São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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TURISMO

EUA eram maior mercado da operadora; dificuldade começou com máxi de 99

Atentado acelera quebra da Soletur; dívida é de R$ 30 mi


SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Uma das maiores operadoras de turismo do Brasil, a Soletur admitiu ontem que sua falência é resultado de uma dívida que atingiu o valor de R$ 30 milhões e que seu patrimônio, avaliado em R$ 25 milhões, é inferior a ela.
Os principais credores da empresa, de acordo com o advogado Eduardo Antônio Kalache, são bancos, entre os quais o Bradesco, empresas aéreas e hotéis no Brasil e no exterior (aproximadamente R$ 7 milhões para cada um desses setores).
Segundo o advogado, a Soletur vinha num processo de endividamento desde 1999, quando houve a desvalorização do real ante o dólar, moeda utilizada pela operadora para vender seus pacotes de viagem.
O agravamento da crise, entretanto, teria acontecido com os atentados terroristas de 11 setembro nos Estados Unidos. Segundo a empresa, antes dos ataques 70% dos seus pacotes eram para o exterior e 40% para a América do Norte, dos quais 70% para Nova York. Cerca de 800 pessoas viajavam semanalmente para Nova York pela Soletur, o que representava um terço do total do seu faturamento.

Juros altos
"A Soletur não estavam bem desde 1999, quando, para continuar operando, teve de contrair empréstimos bancários a juros altos. Com os atentados, a situação, que começava a se equilibrar, ficou ainda pior. Os pacotes para os EUA, e especialmente para Nova York, praticamente zeraram", explicou Kalache.
Ele informou que logo nos primeiros dias após os ataques o prejuízo da operadora com passagens e hotéis já reservados chegava a US$ 2 milhões.

Nota em jornais
A decisão de pedir falência foi tomada na terça-feira à noite, confessada no dia seguinte à Justiça e ontem ao público por meio de nota publicada em dois jornais de circulação nacional. Todas as operações de venda realizadas a partir de terça-feira foram canceladas.
"Não havia possibilidade de continuar. Também não havia outra alternativa, como pedir concordata, por exemplo. Quem é que vai confiar numa operadora de turismo em concordata?", questionou.
O caso foi para a 8ª Vara de Falências e Concordatas do Tribunal de Justiça do Rio e será analisado pelo juiz Alexander Macedo. Ele deverá decretar em dois dias a falência da Soletur e nomeará um síndico para gerir a dívida da companhia.
De acordo com Kalache, o ativo da operadora é composto por imóveis, créditos bancários, equipamentos, marcas e patentes e contas a receber. Ele explicou que, caso o passivo seja realmente maior do que o patrimônio da Soletur -os valores exatos serão avaliados pelo síndico-, haverá prioridades de pagamento.
"Os primeiros a ser pagos serão os funcionários e os créditos trabalhistas. Depois, a Previdência, o fisco, os encargos da massa falida e os credores."

Salários em dia
A empresa tinha 450 empregados em todo o Brasil, que, segundo o advogado, estão com seus salários em dia. "Parte do 13º salário já foi paga e, em breve, eles poderão sacar o FGTS", afirmou.


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