São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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CRÍTICA EXTERNA

Organização diz que investimento direto no Brasil se dá mais pelo tamanho do país que pelo ambiente de negócios

OCDE vê "muito" a fazer para atrair investidor

DA SUCURSAL DO RIO

O secretário-geral da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, bloco de países desenvolvidos), Donald Johnston, disse que os US$ 18 bilhões que o Brasil recebeu em investimentos estrangeiros diretos no ano passado foram muito mais uma conseqüência do tamanho do país do que propriamente de um ambiente favorável para atrair o investimento.
Johnston disse, porém, que o Brasil está no caminho certo, mas que "muito ainda pode ser feito". Segundo ele, com uma melhora no ambiente para receber os investimentos, o país pode ser o principal destino desse dinheiro entre os países em desenvolvimento, superando até a China.
De acordo com a Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), o Brasil recebeu 3% de todo o investimento estrangeiro direto do mundo em 2004. A China, 10%.
Por melhora no ambiente para investimentos, Johnston entende que é preciso, por exemplo, haver mudanças no sistema tributário. Ele criticou o "fardo dos impostos" para as empresas brasileiras.
"Não existe um ambiente hostil no país ao investimento. Mas, com reformas regulatórias e avanços nas PPPs [Parcerias Público Privadas], o país pode receber ainda mais que US$ 18 bilhões, o que já foi substancial."
O setor previdenciário foi outro exemplo citado como problemático. Segundo Johnston, é preciso que a área se sustente para o custeio social e para que não haja pressões orçamentárias. Ele elogiou a política macroeconômica, com destaque para o controle inflacionário e compromisso fiscal, os dois principais pilares que trazem estabilidade aos investidores.
"O Brasil é um país fascinante, mas está numa encruzilhada. Deve se orgulhar do desenvolvimento econômico, mas há desafios. É preciso fazer mais reformas estruturais, para que o país todo possa se beneficiar da globalização."
Já o secretário de Política Econômica da Fazenda, Bernard Appy, afirmou que o mais relevante para o crescimento é a estabilidade macroeconômica. "Num ambiente de instabilidade, as empresas têm uma posição mais defensiva ao investir." Appy listou ainda reformas microeconômicas feitas para melhorar o ambiente de negócios, como a reforma do Judiciário e a Lei de Falências.
Já Michael Klein, vice-presidente do IFC (International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial), disse que há ainda muito o que fazer para melhorar o clima para investimentos no Brasil. Segundo estudo da instituição, o Brasil está apenas na 119ª posição no ranking de 155 países nos quais as empresas encontram maior facilidade para investir. A classificação considera o tempo de abertura de uma empresa, o ambiente jurídico e outros itens.
Appy questionou, porém, o fato de o levantamento atribuir o mesmo peso ao tempo de abertura de firmas e ao arcabouço legal para investir com segurança.
(LUCIANA BRAFMAN E PEDRO SOARES)


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