|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sadia perde R$ 760 milhões no mercado
Empresa é a primeira não-financeira no país a admitir prejuízo com crise e pode ter prejuízo de R$ 200 milhões neste ano
Diretor financeiro da Sadia
é trocado; para analistas,
outras empresas que estão
alavancadas em dólares
podem ter problema
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sadia anunciou ontem que
liquidou antecipadamente operações realizadas no mercado
financeiro relacionadas à variação do dólar, em razão "da severidade da crise internacional e
da alta volatilidade da cotação
da moeda norte-americana".
Com isso, a Sadia se tornou a
primeira empresa brasileira
não-financeira a admitir perda
ligada diretamente à crise nos
mercados financeiros. Analistas esperam perdas similares
em outras empresas.
A decisão representou perdas de R$ 760 milhões à empresa e deverá significar prejuízo
no ano. Na estimativa de Denise Messer, analista do banco
Brascan, o prejuízo líquido da
Sadia no ano será de R$ 224 milhões, contra lucro líquido de
R$ 689 milhões do ano passado. Antes do anúncio, o Brascan
projetava lucro de R$ 536 milhões para a Sadia em 2008.
Adriano Ferreira, diretor financeiro da empresa, foi substituído por Welson Teixeira Junior, diretor de Controladoria e
de Relações com Investidores.
"O anúncio é bastante negativo para a empresa, que estava
muito alavancada e certamente
não esperava uma crise dessa
magnitude", diz Messer.
A opinião parece ser unânime entre os analistas. De acordo com Renato Prado, analista
do Banco Fator, a Sadia errou
em seu planejamento financeiro ao assumir posição maior do
que deveria.
"Teremos uma conferência
com a empresa amanhã [hoje]
para entender melhor, mas a
impressão é que se trata de uma
empresa de alimentos operando numa área [mercado financeiro] que não é de sua expertise", diz Prado. Isso porque a
operação feita no mercado financeiro foi superior às necessidades de proteção das atividades da Sadia expostas à variação cambial. Conhecida como
hedge, a proteção cambial é
prática comum das empresas
cujas operações são expostas a
oscilações cambiais.
Segundo Gilberto Tomazoni,
presidente da Sadia, a companhia tem uma política de investimentos conservadora.
"Temos uma política de risco
limitada [ao equivalente] a seis
meses de nossas exportações e
estávamos expostos em um ano
dessas exportações", afirma
Tomazoni. "Quando o conselho
tomou conhecimento de que a
área financeira tinha feito esses
excedentes determinou que a
empresa fosse enquadrada nos
níveis de risco determinados.
Como estávamos no momento
de maior volatilidade internacional, houve toda essa perda."
Segundo Tomazoni, a Sadia
não confirma a expectativa de
prejuízo. "Divulgamos expectativas de crescimento e Ebitda
[lucro operacional] e estamos
mantendo-os já que a empresa
vive seu melhor momento", diz.
Segundo os analistas, a Sadia
não foi a única a fazer esse tipo
de operação. Empresas com
grande caixa como a Sadia, cujas entradas somam R$ 2 bilhões, "certamente" agiram da
mesma maneira e deverão realizar correções semelhantes.
"Há grandes chances de outras empresas divulgarem resultados finais negativos em razão da crise", diz Messer.
A liquidação das operações
do mercado foi feita com caixa
da própria Sadia, que afirmou
ainda ter tomado linhas de crédito que garantirão o funcionamento normal das operações.
"O fato limitou-se à operação
financeira e não afetará as atividades industriais e comerciais que continuam em expansão", diz Tomazoni.
Apesar de o comunicado ter
sido divulgado após o fechamento do mercado, os papéis
da Sadia registraram perdas. A
ação preferencial (sem direito a
voto) da Sadia foi a que mais
caiu na Bovespa ontem, com
desvalorização de 2%.
Mesmo com a operação, a Sadia diz ter perspectivas favoráveis: a demanda continua aquecida, os preços no mercado externo já incorporaram as altas
das matérias-primas e as cotações de milho e soja perderam
força. Os investimentos de R$
1,6 bilhão e o faturamento de
R$ 12 bilhões previstos para este ano estão mantidos.
Texto Anterior: Setor de bens de capital inicia desaceleração Próximo Texto: Crise paralisa investimentos, afirma Ipea Índice
|