,75 bilhão no mês passado, valor que,
embora menor do que o registrado em junho -mês em que
normalmente há uma concentração de remessas devido ao
fechamento do primeiro semestre-, foi quase o dobro do
US$ 1 bilhão esperado pelo BC.
Alta inesperada
Essa alta inesperada se concentrou nas empresas do setor
automotivo, que no mês passado enviaram US$ 526 milhões
em dividendos para fora do
país. Trata-se do setor que, ao
lado do financeiro, mais manda
dinheiro para as matrizes.
Para o economista Antônio
Corrêa de Lacerda, professor
da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a deterioração
das contas externas não chega a
ser preocupante no curto prazo, mas pode trazer problemas
com o passar do tempo.
Segundo Lacerda, o país deveria ter como objetivo manter
saldos positivos em transações
correntes, o que tornaria a economia menos dependente de
fluxos de capital externo.
Para isso, diz ele, medidas deveriam ser tomadas para evitar
uma valorização muito forte do
real, o que reduz a competitividade das exportações brasileiras. "Não é nada que vá impedir
que o país cresça 4% no ano que
vem, mas algo que pode ser danoso no longo prazo."
Já o economista Luís Afonso
Lima, presidente da Sobeet
(Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), diz que a questão do
câmbio é importante, mas não
tem sido preponderante para a
recente queda das exportações
brasileiras, movimento que, segundo ele, tem sido muito influenciado pelo desaquecimento da economia mundial.
"O câmbio afeta negativamente muitos exportadores,
mas as exportações respondem
por somente 15% do PIB. Por
outro lado, o dólar em queda favorece o setor de serviços, que
tem peso de 60% no PIB", diz.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Odor de santidade Próximo Texto: Frases Índice
|