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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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TRANSPORTE

Governo concederá prazos mais longos e juros menores para não comprometer escoamento da safra agrícola

Ferrovias devem ter socorro de R$ 2,4 bi do BNDES

Toni Pires - 6.jun.00/Folha Imagem
Rede ferroviária em Bauru, no interior do Estado de São Paulo; depois da privatização, linhas de trem ficaram em más condições


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As empresas do setor ferroviário receberão até 2004 pelo menos R$ 2,41 bilhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do governo entre contratos já assinados ou em fase final de análise.
O governo anunciou neste mês que os empréstimos do banco estatal para a compra de equipamentos pelo setor passarão a ter o dobro de prazo (de cinco anos para dez anos) e juros mais baixos.
De acordo com Rômulo Martins Santos, chefe do Departamento de Logística do BNDES, os investimentos já estão atrasados, especialmente na construção de vagões. Ele disse que, se o setor "ficar marcando passo", vai faltar transporte ferroviário para o escoamento da safra agrícola de 2004. Somente para o transporte de soja, a demanda adicional de transporte ferroviário esperada para o próximo ano é de um milhão de toneladas, aproximadamente 30% do total transportado este ano.
Segundo o BNDES, somente a Ferronorte, que liga o Estado de Mato Grosso ao porto de Santos, deverá transportar 10 milhões de toneladas em 2004, mais que o dobro deste ano (4,8 milhões) e mais que dez vezes o total transportado em 2001 (900 mil toneladas). A carga é, basicamente, grãos e fertilizantes.

Vagões
Para viabilizar a recuperação das ferrovias e a expansão da capacidade de transporte do setor, o BNDES financiará adaptações de estruturas de fábricas já existentes para a produção de truques (as plataformas com rodas dos vagões). A única fábrica de vagões existente no país é a Maxion, cuja capacidade de produção está totalmente tomada.
O BNDES tem pedidos de financiamentos para 3.426 vagões para uso nas ferrovias ALL (América Latina Logística) e Brasil Ferrovias (reúne a Ferronorte e a Ferroban) e pela Vale do Rio Doce. As encomendas somam aproximadamente R$ 500 milhões. A Vale já encomendou neste ano, sem a ajuda do BNDES, 2.010 vagões e 77 locomotivas e tem demanda para mais 2.490 vagões e 93 locomotivas.
Como antigas fundições criadas especialmente para fabricar vagões fecharam as portas nos últimos anos, como a Cobrasma, o BNDES está estimulando fundições que não fabricam os equipamentos a passar a fazê-los, ainda que temporariamente. Segundo Santos, a Fundição Tupy (Santa Catarina) e a gaúcha Randon (carrocerias) deverão entrar no programa.
O banco financiará a produção dos vagões a juros de TJLP (taxa de juros de longo prazo) mais 4,5% ao ano e prazo de dez anos. A TJLP, reajustada trimestralmente, está em 11% ao ano.

Nordeste
Entre as concessionárias de transporte ferroviário, a que deverá receber maior volume de recursos é a CFN (Companhia Ferroviária do Nordeste), controlada pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).
Ela terá R$ 220 milhões do BNDES, sendo R$ 100 milhões de empréstimo e R$ 120 milhões de capitalização. O governo federal investirá R$ 1 bilhão para construir a ferrovia Transnordestina, dentro da sua área de concessão. A soma dos recursos chega a R$ 1,22 bilhão.
A Brasil Ferrovias já tem com o BNDES contratos que somam R$ 700 milhões, dos quais R$ 200 milhões ainda faltam ser liberados -R$ 140 milhões para a Ferronorte e R$ 60 milhões para a Ferroban.
A MRS Logística está prestes a assinar um contrato de R$ 300 milhões. A ALL terá R$ 150 milhões do banco estatal e a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), controlada pela Vale, receberá R$ 40 milhões de um contrato de R$ 280 milhões em fase final de desembolsos.
Santos disse que o BNDES vem estimulando um maior entendimento entre as concessionárias sobre o direito de passagem das cargas da malha de uma para outra. A falta de entendimento nessa área é apontada como um dos motivos para o fracasso -em relação ao que se esperava- da privatização das ferrovias.
Quanto a obras de expansão, cuja prioridade é a construção do ferroanel de São Paulo (uma interligação entre a MRS e a Brasil Ferrovias, contornando a capital paulista), no valor de aproximadamente R$ 600 milhões, o BNDES está convencido de que elas só serão viáveis com investimentos diretos da União, como deve ocorrer no caso da Transnordestina.
Em maio, o governo anunciou um plano de reformulação do setor ferroviário, "privatizado" em 1996. Entre outras coisas, o plano previa modificações nas áreas de atuação das concessionárias privadas e mudanças nos grupos de controle e dessas empresas.


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