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VIZINHO EM CRISE
Presença de ministro em encontro de governadores provoca troca de insultos; acordo segue em impasse
Reunião com Cavallo quase acaba em briga
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
O impasse nas negociações do
pacto fiscal entre o governo argentino e as Províncias permanecia ontem após mais de uma semana de reuniões. Com posições
inconciliáveis de ambas as partes,
houve ontem trocas de insultos,
ameaças de agressões físicas e
mais um adiamento na definição
das negociações. A falta de um
acordo atrasa mais uma vez o esperado pacote econômico, que
tem o pacto fiscal como uma de
suas precondições.
"Não conseguimos chegar a nenhum acordo. Após uma semana
na capital, temos que voltar a nossas Províncias para cuidar dos
problemas de nossa gente", anunciou o governador de San Luis,
Adolfo Rodríguez Saá, ao anunciar a retirada dos governadores
do Partido Justicialista (PJ, oposição) das negociações após mais
de seis horas de reunião.
Os governadores do PJ disseram que deixariam seus secretários de Economia em Buenos Aires para aguardar uma contraproposta do governo federal. Os governadores da Aliança (a coalizão
governista) permaneciam em negociações. O PJ comanda 14 das
23 Províncias argentinas.
O ministro da Economia, Domingo Cavallo, que retornou ontem pela manhã de uma viagem-surpresa de dois dias a Nova
York, participou pela primeira
vez pessoalmente das negociações, até então a cargo somente
do chefe de Gabinete de Ministros, Chrystian Colombo.
A presença de Cavallo, a quem
os governadores acusam de atrasar os pagamentos dos repasses
devidos às Províncias, acirrou os
ânimos na reunião de ontem à
tarde, iniciada por volta das 14h.
Soco na mesa
Durante a exposição verbal de
Cavallo, o governador de Santa
Cruz, Nestor Kirchner, também
do PJ, interrompeu-o para reclamar de que não trazia nenhuma
proposta nova, e, segundo os presentes, seguiram-se insultos mútuos e socos na mesa. Os dois tiveram que ser contidos pelos outros
governadores presentes.
"Cavallo está acostumado a faltar com o respeito com as pessoas.
Ele precisa aprender a discutir as
idéias democraticamente", disse
Kirchner na saída da reunião.
Ele acusa a intransigência do
governo, que pretende cortar os
repasses às Províncias, pela impossibilidade de um acordo. "Viemos com toda a vontade do mundo para fechar um acordo, que
não chegou por intransigência do
governo, que quer manter a política de déficit zero à custa das Províncias", disse Kirchner.
O governo conseguiu fechar
suas contas no mês passado com
um superávit de US$ 124,7 milhões graças aos atrasos de mais
de US$ 500 milhões nos repasses
devidos às Províncias. Os governadores reclamam a manutenção
de um piso de US$ 1,364 bilhão
mensais, negociado em 2000.
Mistério
Cavallo manteve ontem o mistério sobre a razão de sua visita aos
EUA. Ele desembarcou pela manhã, sem dar declarações à imprensa, e reuniu-se rapidamente
com o presidente Fernando de la
Rúa, antes de seguir para a reunião com os governadores.
A possibilidade de ele ter ido
discutir uma possível dolarização
da economia argentina começou
a perder força ontem. Para muitos
analistas, a dolarização não faz
parte dos planos atuais do governo. Ela só seria um caminho em
caso de um agravamento da crise,
como opção à desvalorização, como já admitiram membros do
próprio governo.
Instrumento de pressão
Alguns membros da equipe econômica são defensores da dolarização imediata, mas Cavallo não é
um deles. Os recentes rumores sobre medidas que possam incentivar uma dolarização teriam dois
objetivos básicos: reduzir a pressão do mercado por uma desvalorização e servir como instrumento de pressão por uma ajuda por
parte dos governos dos Estados
Unidos e do Brasil.
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