São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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Selic "carrega o piano da economia", diz Levy

DA SUCURSAL DO RIO

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que a Selic é elevada, oscila muito e "carrega o piano" da economia por ter um alcance reduzido, já que muitas taxas de juros praticadas no país, inclusive pelo próprio governo, não acompanham a evolução da taxa básica fixada mensalmente pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).
"Se a política monetária tem de carregar o piano sozinha, a Selic vai ter de ser alta e mudar [variar] muito", afirmou Levy em seminário no Rio.
Para o secretário, a taxa de juro é um instrumento eficaz para conter a inflação, "mas, se ela afeta uma fração pequena da economia, tem de variar mais para conseguir o mesmo efeito".
Como forma de ampliar a abrangência da Selic, Levy afirmou que é necessário fazer com que outras taxas de juros sigam a mesma tendência da taxa básica, tanto para cima como para baixo.
Ainda que indiretamente, Levy criticou o chamado crédito direcionado, cujos juros são especiais, como os financiamentos à habitação, os empréstimos do BNDES e o crédito consignado em folha de pagamento para aposentados e trabalhadores da iniciativa privada. "Quanto mais ela [a Selic] se refletir em outras taxas, é melhor. É assim que funciona em outros países. Se sobe uma [a Selic], todas as outras sobem junto."
No Brasil, diz Levy, a lógica não é a mesma. "Obviamente elas [as taxas de juro direcionadas] não sobem na mesma proporção e, por isso, você [o Banco Central] tem de fazer uma política monetária mais restritiva, enquanto o pessoal quiser, em algum lugar, até mesmo no setor público, emprestar cada vez mais barato."
Para Levy, falta um "processo de coordenação" para que os juros sigam, sempre, o rumo da Selic. Segundo sua avaliação, se isso ocorrer no futuro, a política monetária terá um alcance maior e os juros serão menores e não oscilarão tanto.
Uma das principais bandeiras do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, é a redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), referência para os empréstimos do banco.
A taxa ficou estável em 9,75% ao ano, em todo o período no qual a Selic subiu, atingindo 19,75% em maio deste ano e mantida neste nível até agosto. Em setembro, a taxa básica sofreu um corte de 0,25 ponto percentual. Em outubro, a queda foi de 0,5 ponto, alcançando 19% ao ano.
Para Levy, a redução da TJLP não teria nenhum efeito sobre as decisões de novos investimentos no país no curto prazo. Seu impacto se daria só sobre os financiamentos que já foram liberados.
O que orienta o investidor, diz, é a perspectiva futura da TJLP. "O investidor está interessado no patamar da TJLP dos próximos cinco anos quando toma um empréstimo, e não no patamar usado hoje", disse Levy.
Na visão do secretário, existem dois outros instrumentos de combate à inflação: uma "projeção fiscal tranqüila e firme", sobretudo em relação ao aumento das despesas do governo -o que está sendo feito, segundo ele-, e a elevação do nível de competição na economia.
De acordo com Levy, a austeridade fiscal do governo federal já resultou na melhora das previsões das instituições financeiras sobre a relação dívida/PIB, que aponta para um nível de 40% no longo prazo. (PS E LB)


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