São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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TRABALHO

Sindicato dos petroleiros ameaça intensificar movimento e decide hoje se vai garantir produção mínima de gás

Negociações fracassam e greve continua

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A FUP (Federação Única dos Petroleiros) se retirou ontem à noite das negociações com a Petrobras, insatisfeita com a primeira proposta de acordo salarial apresentada pela companhia. A direção do sindicato ameaça intensificar a greve e decidirá hoje se vai cumprir ou não o acordo firmado horas antes com a estatal para garantir uma produção mínima de gás.
Os petroleiros reivindicam aumento salarial de 68,29%, incluindo reposição da inflação de 12 meses, perdas no Plano Real e produtividade. Ontem, a Petrobras manteve a oferta, anterior à greve, de reajuste de 6%, mas ofereceu antecipar dois salários, e não mais um salário e meio, a título de participação nos lucros.
"A Petrobras ficou dois dias sinalizando que apresentaria uma proposta bastante interessante, se fosse garantida a produção mínima. O que foi apresentado é ridículo", disse Mozart Queiroz, diretor da FUP. Segundo ele, assembléias realizadas hoje decidirão se será respeitado o acordo para a produção de gás. "Diante da proposta, documentos têm sua validade questionada. É justo reconsiderarmos o acordo."

Gás
A negociação salarial só foi aberta às 19h, depois que a Petrobras, que teme o desabastecimento de gás no Sul e no Sudeste, concordou com o volume mínimo de produção proposto pela FUP.
A estatal exigia um volume mínimo de produção de gás, na bacia de Campos, de 7,2 milhões de metros cúbicos, e a retomada das atividades em nove das 38 plataformas. Os grevistas propuseram uma extração mínima de 6,5 milhões de metros cúbicos, em seis unidades.
Ontem, o volume de gás produzido na bacia de Campos foi de 6 milhões de metros cúbicos, segundo a Petrobras, abaixo da produção estimada de 18 milhões. Em todo o país, a produção ficou em 25 milhões de metros cúbicos, contra previsão de 38 milhões.
O ministro José Jorge (Minas e Energia) disse ontem que o governo está preocupado com o abastecimento de gás durante a greve dos petroleiros.
"Por enquanto, o que preocupa mais é o gás, que tem capacidade de estocagem muito pequena, diferente do combustível [líquido"", disse. O risco da falta de combustíveis, de acordo com o ministro, "depende do tempo que a greve durar".
O gás, de acordo com a Petrobras, só pode ser armazenado nos próprios gasodutos, que necessitam de uma vazão mínima de gás para operar. Os dutos precisam de pressão que permita que o produto chegue até as distribuidoras.
Essas empresas, por sua vez, repassam o produto a clientes industriais, residências (na forma de gás canalizado) e postos de GNV (Gás Natural Veicular). Segundo ele, o gás de cozinha também pode ser processado a partir do gás natural.
A CEG (Companhia de Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro) informou que, devido à greve, já reduziu o volume de distribuição de gás aos seus clientes. Segundo a empresa, a termelétrica Eletrobolt (RJ) já foi afetada e clientes industriais e postos de GNV também podem ser atingidos.
Nas unidades da Bayer no Estado do Rio, segundo a Folha apurou, ocorreu um corte de 12% no abastecimento de gás. Segundo o chefe de energia das unidades da empresa em Belford Roxo (Baixada Fluminense), Roberto Salvador, essa redução causou queda de 25% na produção de poliuretano e fertilizantes.
Se a situação do gás é crítica, a Petrobras se mostra tranquila em relação ao abastecimento de derivados de petróleo.
Fraga disse que existem estoques suficientes para garantir o abastecimento com folga. Com relação ao abastecimento de combustíveis, o Sindicom (Sindicatos das Distribuidoras de Combustíveis) afirma que tem estoque para cinco ou seis dias, fora o que a própria Petrobras tem armazenado.

Adesão à greve
A adesão à greve dos petroleiros ficou praticamente inalterada ontem. Continuavam paradas nove das dez refinarias da Petrobras, segundo a FUP.
No entanto, os trabalhadores da Refap (Refinaria Alberto Pasqualini), em Canoas (RS), abandonaram o movimento. Por outro lado, a Regap (Refinaria Gabriel Passos), em Betim (MG), aderiu à paralisação. A Petrobras confirma a parada parcial de nove unidades de refino.


Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal do Rio


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