UOL


São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FIM DO SUFOCO?

Encomendas crescem em relação a 2002; ainda que vendas subam no Natal, devem apenas compensar perdas

Lojas fecham pedidos para garantir produto

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento da Folha com indústrias de eletrônicos e eletroportáteis, fabricantes de brinquedos, operadoras de telefonia celular e lojas mostra que as encomendas já feitas para o Natal deste ano estão de 5% a 20% acima das do ano passado. Ao contrário de 2002, alguns segmentos do comércio se anteciparam e, neste mês, já reconfirmaram os pedidos. Até 70% do que será vendido em dezembro já foi encomendado pelo varejo.
O ritmo acelerado no fechamento de pedidos se contrapõe à lenta velocidade de retorno dos consumidores às lojas. No entanto tem razão de existir. "Isso ocorreu porque as redes querem garantir logo o fornecimento como uma espécie de segurança. Há casos raros de pedidos mais ousados, além da média do mercado, na tentativa da loja de se proteger caso a demanda cresça muito", diz Cláudio Vita Filho, vice-presidente da Philco.
Esse movimento ocorre por diversas razões. Em primeiro lugar, as indústrias em geral, que atendem principalmente o mercado interno, reduziram sua capacidade de produção, demitiram pessoal e desaceleraram a compra de insumos nos últimos meses. Isso por conta da forte retração do consumo no país.
O comércio sabe bem que o aumento no nível de produção industrial não ocorre do dia para a noite. Por isso, se protegeu como pôde e fechou logo os pedidos.
Além disso, cresceram os rumores de possível falta de determinados modelos de produtos para o final do ano. Isso ocorreu porque lojas de celulares e de eletrônicos solicitaram certos modelos à indústria e não foram atendidas no prazo. Foi o caso da Lojas Cem, que não recebeu todos os lotes de TVs que esperava neste mês.
Essa situação gera um clima de apreensão no mercado e força as grandes redes a se precaverem com os fornecedores.
Para se antecipar a esses possíveis gargalos na produção, neste mês empresas como Panasonic, Semp Toshiba e Philco trouxeram componentes do exterior utilizando aviões para o transporte.
É uma tática rara e cara, mas que reduz à metade o tempo de entrega de uma peça que viria por navio -o prazo chega a até quatro meses. A estratégia dá mais segurança para a fábrica fechar as encomendas já solicitadas.

Mais celulares
No Extra Eletro, por exemplo, foram finalizados 70% dos acordos para entrega de mercadorias no final do ano. É o que eles chamam de "pedido-mãe". "É razoável pensar na expansão dos pedidos em 5%, em média, em relação a 2002", diz Marcelo Bazzali, diretor de gestão de categoria da rede, do grupo Pão de Açúcar.
Na área de eletroportáteis, a Arno registra volume de encomendas semelhante ao de 2002 -ano positivo para o setor. Significa um volume de pedidos 5% superior, em média, ao do ano anterior.
Na Philco há a expectativa de que neste trimestre as vendas fiquem de 10% a 15% acima do volume verificado no ano passado. Uma taxa inferior, no entanto, à esperada por empresas do ramo de celulares -um dos poucos setores que não sentiram o baque da retração no mercado interno.
Tanto que a Oi, operadora de telefonia celular, fechou encomendas, em média, 20% superiores às do ano anterior. Para este ano, Alberto Blanco, diretor da Oi, espera que o número de celulares no país chegue a 44 milhões. Em setembro, eram 40 milhões.
Para chegar a esse número, será preciso que as operadoras coloquem no mercado mais 1,3 milhão de aparelhos por mês até dezembro, ou mais do que o dobro das vendas de um mês normal.
Na Estrela, maior fabricante de brinquedos do país, ainda é necessário fechar o balanço do Dia da Criança antes de concluir novos negócios para o final do ano. "Estamos produzindo com a expectativa de aumento de 10% nas vendas no final de ano", diz Carlos Tilkiam, presidente da Estrela.
Não é aguardada, pelas indústrias, uma nova dose de pedidos das lojas porque neste mês aumentou o ritmo das encomendas. Espera-se basicamente a confirmação dos pedidos.
Analistas alertam que um bom resultado neste Natal deve ocorrer sobre um resultado fraco (o do ano passado). As vendas do comércio em dezembro de 2002 caíram 4,9% em relação a 2001, diz o IBGE. Logo, uma elevação de 5% neste ano, por exemplo, só compensa as perdas do ano passado.


Texto Anterior: Transporte: Ferrovias devem ter socorro de R$ 2,4 bi do BNDES
Próximo Texto: Pedidos em alta não "salvam" o ano
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.